This is my TOP TEN list everybody !


"Cada um deve fazer uma listinha com 10 escolhidos para dar o cartão vermelho. Pode ser uma pessoa, uma atitude, enfim, tudo aquilo que de alguma forma nos incomoda, se quiser e precisar, dê uma justificativa breve."

Então aqui vai minha lista de cartões vermelhos:

10) Fotos de aniversário, casamento filminho de 1 ano de criança, slides de férias na casa da avó no interior. Finalmente tive minha revanche!!!! Fiz um vídeo de quase 10 minutos no aniverário de 1 ano do meu filho, infelizmente muita gente que não tem nada a ver acabou pagando o pato - hauauhahuaauh

9) Você vai dar um espirro, mas bem na hora que ele está vindo acontece alguma coisa ou algum engraçadinho grita " Atchim!".

8) Piloto de avião quando fala a tripulação. Parece que ser carioca é pré-requisito pra pilotar avião.

7) Flanelinha. Não pago. Tem uns caras de pau que pedem adiantado

6) Valet. Não pago. Se for pra estacionar na rua deixa que eu mesmo faço.

5) Frentistas que veem você chegar no posto de gasolina e desligar o motor ao lado de uma bomba pra só depois a figura dizer que aquela bomba é só para pagamento a prazo, ou que não funciona.

4) Pessoas que dão aquela aceleradinha, de propósito, só para que você não o ultrapasse.

3) Topada de dedo do pé principalmente no inverno

2) Gente que sempre reclama de falta de dinheiro, que passa o ano todo endividada mas não abre mão das compras exageradas no Natal e das malditas frutas secas que invadem os lares de qualquer critão, ou não cristão nesta época do ano.

1) Papai-Noel
Devido a uma confusão que fiz durante mais de 30 anos com datas e personagens eu ia dar cartão vermelho ao dia de Natal porque sempre esperei o Papai Noel pra pega-lo em flagrante e leva-lo até a policia e quem sabe até ganhar uma recompensa. Pra quem vive em um país onde todos sabem a localização exata dos bandidos e nada é feito, achava normal ninguem fazer nada quando um cara invade sua casa com um bando de veados todo dia 25 de dezembro. Minha diversão vinha no sábado de aleluia quando eu vestia Judas de papai-noel e o atirava na rua pra ser malhado e queimado até, sem entender o porque, fui proibido pela minha familia. Então eu dou cartão vermelho pro papai-noel e quero avisa-lo que um dia a justiça será feita e seu reinado de terror irá acabar.

Série O Homem Rubinato

Estava o Juçanir numa pior. Já por fazer 6 meses desempregado, levando calote atrás de calote e já se tornando sócio preferencial de clubes seletos como SPC e Serasa onde já é íntimo e chamado carinhosamente de “Seu Juça” pelas incansáveis atendentes.

Num destes domingos, esta Juça folheando os classificados de emprego quando leu: “Procura-se quem conheça Rubinato”.

Não fazia idéia do que era isso, imaginou ser a destas tecnologias novas que surgem do dia pra noite, mas procurando no google viu que era uma bebida.

Mesmo com tão pouca informação, o desespero gera a audácia, telefonou e marcou uma entrevista. Foi recebido por um senhor muito velho de sotaque italiano que pelo traje e forma de falar demonstrava ser uma pessoa muito importante, praticamente um lorde.

O senhor explicou ter recebido de herança de seu pai, que havia recebido do avô, uma garrafa de Rubinato para ser bebida na noite do dia 31 na virada do século, mas devido a um engano da cozinheira o usara para temperar um pedaço de alcatra e ele estava perdido porque se lembrava apenas, vagamente ainda, que se chamava Rubinato.

O Juça, confesso, pode ser um cara ignorante e até oportunista, mas é ligeiro como o vento. Quando deduziu que esse tal de Rubinato era um vinho italiano, improvisou: “É duma raridade...”.

E se ajeitando na poltrona continuou: “É bem característico, italiano mesmo...tipo assim...da Itália, concentrado no que se propõe, com um caráter de uva bem nítido, muita personalidade, frutado”

Colocou-se a disposição para dar um curso básico sobre Rubinato, começando pelos fundamentos: O vinho no Egito em vinte lições, pagamento adiantado, claro.

Imediatamente foi em uma grande livraria, mas mudou de idéia. Preferia a Internet, gastava menos e dava pra ler no laptop da esposa. Encontrou muito sobre vinhos, nada sobre Rubinato.

Um dia o velho perguntou-lhe de forma tímida se não poderia fazer uma palestra no Rotary. Juça ficou constrangido porque, como sabe, o Rotary não paga nem o passe de metro e “ eu preciso pensar no Rubinato das crianças”.

A fama logo se espalhou. Já era apontado na ruas. “Aquele sardento lá, sabe quem é ? É o rubinólogo. “ Você sabia que o Ricasoli não engarrafa o Rubinato sem passar pelo rubinólogo. Nosso rubinólogo! “Viaja todo ano pra Itália e França com as despesas pagas”.

Se meteu a escrever em algumas revistas e folhetins de vinhos: “Rubinato e Bom senso com ou sem canja de galinha não faz mau a ninguém”.

Fundou uma confraria: Rubinatunos non Sensis.

Um belo dia chegou um convite pra participar de um júri internacional de degustação de vinhos. O pânico tomou seu corpo e seu ser. Pensou em não ir, mas a noticia já tinha vazado e no dia seguinte sua foto já estava em alguns jornais.

“Nosso Rubinólogo pode presidir júri internacional em Bourgogne”

Na saída de casa amigos e vizinhos com a camisa da seleção brasileira cantavam: “Ru-BI-NA-TUUUU ! UUUUU! UI UI UI ! UUUUUUU. E bebe, cheira engole e cai”

Em Bourgogne foi recebido pelo organizador que logo se desculpou por não ter sido possível encontrar uma única garrafa de Rubinato, razão pela qual faria parte do júri.

Aliviado, achou de bom alvitre expor alguma contrariedade: “Conheço bem Bourgogne, no entanto acredito estarem utilizando muita madeira. Farei o possível para não destoar.”

Imitando os outros jurados ao seu lado, pegou a ficha de degustação, cheirou, bebeu, sacudiu as taças, fechou os olhos usando mais um lado que o outro de uma narina, deu suspiros. No começo deu 83 pontos para todos, mas quando um jurado que estava a seu lado abriu um laptop, Juça fez o mesmo com o laptop que sua esposa havia lhe emprestado. Executou um programa de gerar números randômicos que sempre usava pra jogar na mega-sena, era também um dos únicos programas que ele fez na faculdade e deu certo. Os resultados do programa ele passava pra ficha de degustação.

Ao fim do evento recebeu o premio “Jurado com menor desvio padrão”, aquele que teve o menor erro médio quadrático e mais se aproximara das médias finais.

Na volta, foi recebido com festa, recebeu convites para livros, entrevistas em jornais, tv e revistas.

E assim foi Juça pelo mundo sem nunca ter provado um único gole do tal Rubinato e continua ele sempre a escrever sobre Rubinato. Às vezes alegre às vezes triste, dispersivo , conforme lhe vai o espírito.

Eu, o Blog, o Vinho e o Juça

Acho que tudo na vida tem que ter humor e bom senso. Duas faces do mesmo prisma, no meu caso espero fazer uma crítica à ridícula pretensão daqueles que fingem que a degustação é uma ciência exata, se faz pela argumentação sensata, quando argumentos há, ou pela ridicularizarão irônica, quando não há argumentos.

Desde que comecei a fazer os cursos de vinhos da ABS em São Paulo há cerca de 10 anos atrás, sempre achei que a degustação, não é uma ciência exata, aliás, nem sequer é ciência.

Aqueles que como eu tentam escrever constantemente em um blog algo para ser engraçado, mas no fundo tentar criticar posturas duras e afetadas estão sempre ouvindo aquela velha frase , hino nacional da mediocridade, "perde o amigo, mas não perde a piada." Efetivamente prefiro ter amigos que sobrevivem às piadas, mas o corolário desta colocação é que também temos de devolver nosso humor contra nós mesmos para não incorrer em um pecado mortal. Faço isto em vários textos, inclusive em um que causou uma saia justa aqui em casa como quando escrevi sobre uma paixão arrebatadora em uma degustação de Vega-Sicília.

Confirmo que em se tratando de vinho sempre usei minha proverbial ignorância associada a um treinamento analítico de matemático consultor de TI, ou seja, aquele que nada sabe, mas sabe onde estão aqueles que sabem.

Contesto a influência de Parker nos vinhos concentrados, a untuosidade das lágrimas, os enlatados cursos de vinhos feitos em poucas horas com seus aromas de enganação, a função das adegas em restaurantes, as rolhas e outros dogmas.

Aproveito para me divertir com alguns instrutores profissionais de vinho vestindo um colant púrpura de super-herói e tento contribuir para acabar com esta bobagem de achar que se pode somar notas para diferentes aspectos do vinho e obter uma nota conclusiva fora dos circuitos profissionais.

Não leve as degustações a sério demais porque o sentido mais importante na degustação de vinhos não é nem o gosto, nem o olfato, mas a visão, fato que o INRA - Institut National de Recherches Agronomiques comprovou numa pesquisa feita na Faculdade de Enologia de Bordeaux com 57 alunos num intervalo de 15 dias. O mesmo vinho em duas garrafas diferentes sendo uma de Gran Cru Classe e outra de “ Vin de Table”. 50 alunos deram nota baixa para o vinho na garrafa comum e mais alta para o que estava na garrafa de Gran Cru Classe. Apenas 6 reconheceram ser o mesmo vinho.
Mesmo o vinho provado não ter passado por barrica a maioria dos estudantes identificaram a presença de carvalho no Gran Cru, mas não no Vin de Table.
Outra experiência surpreendente provou que a cor influi na percepção de aromas e sabores. Vinho tinto é associado com frutas vermelhas e vinhos brancos com frutas claras ou flores. Quando os vinhos foram servidos em taças pretas, 30% dos alunos se enganaram na identificação e confundiram o branco com o tinto. Servido o mesmo vinho branco duas vezes, mas numa das taças tingido com um corante, os estudantes identificaram no falso tinto os aromas habituais do vinho tinto. Os pesquisadores concluíram que a terminologia associada ao vinho tinto descreve a cor e não os aromas.

Isso mostra que a nossa percepção do vinho é uma construção ou sugestão de nosso cérebro. A primeira mensagem firme recebida, grande vinho, vinho ordinário, cor, através da visão e da informação prevalece sobre as tênues informações do paladar e do nariz.

E é com esta pequena postagem que aproveito para dizer que na próxima semana inauguro a série: “Homem Rubinato” onde meu amigo Juçanir, dividirá conosco seus inventos, eventos e talentos no mundo do vinho. Alguns poderão achá-lo oportunista, espertalhão ou até mesmo um enochato afetado, mas peço que perdoem certas falhas que são tão inerentes a nós humanos e, acredito nos fazem tão interessantes e comuns, divertidos e rabugentos.

Vinho e sexo

Nunca foi surpresa a íntima associação do vinho à sexualidade.

Você já deve ter se perguntado por que as garrafas de vinho não são quadradas, muito mais fáceis de empilhar. A resposta é simples, a garrafa de vinho tem formas arredondadas porque é um símbolo fálico.Tenho certeza que Freud chegou a estudar a relação entre o pênis e o vinho, mas só não publicou porque habituado com a garrafa alemã, cuja forma está mais para um clister, negligenciou a garrafa bordalesa, evidentemente peniana.

Uma garrafa deveria ser áspera para permitir um empunhadura mais segura, entretanto ela é lisa, porque esta textura é mais erótica, fixação masturbatória. A forma de empunhar a garrafa ao servir o vinho, claramente masculina, quando vai ao encontro da taça, na qual a empunhadura é obviamente feminina, é uma simulação do ato sexual.

O complexo de Édipo, explica porque o filho adolescente quando assalta a adega do pai sempre vai escolher o vinho mais caro. Quando na adolescência o filho começa a beber vinho junto com o pai, esta se iniciando a dissolução do edipismo que culminará com a eliminação do instinto homicida.

Todos sabem que a compulsão pelo “ópio da elite” é uma compensação da frustração sexual. Não é coincidência esse interesse todo em vinhos ter surgido justamente quando a AIDS interrompeu o liberalismo sexual dos anos 70. Está claro para mim que o nome da síndrome, SIDA como é conhecida em Portugal, é uma falha de escrita intencional associado à SIDRA, o vinho da maçã, ou seja, o vinho da fruta do pecado original.

Quando o impulso primário de beber vinho sozinho abre espaço para o vinho a dois, o que está ocorrendo é o desenvolvimento do instinto de acasalamento, uma evolução natural da sexualidade.

O tabu primitivo do falo compele os homens a assumirem a liderança e chefia de seus clãs por isto em um jantar, é sempre o homem quem escolhe o vinho e é o primeiro a prová-lo, única manifestação comportamental que viola o “Damas Primeiro” , lei básica da sedução.

Mas quando o macho dispensa a fêmea e começa a tomar os melhores vinhos, apenas na companhia dos amigos do clube de vinho (esses devaneios de identificar aromas animais, frutas, flores são indícios de Fase Oral não resolvida), o que está ocorrendo é o declínio do Instinto de Acasalamento, primeiro passo a caminho da senilidade.

Cheirinho “di” que mesmo?

Uma idéia para ajudar a nós brasileiros que nem sempre temos oportunidade de cheirar blueberries e tantas outras coisas que lemos em rótulos de vinho, revistas e livros por ai.

Menta: Difícil de achar menta por aqui, poucos de nós já sentiram o cheiro de menta “ in natura” . Já pastilhas Valda todo mundo conhece.

Cherry: Cereja todo mundo sabe só que a nossa cereja tem toques mais herbáceos. Cereja americana tem cheiro de tinta de sapato então esquece o Cherry porque não vai ser legal sairmos por ai espalhando que vinho tem cheiro de tinta Nuget de sapato.

Berries: Impossível deixa-las de fora. Blackberries são amoras pretas, Raspberrie é framboesa, BlueBerrie é amora azul ou triste, depende com vai seu humor e Wallaceberry é um artista de cinema mudo que não cheirava e nem sequer falava.

Currant: Groselha, muito difícil de ser encontrada como fruta e nem de longe lembra Groselha Milani, logo, descartamos.

Vanilla é baunilha que é feita da baga de uma orquídea, melhor procurar por ela em saquinho do que correr Mata-Atlantica adentro caçando baga de orquídea.
Plum: Ao contrario do que você pode pensar isso é ameixa. Preta, amarela, vermelha? Não faço idéia.

Musc é a secreção salivar do almiscareiro, um cervo asiático, muito utilizado em perfumaria. Temos aqui a alternativa de sugerir cheirar um vidrinho de almíscar, já que cá esse veado asiático não dá, ou baba de veado brasileiro, que cá como lá, sempre dá.

Toasted Oak: Nada a ver com o carvalho brasileiro. Queimar então...nem pensar porque o Ibama coloca em cãna. Toated Oak é mais parecido com torrada de pão com manteiga. Se sua esposa é igual a minha se prepare para briga, pois a minha não permite passar manteiga no pão antes de levá-lo a torradeira, já que pega fogo e faz uma sujeira desgraçada.

O aroma de fundo de copo seco de vinhos com carvalho é marmelada cascão, embrulhada em papel celofane. E o celofane não é marmelada!

Sauternes é pura fruta-do-conde, que por ser muito perecível é encontrada apenas nas palavras-cruzadas, mesmo assim sob o pseudônimo de um monossílabo muito oportuno, ata, que terá que ser substituída por jaca. Jaca dura para Sauternes, Jaca mole para Grands Crus.

Gewurztraminer, como sabemos, é puro cupuaçu, fruta que temos que evitar porque só pode ser encontrada em sorveterias do Sarney lá no Maranhão, que tirando Brasília, é como se fosse outro pais, ou na Praça da Sé que é território conflagrado. Mamão que a gente encontra mais fácil até serviria, mas tem que estar passada, quase podre pra ficar enjoadinho como o cupuaçu e a Vigilância Sanitária não vai deixar. Assim, melhor mesmo é associar o aroma lacteo do Gewurztraminer alsaciano com o sovaco de porta-bandeira de escola de samba no final do desfile. E este suvaco é uma mera sutileza minha porque sendo este blog familiar, não me é permitido procurá-lo em outras latitudes da sambista.

O Brasil está começando a fazer uma presença constante no cenário internacional de vinho e seria interessante para nossos produtores possuir uma escala tropical de aromas, uma imagem tipicamente brasileira que, igual ao Zé Carioca, abriria um nicho de mercado para nossos vinhos.

Já imagino os americanos loucos pra tomar vinho brasileiro com toques de araçá, enlaces de pitanga, retro-gosto de jabuticaba. E o nosso Chardonnay? Seria praticamente um turbante da Carmem Miranda.

A adega mais antiga da familia

Depois do almoço do meu terceiro dia dos pais, sozinho ao pé de uma jaboticabeira, acabei por lembrar de um episodio na casa de uma tia, Josefa, 83 anos. Enquanto passava um café, ela contava suas últimas novidades. Cresci ouvindo sua voz e me lembro até hoje de suas histórias. Diferentemente dos demais, ela nunca tinha conversado comigo sobre vinho. Percebi quando ela mudou o tom de voz. Ficou em silêncio por alguns segundos antes de prosseguir. “Você poderia ver os meus vinhos?”, questionou- me. Assenti com a cabeça. Ela saiu e voltou com uma chave. Enorme e enferrujada. Abriu um armário com motivos rococó no canto da sala. Estiquei o pescoço. Dezenas de garrafas “em pé”. O estado da maioria dos rótulos denunciava a idade avançada. Senti calafrio ao ver, de relance, um exemplar do vinho alemão da garrafa azul. Ela me olhou, ansiosa para ouvir meus comentários...

“Nenhum vinho presta, tia. Todos estão bons apenas para temperar uma salada de folhas verdes. Viraram vinagre”, vaticinei friamente. “Pensei que vinho fosse como ouro, melhorasse com o tempo”, respondeu aquela velhinha que parecia sair de um conto de fadas. Voz triste. “Esse aqui, eu ganhei do seus pais”, disse-me com o dedo indicador apontando um vinho mais ao fundo. E com os olhos no passado. “Esse aqui é de 1959”, mostrou- me uma garrafa de espumante Cinzano. “Método Charmat” estampado no rótulo. Percebi que o tesouro de minha tia não era a adega – que ela pretendia colocar no testamento até aquele momento –, mas as histórias guardadas naquelas garrafas. A tia Josefa ou Vó Zefa como meu filho a chama, revelou-se a personificação do verdadeiro espírito do vinho: simbolizar histórias com alma.

Histórias com vida.

Amigos e vinhos, mulheres à parte



O filme Sideways – entre umas e outras, estrelado por Paul Giamatti e Thomas Haden Church me parece que foi um dos primeiros filmes que tem o vinho como um dos principais elementos e fez um enorme sucesso, ao meu ver, principalmente porque foi lançado no inicio dessa febre toda sobre vinhos. No cinema a história realmente "não me pegou" e nem tentei assisti-lo novamente mesmo o DVD custando R$9,99 nas Americanas. No entanto fiquei supreso com o livro que deu origem a ele: Amigos e vinhos, mulheres à parte, do escritor americano Rex Pickett que acabei por ler nesta última semana.

De leitura fácil e um ritmo interessante que me fez entender porque acabou indo para o cinema. Nele, Miles vê essa sua viagem pelo Vale do Napa com seu amigo Jack – até pouco tempo um solteirão incorrigível – não só como uma despedida de solteiro, mas também como o fim da relação de amizade que eles mantiveram por tantos anos, pois são amigos desde os tempos da faculdade. Após o casamento, Jack terá outros afazeres, assumirá responsabilidades, e terá de se afastar dos amigos, se quiser ter sucesso na vida de casado. É o que pensa Miles.

Jack vê a viagem com outros olhos. Para ele, aquela é a sua última chance de conquistar mulheres e aproveitar seus últimos dias sem aliança na mão esquerda. Além de ser uma ótima chance para ajudar o amigo a conseguir uma garota, coisa que Miles não consegue há tempos.

A vontade do “escritor frustrado” é deixar as mulheres à parte. Mas nem bem chegam em Santa Inez e Jack já inicia sua “caçada”.

Ele fica encantado ao ver Maya, garçonete do restaurante que Miles freqüenta quando visita Santa Inez. Ela é uma linda mulher (morena, no livro; loura, no filme), inteligente, divertida, e que entende muito de vinhos. Jack tenta aproximar mais ainda seu amigo da bela garçonete, pois Miles nunca passou do “oi, tudo bem?” e algumas palavras trocadas, sem maiores intenções.

Mas Miles ainda não se recuperou do divórcio com Victoria, mulher com quem foi casado por oito anos e de quem se separou há dois. O que ele menos quer no momento é se envolver com alguém. Suas preocupações são outras: seu livro se encontra nas mãos de uma pequena e respeitada editora, podendo ser aprovado e publicado. E ainda tem em mente a esperança de reconquistar sua ex-esposa.

Ou seja: temos um homem em frangalhos, mas com uma réstia de esperança. Deprimido com o fracasso do casamento – mas ainda pensando em retomá-lo; com a recusa das editoras por seu livro – mas aguardando a resposta de mais uma editora; e quase que ansioso pela morte da mãe, para que possa finalmente herdar o dinheiro deixado por seu pai, e assim se livrar das dívidas.

Apesar disso tudo, Miles tem um bom senso de humor, e o livro não é piegas ou melancólico por conta de suas muitas tiradas cômicas e/ou irônicas. Existem momentos no livro que realmente me fizeram rir a ponto de párar a leitura.

Nem quando as coisas pioram – durante a estadia em Santa Inez, Miles fica sabendo que Victoria casou-se novamente e que seu livro fora recusado mais uma vez – ele perde o bom humor, mesmo sendo ácido e agudamente irônico.

Enquanto isso, Jack se envolve em muitas confusões por causa de mulheres, e vai acumulando uma série de contusões, todas elas se tornam hilárias aos olhos de Miles. Jack pensa até em adiar o casamento, pois conhece Terra (Stephanie; morena no filme, loura no livro), uma sensual garçonete que, segundo ele, transa como ninguém.

O romance de Rex Pickett, cômico e dramático ao mesmo tempo, conta a história de dois homens, suas dúvidas, suas convicções, seus sonhos e seus destinos, que provam que nunca é tarde para amadurecer. Além de ter o vinho como tema constante da narrativa, e responsáveis pelos momentos de maior inspiração do escritor (não sei se embalado por eles ou não).

“O vinho tinha três atos distintos, como qualquer história bem escrita. O primeiro ato revelou uma fruta acre, quase perfumada, diferente de qualquer Pinot Noir que eu já tivesse provado. Então, mais ou menos no meio, pude detectar trufas pretas e pétalas de rosa, harmonizadas, coisa quase impraticável. E depois, no terceiro ato, ele continuava chamando carinhosamente enquanto descia, como voz ecoando plangente por um túnel, e nós lamentando sua ausência.” (págs. 264-265).

Se ainda não assistiu ao filme, não perca tempo; leia o livro. Caso já tenha visto o filme prepare-se para se surpreender com o livro.

Salut !!!

Evoluir

O vinho transformou-se nos últimos anos, na bebida da moda. Não é difícil encontrar nos restaurantes a figura do sommelier que sugere, abre a garrafa , oferece a rolha ao cliente e enfim serve o vinho.

Menos difícil ainda é ver os rituais de degustação e cursos de vinhos que se iniciam com um pessoa movimentando a taça em círculos, levantando-a contra a luz, para verificar a cor e enfim, momento de suspense para todos à mesa, sommeliers inclusive, leva-lá ao nariz para, alguns segundos depois com voz grave e cerimoniosa ,declarar em 99,9% das vezes – É...Ta bom!

O sorriso e o brinde eternizam na maioria das vezes esse cerimonial. Isso é bom, acho muito bom mesmo, ainda que poucas pessoas, saibam realmente distinguir se o vinho está “bouchoneé", ou não ou se o vinho simplesmente envelheceu demasiadamente. O que importa, é que o Brasil está evoluindo rapidamente no consumo e na cultura do vinho.

As vinícolas nacionais, apesar de inundarem o mercado com produtos que de vinho só tem o nome declarado na etiqueta, que abusam na adição de açúcar, que usam descaradamente denominações de outros países, estão aprendendo a fazer vinhos que podem ser bebidos.

O Plano Real pode ter tido mil defeitos, não posso julgar, não sou economista, mas teve um mérito: Conseguiu, durante alguns anos, fazer chegar às nossas adegas vinhos importados ótimos e com preços convidativos.

Nós que vinhamos bebendo mal, começamos a descobrir, comparando como eram bons os vinhos franceses, italianos, espanhóis, portugueses, australianos e outros de regiões até então nem sabíamos que produzia vinhos. E obrigou os viticultores nacionais a abandonarem velhos conceitos, originários de um mercado cativo e sem concorrência a se modernizarem.

Hoje, há empresas que faturam alto, produzem muito e lucram bem com vinhos, que se comparados aos do início da década de 90 ,parecem Petrus. Mas estes vinhos, se comparados aos importados, apesar de toda propaganda dos quase “Intocáveis” produtores nacionais, estão em uma médiainferior.

Tenho a impressão que o Rio Grande do Sul não seja exatamente o paraíso das vinhas e novas fronteiras deverão ser encontradas como o Vale do Sao Francisco por exemplo que já está sendo explorado. Mas o conhecimento é sempre relativo ao repertório de cada um :É difícil gostar de Vivaldi de cara, inicia-se com Zezé de Camargo, Tom Jobim, Sinatra, aí começamos a apreciar Vivaldi.

Com o vinho é a mesma coisa, iniciam-se com um líquido, com nome de vinho, tipo Chalise, Piagentini Branco Suave, Canção, Mioranza etc. (como no caso da música, esta iniciação deverá ser breve ou pode se perder definitivamente o paladar e o olfato) passa-se para algum vinho da Miolo, passeia-se pelos vizinhos Argentinos e Chilenos e chega-se ao Chablis, Nuit Saint George, Brunello, Amarone, Tokay, Eric Clapton, Vivaldi, enfim.

Para se conhecer o belo, e preciso conhecer o feio. Para se apreciar um bom vinho, é necessário ter bebido os maus e esses, a gente ainda tem de montão nas prateleiras.

Vale a pena experimentar