Nosso preconceito com o Vinho Brasileiro

Seja franco: Você torce o nariz discretamente quando lhe oferecem uma taça de vinho brasileiro? Passa rapidamente pela prateleira das lojas e dos supermercados onde estão os rótulos nacionais e nem dá uma paradinha para olhar?

Uma vez ou outra compra uma garrafa mas não tira o olho daquele vinho argentino ou chileno mais barato que um amigo, mesmo de gosto duvidoso, indicou? Se você respondeu que sim a qualquer uma dessas questões, não há necessidade de se envergonhar nem de se vangloriar,mas é necessário dizer que você está deixando de descobrir muita coisa interessante e, de quebra, ficando de fora da evolução da indústria vinícola nacional.

Entre as causas do preconceito em relação ao vinho nacional, encontram-se os anos de produtos de qualidade inferior e a nossa necessidade pessoal, como brasileiros, de ser reconhecido como “cidadão do mundo globalizado”, consumindo produtos de outros países.

Na minha ultima visita a avaliação nacional, fiz questão de anotar algumas posições de ícones da nossa viticultura sobre o assunto :

“O brasileiro tem um valor de base de que o importado é sempre melhor. Em muitos casos – e em muitas faixas de preços –, precisamos ser mais bairristas, como fazem os argentinos e os chilenos, e consumirmos o produto nacional” - Jane Pizzato

“Temos que matar um leão de manhã e um tigre de noite para sobreviver neste mercado, temos desafios todos os dias. Você tem que fazer vinho bom e ao mesmo tempo cuidar de sua marca, divulgá-la, reforçá-la” - Fabio Miolo

Nesse sentido, se há um ponto comum entre todos os produtores, é a questão do marketing, independentemente da diferença de volume de producao entre eles. Todos os sobrenomes de famílias, que são nomes de empresas (Salton, Miolo, Valduga, Pizzato, Dal Pizzol etc), e as novas empresas, Dezem (do Paraná), Villa Francioni (de Santa Catarina) e ViniBrasil (em Pernambuco), entre outras, sabem que no país o preconceito com o produto nacional é tão pesado quanto a carga tributária. Contra ele, só as armas do marketing.

Uma tentativa ainda frustrada de fazer o vinho entrar na categoria dos alimentos (como já é realidade em outros países), por conta de seus benefícios comprovados para a saúde. Infelizmente, as autoridades brasileiras ainda não se convenceram de que as pessoas que bebem vinho fino raramente são alcoólatras de mesa.

Outra idéia importante é fazer uma ação conjunta para reforçar a imagem do vinho brasileiro que mais ressonância tem no mercado: o espumante. Consagrado aqui e no exterior, a qualidade dos espumantes brasileiros deixa orgulhosos os produtores e os consumidores, mas ainda falta muito e cabe a nós enófilos, donos de adega ajudarmos nessa tarefa divulgando e apresentando nossos bons vinhos nos eventos que participamos.

“O Brasil tem uma culinária rica e variada, vinda de múltiplas influências, isso facilita muito a harmonização com nossos vinhos tranquilos e com os espumantes” - Jane Pizzato

“Eu costumo dizer que para cada garrafa de 750 ml de vinho, nós pagamos de impostos o equivalente a 320 ml, por conta dos tributos em cascata que incidem tanto sobre os insumos do vinho quanto sobre o produto final” - Fabio Miolo

Ainda tem a luta injusta contra a enxurrada de vinhos estrangeiros de baixa qualidade com preços que nossos vinicultores jamais serao capazes de enfrentar com a carga de impostos que existe hoje. E mesmo que esse fenômeno seja autolimitante – o apreciador de vinhos pode até ser tentado a provar um vinho barato estrangeiro, mas ao perceber que o vinho não é bom, ele não o comprará mais –, em princípio, ele cria uma concorrência que o produto nacional ainda não tem cacife para enfrentar, principalmente ao levar-se em conta a decisão primária tendendo fortemente ao vinho importado.

“Nosso problema não são os vinhos importados que custam mais de 25 reais por garrafa, mas sim os vinhos que custam cinco reais a garrafa. Contra eles temos que fazer divulgação de nosso produto, pois o brasileiro, apesar de preconceituoso, não é trouxa. Ele percebe que esse barato sai caro” - Antonio Salton

“Eu estou otimista, o vinho que fazemos nesta região fria está tendo uma excelente resposta do mercado, isso me faz pensar que estamos no rumo certo, embora eu reconheça que temos algumas dificuldades no caminho” - Joao Paulo Freitas

Em meio a tudo isso tive o prazer de almoçar com o representante de um grande país produtor que faz questão de ter vinhos brasileiros em sua carta é o italiano Vincenzo Venitucci, sócio e da La Rita all’Osteria dei Venitucci, em São Paulo, que, sem nenhum rodeio e comum sorriso no rosto, afirma achar uma cafonice não provar vinhos brasileiros.

“Não entendo por que algumas pessoas são tão pávidas diante de um copo de vinho. Basta pegar, provar e dizer se gostou ou não. No mínimo você vai se divertir”- Vincenzo Venitucci


Cabe a nós e ao mercado seguir o conselho de Vicenzo. Se tiver ainda alguma dúvida sobre nossa qualidade, veja o vídeo abaixo com uma degustação as cegas e tire suas próprias conclusões.

Vinho e Sangue


Nao sou vampiro, essa é uma declaração pessoal, mas conheci um que desmistificou essa lenda e me mostrou como algumas coisas realmente funcionam entre eles.

Em muitos vampiros a descrição de um gosto de sangue é semelhante a beber vinho nosso, mortal como eles diriam. Há um fino bouquet que você, digo ele,acha atraente - que no primeiro gole encantada, onde o nectar desce sobre a língua e aguça o apetite e a experiência sensual ao descobrir a fusão de frutas, especiarias e sabores exóticos.

É algo que precisa ser degustado e saboreado, por vampiros, claro. É preciso um paladar maduro, paladar que evoluiu ao longo de seculos para realmente entender os meandros do que esta sorvendo, no meu caso, um copo de vinho. Então faz sentido que a verdadeira excelência em vinhos seria produzido por criaturas que têm sido ao redor dos séculos, referencia de degustadores em nossa literatura. Os vampiros.

Descobri o vinho da linha “Vampire” quando pesquisava para uma apresentaçao em uma noite do dias das bruxas há mais de uma década atrás para colegas do trabalho. Desde então, sempre que tenho a oportunidade de viajar, eu vasculho as lojas de bebidas, infelizemente apenas nos Estado Unidos, procurando este amado líquido, com toques de ambrosia. É claro que os apelos de embalagem para os meus sentidos nada gótico nao deixam de ser lembranças preciosas, mas não é por isso que eu gostei de beber esse vinho. É um bom vinho americano e de longe o melhor que já provei das terras de Tio Sam, mas – como disse Michael Machat – as safras sao limitadas pois , assim como portos safrados, esses vinicultores são obrigados a fazê-lo de forma perfeita. Talvez o meu paladar nao seja tao antigo assim.

Michael Machat, fundador da linha “Vampire”, revelou-me que em 1985, enquanto ele estava dirigindo através do deserto de Nevada nas horas de escuridão da manhã, encontrou-se com um vampiro quando parou para encher o carro com gasolina e tomar um cafe. Eles escolheram ele, Michael, para apresentar o seu conceito ao mundo dos mortais. Ele tem sido, desde entao, seu escravo.

A primeira produção foi engarrafada na França em 1988. Foi um syrah, feito a partir de uvas de pele escura, do tipo argelino que é utilizado para produzir tintos poderosos, encorpados . As primeiras 500 garrafas foram vendidas para Alice Cooper . As Vinhas que produzem o “Vampire” agora incluem uma grande variedade de vinhos que estão ganhando mercado.

“Vampire” é um vinho real, proveniente de vinhas especiais. As uvas que são usadas para fazer os vinhos são separadas cuidadosamente. Os vinhedos estão localizados em locais secretos na Califórnia e, infelizmente, você tem que ter visão imortal para vê-las, o que nao é o meu caso.

“Vampire” está disponível nas seguintes variedades: merlot, cabernet sauvignon, pinot noir, chardonnay, pinot grigio e Zinfandel branco. A marca Drácula está disponível e m cortes de syrah, zinfandel e pinot noir e foi o que consegui trazer para o Brasil e apresenta-lo a alguns amigos por intermedio de um cara que me deve favores que incluem em sua maioria, trocar cheques durante o dia . Os vinhos da linha “Drácula” passam mais tempo em barris de carvalho que os outros vinhos da linha “Vampire” e são geralmente mais complexos. O Chateau du Vampire era uma experiência secreta, segundo o proprio Michael, de alguns dos seus enólogos. É uma mistura de três vinhos feitos a partir de três castas de uvas diferentes: Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Malbec. Ela é feita no estilo Bordeaux e tem mais carvalho que os outros vinhos. A linha Trueblood sao vinhos mais complexos de todos os da linha “Vampire” .

"Eu tenho sido preparado pelos Vampiros que eu represento para um dia mostrarr um dos vinhedos para os mortais. Negociações estão em andamento, e esperamos abri-lo aos turistas dentro dos próximos dois anos se o mundo nao acabar em 2012. Estamos pensando em abrir primeiro um vinhedo para os mortais apenas para visitacao e depois, um lugar para os mortais passar a noite e desfrutar da nossa hospitalidade ". diz Michael Machat

Se você é um enófilo com tendencias goticas então pode participar da confraria de vinhos dos vampiros e juntar-se a eles no Demeter, navio que parte a cada quatro meses para Romenia. Antes de paritr “eles” enviam uma seleção de seis garrafas de vinho: geralmente três vinhos da linha “Vampire” e três outros vinhos da família de marcas como - Drácula, Chateau du Vampire e Trueblood. Cada remessa inclui guloseimas especiais, tais como saca-rolhas, chocolates, café ou um livro, sobre vampiros claro.

O fato é que os vinhos sao interessantes, os vinhedos secretamente espalhados pela California e os detalhes de safra e producao algo que deixaria Dan Brown pensando em conspiracoes por pelo menos 2 livros.

Como a maioria dos vinhos americanos, os vinhos da linha “Vampire” nao chegam ao Brasil e se voce quiser encomendar um para experimentar ou por curiosidade...use a internet http://www.vampire.com/


Tem " vinhozinho" doce ? " Tipos de Porto

Dando continuidade a série de vinhos doces, vou apresentar programas especiais sobre um único e apaixonante assunto - Vinho do Porto. No caso do Porto decidi fazer um edicao em video que, ao meu ver, pode ser mais interessante e ilustrativo. Não esta fácil condensar tanta coisa interessante e entrevistas com enólogos em vídeo-posts de no máximo 30 minutos.

Hoje um apanhado geral sobre os diversos tipos de vinho do Porto em uma apresentação bastante rapida mas bastante ilustrativa feita há alguns anos na FenaVinho. Os programas seguintes, serao editados a partir de edicoes do programa Baco da tv portuguesa RTP, dedicados a detalhar melhor os tipos mostrados nesta apresentacao. Por questoes de preferencia pessoal, a maior parte das entrevistas selecionadas e imagens foram feitas na Taylors.

Como introducao ao assunto, é importante destacar que apenas o vinho produzido na Região Demarcada do Douro, respeitando normas de produção e envelhecimento rigorosamente controladas, pode utilizar a denominação "Vinho do Porto".

Durante o seu processo de envelhecimento, o vinho é submetido a provas de controle de qualidade, seja analítica ou sensorial, efetuadas pelos Laboratórios e Câmara de Provadores do Instituto do Vinho do Porto, um dos organismos públicos mais antigos e prestigiados de Portugal. Esta entidade tem como principal missão o controle oficial e a defesa do prestígio do Vinho do Porto bem como a sua promoção em nível mundial. Apenas os vinhos que cumprem os exigentes critérios de qualidade estabelecidos têm o direito de usar o selo de garantia emitido pelo Instituto do Vinho do Porto.

Bom programa e saúde !

Serie Encontros Inusitados: Dracula (Final)

Três casas a direita do Bar Du Vin encontro Dracula de costas para a rua e com seu rosto virado contra a parede de uma garagem. Ele aparentava estar liberando o excesso de vinho que tinha consumido nas últimas horas, porém havia algo peculiar no tom roxo da sua urina...

- Syrah?! Você está urinando puro syrah?

- Tudo menos o álcool, o resto não é absorvido pelo nosso corpo. O sabor deve ser algo equivalente a um suco de uva, apesar de eu não me interessar em provar.

Ele fecha o zíper e esboça uma fisionomia de alívio.

- Me sinto nove garrafas de vinho mais leve.

- Vou te fazer uma pergunta. Porque você não pagou a sua conta no bar?

- Não se preocupe com o bar amigo. O Argentino vai receber o pagamento dele.

- Pipa me contou que você costuma pagar dias mais tarde.

Dracula lança uma leve risada.

- Logo você irá entender.

Caminhamos por umas cinco quadras até uma das ruas próximas ao cemitério do Araça. Nesse meio tempo Dracula, ou Miguel Ark Angelo seu pseudônimo atual, me contou histórias do tempo do Brasil imperial, celebridades que seriam parte da Família e assaltos a bancos de sangue. Enfim paramos em frente a um mausoléu gigante.

- É aqui que eu moro, criança.

O vampiro morava em uma casa antiga de estilo gótico enfeitada por uma complexa rede de alegorias estatuárias na fachada; ela provavelmente ocupava uns três terrenos e era cercada por uma alta grade com pontas adornadas como lanças. O quintal enorme era repleto de arvores que garantiam a privacidade do meu anfitrião com seus hábitos estranhos.

Abrindo a pesada porta de madeira, o interior se revela completamente escuro. Dracula ascende um fósforo e começa a distribuir a chama em diversas velas que parecem indicar o caminho do nosso destino final.

- Me acompanhe, por favor...

No escuro, seus olhos tornaram-se completamente vermelhos cor de sangue. A penumbra parecia torná-lo cada vez menos humano. As paredes eram repletas de quadros de imagens de mulheres nuas, o tema principal parecia ser “bundas”... bundas de todas as formas e tipos.

Subimos um lance de escadas de madeira até chegar a uma sala que terminava em uma espécie de altar.

- Chegamos ao seu destino, criança. – ele sussurra com um sorriso maroto no rosto. – Tem algo que eu preciso de você.

Apesar do frio na minha espinha, eu fiquei completamente imóvel. Ele se dirige até uma urna dourada e agarra um objeto pontiagudo. Apos soltar uma risada, que não deveria significar outra coisa alem de satisfação, ele caminha de volta em minha direção. Eu fecho os olhos em completo desespero e sentia que ele tinha parado metros de mim. Posso ouvir ruídos de algo sendo riscado junto mim. Finalmente escutei sua voz.

- Aqui está amigo...

Eu abro os olhos e agarro o objeto que ele entrega em minhas mãos.

- Um cheque?!

- Sim. Eu preciso que você retire dinheiro e pague a conta de energia aqui de casa, não agüento mais essa escuridão... e como você sabe: não posso sair por ai em horário bancário.

Tem " vinhozinho" doce ? " Colheita Tardia

Continuando com as diversas respostas para a pergunta , já conhecemos o Vin Santo que é na verdade um vinho de colheita tardia, ou , Late Harvest.

Neste caso as uvas não são colhidas no momento pleno da maturação, como de costume em todos os vinhos. São deixadas na parreira várias semanas após a data ideal de colheita, o que ocasiona uma desidratação e o conseqüente aumento da concentração de açúcar. Este processo é originário da Alemanha onde se produzem os vinhos Spätlese e Auslese, sendo hoje utilizado em vários países da Europa e Novo Mundo.

A maioria dos vinhos doces naturais é produzida dessa forma, destacando-se na França os Muscat, (da uva Moscato) como o Muscat de Beaumes de Venise, Muscat de Frontignan, Muscat de Rivesaltes. Na Itália temos os Moscato d'Asti. Outros italianos da minha preferência são os Vin Santo da Toscana e os Malvasia (da uva de mesmo nome) da Sicilia.

Ainda no sul da França encontramos o Banyuls, um vinho doce tinto, produzido de uvas Grenache, tido pelos franceses como o único adequado para acompanhar sobremesas à base de chocolate. Claro, tem o Porto, mas os franceses são assim mesmo.

Eu particularmente gosto dos vinhos de sobremesa menos adocicados. Estes, de um amarelo intenso e brilhante, aroma forte de maracujá, um quê de xarope. Aqui no Brasil temos o Aurora (o qual descobri em críticas que li recentemente que leva sacarose na fabricação, fugindo completamente do conceito de colheita tardia) talvez por isso ainda assim muito doce para meu paladar. Porém o mais importante, para os experts, é o resultado do balanceamento equilibrado entre o teor de acidez e do açúcar da fruta o que aparentemente o colheita tardia da Aurora atende.

Criticas a parte vale a pena conhecer nossos vinhos de sobremesa porque nem sempre temos cerca de R$100,00 ou mais livres para comprar um Vin Santo ou qualquer outro néctar desses quando bem entendermos então o Aurora Colheita Tardia está ai para ser provado, bem como o Salton Intenso, que entre os dois me parece melhor . Ambos na Faixa dos R$25,00 a garrafa de 500ml, ambos vinhos fácies de se degustar e encontrar. Mas se você quiser algo diferente com uma relação custo beneficio interessante destaco o Frances Muscat de Beaumes-de-Venise 2007 e o vinho orgânico da Africa do Sul Avondale Paarl - Rosé 2008 , ambos em torno de R$70,00.

Conclusões do Juça: Sobre Colesterol, Vinho e Sexo

Sobre o Colesterol

No Japão, são consumidos poucos alimentos com gorduras e o índice de ataques cardíacos é menor do que na Inglaterra e nos EUA; em compensação, na França se consome muitas gorduras e vinhos, ainda assim, o índice de ataques cardíacos é menor do que na Inglaterra e nos EUA;

Sobre o Vinho

Na Índia, se bebe pouco vinho tinto e o índice de ataques cardíacos é menor do que na Inglaterra e nos EUA; Em compensação, na Espanha se bebe muito vinho tinto e o índice de ataques cardíacos é menor do que na Inglaterra e nos EUA;

Sobre o Sexo

Na Argélia, se transa muito pouco e o índice de ataques cardíacos é menor do que na Inglaterra e nos EUA; Em compensação, no Brasil se transa muito, vmas muuuiito mesmo, bebe-se muito vinho, come-se muita gordura e o índice de ataques cardíacos é menor do que na Inglaterra e nos EUA;

CONCLUO QUE : Beba , coma e faça sexo sem parar, pois o que mata é falar inglês!

Serie Encontros Inusitados: Dracula (p2)

Vampiros – eu interrompo

Uma leve pausa entre nós permite que eu possa engolir de volta o coração que quase saiu pela boca. Com uma mistura de medo e curiosidade pergunto:

- E como você descobriu que eu sou o neto da minha avó?

- Vocês compartilham do mesmo cheiro, ou como diriam os cientistas: feromônios. As naturezas nos fez eximem caçadores; como a maioria dos bons predadores somos animais noturnos. Entre nossas habilidades está a visão e o olfato extremamente aguçados.

- Então quer dizer que deu uma de lobo mau e comeu vovó.

- Sim, não nesses termos, eu e Maria fomos amantes e ela foi minha refeição esporadicamente por três anos. Filho, eu sei que isso vai soar um pouco estranho, mas sua vovozinha era uma maravilha. Linda, doce... deliciosa em todos os sentidos das palavra.

- Então você chupou o pescoço dela também?

O rosto dele parece ter revisitado a cena em que cometia promiscuidades com a falecida.

- Chupei ela em todos os sentidos da palavra.

- Eca!!! Mas se você chupou o sangue dela, porque ninguém nunca achou as marcas no pescoço?

- Hahaha. Aquela cena romantizada no cinema já não existe faz séculos. Hoje, para manter a discrição, a gente escolhe morder em um lugar muito mais escondido: embaixo da dobra do glúteo.

- Eu diria que não é um dos lugares mais agradáveis para se fazer uma refeição.

- Correto, garoto! Principalmente quando você tem um nariz bom como o meu. Na realidade, eu já estou praticamente acostumado, diria até que adiciona certo sabor.

Ele toma um cálice inteiro de vinho em um único gole e continua:

- Discrição tornou-se uma qualidade necessária a sobrevivência da minha espécie. Você morde um pescoçinho aqui, uma coxinha ali, uma bundinha lá e uma multidão aparece na porta da tua casa carregando tochas na mão. E uma coisa que eu aprendi em todos estes anos é: ser perseguido por uma multidão com tochas não é divertido. Tipos mais extravagantes como Conde Vlad III...

- Você quer dizer o Drácula?

- Não o próprio, porque esse foi apenas um dos meus nomes, mas sim, teve esse conde e outros tantos que quase causaram a extinção da minha espécie. Ninguém interferia nos nossos assuntos, até aquele flamboyant sair empalando as pessoas no quintal de casa. A maioria de nós foi caçado e queimado durante as cruzadas e a inquisição.

- Queimado?! E a estaca no coração?

- Eficaz, mas não necessariamente eficiente. Você pode matar um vampiro com uma estaca no coração, assim como mataria qualquer outra coisa que tenha um. Mas um tiro no peito seria muito mais simples e rápido (e a bala nem precisa ser de prata). Mas quando digo que a maioria de nós foi queimada estou me referindo a queimaduras solares. Por algum motivo nossa pele não resiste a luz do sol, não há Coopertone que possa proteger-nos. O menor facho de luz pode causar uma cicatriz enorme na pele e uma exposição mais longa pode queimar o corpo inteiro como se fosse papel.

- E água benta? O alho? E a cruz?

- RAH!RAH!RAH!! - blasfema com cara de nojo – Eu faço Tang com água-benta. A única coisa que eu tenho contra ela é que possivelmente foi tocada por dedos repletos de pedofilia. A cruz não causa-nos nenhum dano físico, a não ser que seja jogada na nossa cabeça. Apesar disso, a igreja e a Família são inimigos antigos, portanto é sempre bom evitar qualquer lugar onde haja uma cruz. O alho... bem, o alho pode ser revoltante a qualquer um que tenha um olfato umas 500 vezes melhor do que dos humanos. Na idade media, pessoas nos vilarejos acharam o alho uma maneira eficaz de espantar os vampiros, agora você sabe o por que.

- Mas e os poderes paranormais que supostamente deveriam te defender?

- Poderes?! Hahaha. A gente tem qualidades de um bom caçador: visão, olfato, força, velocidade e nada mais. Nossos olhos exercem uma certa influencia sobre a presa (assim como de alguns outros predadores como a naja por exemplo). Mas nada de sair voando por ai ou virar fumaça e passar por baixo das portas. Você ficaria surpreso em saber que é quase tudo é invenção de Hollywood.

- E virar morcego?

- Essa é a pior de todas as invenções, provavelmente essa comparação vem por possuirmos hábitos alimentares semelhantes. Seria o mesmo que dizer que os vegetarianos podem se transformar em uma vaca. Afinal, meu corpo não é muito diferente do seu. Temos fome, sono, sede, tesão, ficamos embriagados (apesar de precisar dez vezes mais álcool do que vocês para que isso aconteça), ficamos doentes...

- Então se você não se agasalhar antes de sair de casa, pode pegar um resfriado.

- Não esse tipo de doença. Algo como o HIV por exemplo.

- Você está me dizendo que vampiros podem pegar AIDS?

Ele sorri:

- Não, como você está imaginando. Se nos alimentarmos de um portador do vírus da AIDS temos um diarréia por dias (o mesmo com a hepatite). Da ultima vez fiquei uns dois dias sem tirar a bunda da privada. Apesar disso, qualquer outro tipo de comida e bebida não nos faz nada. Elas sequer são digeridas no nosso organismo, se eu comer um Big-mac, possivelmente terei um Big-Mac mastigado no toilet no dia seguinte. Nosso corpo só se alimenta realmente com sangue. Sangue de qualquer tipo, inclusive animal.

Completo meu copo com um pouco mais de vinho. Ark Angelo sinaliza a Pipa para que traga mais uma garrafa.

- Me explica uma coisa então Dracula. Por que a Família continua se alimentando de humanos se seria muito mais fácil se alimentar de gado, porco e frango? Assim como nós.

- Por dois grandes motivos: 1) sangue animal não é nada nutritivo comparado ao sangue humano. Hoje em dia, é trending entre nós se alimentar só de bichos , nós chamamos estes vampiros de Veterinarianos (o que no meu ponto de vista é a coisa mais “gay” que um vampiro possa fazer). Motivo número 2, o sabor. Nada se compara ao sabor do sangue humano e, na minha humilde opinião, principalmente o Brasileiro.

- Os sabores se diferem entre as nacionalidades então?

- Completamente. Japoneses não tem gosto de nada (por isso não existem quase cainitas por aqueles lados). Europeus foram nossa fonte de alimentação por milênios, já estamos todos um pouco enjoados. Chineses são extremamente salgados (possivelmente por causa de todo molho de soja que eles consomem). Americanos tem muita gordura, meu colesterol já anda nas alturas. Já os Brasileiros tem um sabor exótico: o sangue quente, sabor profundo, “temperado” e levemente doce. Nada se compara ao sangue sugado de uma bundinha da mulher Brasileira. As mulheres então...

Enquanto falava, eu conseguia perceber um aumento na salivação de Ark Angelo, ou Dracula.
Seus caninos pareciam se excitar com o tema da nossa conversa. Ele continua empolgado:

- Mulheres tem o sabor muito melhor que o dos homem. Esse é o motivo do qual a grande maioria das vampiras, em algum ponto, se torna lésbica. Sangue masculino é mais amargo, a higiene pessoal deles normalmente deixa à desejar e o excesso de pêlos também não é nada apetitoso. Infelizmente, hoje em dia, temos que abrir mão do paladar para não sermos descobertos.

- Se você anda por ai mordendo a bunda das pessoas por séculos, como nunca foi pego?

- O truque mais antigo do mundo, criança: embebedar muito a vitima... o suficiente para que ela não lembre nada no dia seguinte. Ela vai se sentir fraca e com a bunda um pouco dolorida (talvez encontrar uma marca), mas vai pensar que foi apenas mais uma daquelas noites selvagens.
No fundo, eu tinha que concordar que essa tática já havia funcionado comigo de maneira semelhante no passado. Enquanto viajo pelos meus pensamentos nas possibilidades de existirem vampiros de verdade entre nós, Pipa se aproxima da mesa quase caindo em uns dos desníveis no piso do bar.

- Señores, nosotros vamos fechar ahora. Por favor paguem lo que devem a la casa.

Ark Angelo termina o conteúdo da sua taça rapidamente e pede:

- Preciso te pedir um favor enorme. Encontre-me lá fora.

- Você não tem um daqueles criados corcundas para fazer favores para voce?

Ele sorri.

- Não fazemos mais isso. Mesmo escolhendo pessoas de aparência horrenda no passado (para não despertar o apetite) , sempre acabávamos devorando a criadagem nos momentos de fome extrema.

Eu me levanto e caminho em direção ao caixa com certa dificuldade depois de tanto vinho. Quando olho para minhas costas para me despedir do vampiro, ele já teria desaparecido (deixando para trás a conta não paga). Olho para Pipa pressentindo certa revolta, mas, para minha surpresa, o mesmo se encontra completamente calmo:

- Un dia el vá a pagar como sempre faz. –o Argentino levantou os dois ombros em um sinal de desinteresse.

Coloco meu casaco me preparando para encontrar o vampiro do lado de fora do bar. Antes confiro minha imagem no espelho do bar... por um segundo imagino que eu talvez seja uma refeição apetitosa.

(continua na PARTE FINAL...)

Tem " vinhozinho" doce ? " Vinho Santo

Vez por outra é inevitável a pergunta quando alguem chega em casa e me meto a servir vinho: Você não tem um vinho doce ?

Por essas e outras decidi colocar na minha adega alguns vinhos doces e escrever aqui como são feitos e quem são.

Se o vinho e doce pode apostar que seu Téor alcoólico e alto, portanto, va devagar e use-o principalmente como aperitivo ou acompanhamento de sobremesas.

O vinho pode ser doce por diversos processos, mas não confunda vinho fino doce com vinho doce de garrafão ou de mesa como sao conhecidos. Nem todas as uvas produzem vinhos doces e por isso as vinícolas usam o dióxido de enxofre de maneira exagerada para poder dar um certo “ poder” de guarda alem de abusarem do álcool para ajudar no "docinho". Muitas pessoas evitam tomar vinho, mesmo de forma moderada, devido “às fortes dores de cabeça” que este causa, contudo o principal culpado e dióxido de enxofre. Se for aplicado no mosto ou em vinhos de forma desmesurada, este produto, poderá mesmo causar esta desagradável sensação, portanto cuidado com os vinhos doces, principalmente de garrafão.

Diferentemente vinhos doces produzidos de maneira correta e com as uvas corretas lhe proporcionarão ótimos momentos. E o caso do vinho do porto,espumantes feitos de moscatel, etc.
Hoje quero começar por um dos meus vinhos doces preferidos: o italiano Vin Santo.

Vinho típico da Páscoa, o Vin Santo - ou ainda Vino Santo - é, por este e por outros motivos, uma bebida sagrada da Itália. Produzido essencialmente na região da Toscana , mas também em Umbria, Trentino-Alto Adige e Veneto, é um vinho de produção quase artesanal, que leva em sua "formulação" principalmente as uvas Trebbiano e Malvasia, além de outros tipos que variam conforme o local onde é feito, o que também influi nas características locais de cada vin santo.

Dourado e licoroso, o vin santo pode ser dividido em três tipos: dolce (doce), amabile (meio-doce) e secco (seco). Essas variações dependem do tempo que a bebida permanece em "descanso". É o processo de produção do vin santo, aliás, que o torna tão especial. Feito com uvas colhidas no auge da maturação (por volta de setembro) - quando a concentração de açúcar pode chegar a até 60% - elas são depois curtidas até ficarem com aparência de uvas passas. Dali vão para a prensagem, uma espera que pode variar de três a quatro meses. O mosto,ou sumo, resultante das uvas prensadas é colocado em barris de carvalho ou nogueira, hermeticamente fechados, guardados em adegas no sótão de cantinas, onde permanecem de dois a seis anos, tempo suficiente para que sua cor, sabor e aroma desabrochem.

Dentre os maiores expoentes da bebida estão :

Avignonesi Toscana Vin Santo com aroma de amêndoas, toffee ligeiramente torrado e frutas secas. Na boca, seu sabor permanece por minutos.

Fattoria di Felsina ,Vin Santo Del Chianti Classico Berardenga. É uma bebida límpida, sutil e ao mesmo tempo complexa e encorpada. Tem características de frutas doces e maduras e com aromas florais, de mel e caramelo.

Riserva feito de uvas San Colombano e Trebianno, de acidez moderada. Na boca, tem sabor de nozes e caramelo.

Com teor alcoólico variando entre 14 e 17 graus, o vin santo deve ser servido a 12ºC. A versão seca da bebida é melhor sorvida como aperitivo, mas as demais são geralmente servidas como vinho de sobremesa, sendo uma boa opção como acompanhamento para chocolates ou outras sobremesas clássicas italianas da época,como a Zuppa Lucchese e Buccelato. Na Toscana, o vin santo também é oferecido como sinal de gentileza, amizade e boas-vindas acompanhado de Cantucci, biscoitos crocantes de amêndoas, alegremente mergulhados na bebida. Experimente,você vai entender, pode apostar.

Um dos mais fáceis de achar ‘e o Vin Santo da vinícola ANTINORI, uma vinícola referencia na Italia e no mundo pela sua qualidade. A garrafa gira em torno de R$100,00.

AH! Não posso esquecer, claro. Qual a origem desse nome ?

Dizem que em 1348, em Siena, na Toscana, Itália, um frade franciscano tratava as vítimas de uma praga com o vinho normalmente usado para celebrar missas. Logo acharam que o vinho tinha propriedades milagrosas. Uma segunda versão vem de Florença, capital da Toscana, e data de 1539: num concílio realizado na cidade, o patriarca grego Basilius Bessarion, ao provar um vinho comentou: “Esse é um vinho de Xantos”, provavelmente aludindo aos vinhos gregos doces feitos com uvas passas (secas ao sol) na ilha de Santorini. Quem estava ao lado, ouviu mal e “Xantos” , que em grego significa amarelo, geralmente a cor desse estilo de vinho, imediatamente virou “Santo”.

De qualquer modo, Vin Santo é o histórico vinho doce da Toscana. E apesar das lendas envoltas em milagres, nunca foi um “vinho de missa”ou " vinho de mesa".

Serie Encontros Inusitados: Dracula (p1)

Por que essas inspirações aparecem em momentos como esse: Uma perda, uma derrota, algo que não funcionou como devia. Sorrateiramente ela vem pela noite, como um vampiro.

O frio e uma leve chuva parecem que criam um ambiente meio mágico quando coincidem com seu estado de espírito. Caminhando por São Paulo, quase meia noite, a cidade é tomada por uma aura de profundo silêncio que parece criar uma acústica especial pelas ruas. Somente em noites assim, você consegue ouvir os sons naturais da cidade. A chuva correndo pelas calhas, o jornal carregado pelo vento, alem do som dos meus próprios passos ecoando entre os prédios como se eu estivesse usando ferraduras nos pés. Posso ouvir o mendigo urinando na outra esquina como se alguém tivesse esquecido uma torneira aberta e, mesmo de certa distancia, consigo visualizar o vapor da urina levantando contra o muro. Segundos depois, ele geme e treme, o que normalmente sinaliza o micro-orgasmo que nós homens temos com o alívio da bexiga. O vento correndo pelas ruas parece uivar as palavras “você deveria estar embaixo do edredom, otário”. Certamente não estou, e nem estarei por um longo tempo. Após uma longa e estressante reunião de alguns minutos que martelaria pela minha cabeça o dia todo, eu era um homem com uma missão: tomar as três taças de vinho e um charuto que me levariam ao torpor de um sono profundo e repleto de sonhos felizes.

E logo ali estava ele: Bar Du Vin. Um bistrô e uma pequena casa de vinhos próxima a Avenida Paulista. Seu proprietário se chama Pipa, um Argentino de aproximadamente 60 anos de longos cabelos brancos, bigode amarelado pelo Malboro mau cheiroso que insiste em fumar e feições de roedor. Em uma das “todas as noites” que ele enche a cara atrás do balcão, me contou que teria dado o nome do seu estabelecimento inspirado no dia em que ele encontrou sua esposa em um ritual de masturbacíon com uma garrafa de cabernet.

O lugar estava vazio, como é o normal de uma quinta-feira chuvosa. A única exceção era um senhor de trajes estranhos sentado sozinho em uma das mesas do fundo casa.

- Hola Pipa!!! Como estão os negócios hoje?

Ele já se encontrava no seu estado mais comum: dentes roxos, cambaleando e limpando o mesmo pedaço do balcão por uma hora. Depois de tanto vinho ele se comunica em um idioma próprio, uma espécie de portunhol com ênfase no “nhol”

- No hay casi nadie. Solamente aquel loco allá – ele aponta com o polegar em direção a seu único cliente. Curiosamente, ele confere se a figura sinistra sentada no fundo nos observava, então se inclina contra o balcão, e sinaliza um numero para mim usando ambas as mãos.

- Oito?! Oito taças?

- No, botellas! – ele susurra - Garrafas hombre!

Eu já tinha visto Pipa cobrar uma ou duas taças a mais de vinho para algum cliente que tinha tomado umas a mais. Então não achei o inflado número nada estranho, porém algo exagerado.

- Hoje ele llego a las ocho y toma sin parar. La otra vez que el esteve aqui, tomo seis garrafas y salio sin pagar. Piense en chamar la policia, pero decidi no fazer. Un día despues, encontre un envelope que botaran abajo da puerta con setecientos
reais adientro. Perguntei para el si fuerá ele y me dijo que sim.

O relógio marcava uma e meia da manhã. Eu pedi uma taça do meu Malbec de sempre, o Achaval Ferrer Finca Mirador, e um martelinho de vinho do porto Ramos Pinto (para assegurar que o efeito seria instantâneo). Tomei os dois em praticamente duas viradas, o porto primeiro e a taça depois quando, repentinamente, uma voz grossa e macabra parece vir da mesa de trás. Eu lentamente viro minha cabeça para conferir.
- “I see a red door and I want it painted black …No colors anymore, I want them to turn black” – sem mover um músculo a figura sombria continua cantando com o rosto escondido pelo chapéu (uma espécie de cartola) – “I see the girls walk by dressed in their summer clothes. I have to turn my head until my darkness goes…”

Prefiro Eric Clapton, B.B King, mas definitivamente aquilo era Stones. Ele termina a ultima frase com uma gargalhada de gelar a alma. Finalmente levanta a cabeça e me olha com olhos que toavam vermelhos de tanto vinho. Embora estivesse usando roupas antigas, que davam ares de terem sido roubadas de um apresentador de circo do século passado, seu rosto era jovial. Provavelmente com seus trinta e poucos anos. Lançando um olhar firme que parecia penetrar-me, ele disse para minha total surpresa:

- Teixeira... mundo pequeno esse, não?! A propósito, desculpe meu gosto pelo Stones, não lembrei nada de Clapton ou BB King para o momento. Gosto de, Paint in Black... uma das minhas favoritas. – ele toma lentamente mais um gole de vinho tinto - Estou feliz em ver você aqui.

- Teixeira é o sobrenome da família da minha mãe que não uso...

- Foi exatamente o que eu imaginei...

Apesar de falar um perfeito português, meu novo amigo tinha um sotaque forte, quase impossível de reconhecer..

- Espere um segundo, Sr. Chapeleiro Maluco! Como você sabe o sobrenome de solteira da família da minha mae?

- Hahahaha. Digamos que eu conheci algumas mulheres dessa família, a sua avó... muito bem por sinal – responde com uma certa malícia. – Por que você não senta e me acompanha nesta garrafa de syrah enquanto eu te conto uma história?

A ausência de uma melhor companhia somada com a possibilidade de uma taça gratuita de vinho me convenceu a sentar com a figura misteriosa. Ele pausa por alguns segundos para outro gole de vinho, então me olha com um meio sorriso na boca.

- E se eu disser que eu e a sua querida vovozinha fomos amantes?

- Eu diria que você tem um estômago de titânio e, além disso, é um tremendo escroto por comer a velha. Considerando que minha avó faleceu já faz uns bons anos e nem a conheci, não creio que o caso de vocês seja possível. Ao menos que ela tivesse uma certa tendencia por pedofilia.

- E se eu te disser que sua avo era uma virgem quando isso aconteceu?
Neste ponto, o rumo ridículo que a história estava tomando começou a me irritar. Simultaneamente, a imagem mental da minha avó com um cara desses me causava certa náusea.

- O que? A pedra que você fumou devia ser ótima. Eu acho que vou retornar ao balcão, boa noite. A propósito, se você quiser tentar sua sorte com as mulheres mais uma vez tem um lar de idosos duas quadras daqui...

- Espere! – a voz dele parece ganhar um timbre quase animal. Ele agarrou meu braço com a força de um gorila. – Sente-se novamente, caro amigo. Eu não terminei.
Um pavor irracional parece dominar meu corpo e uma estranha sensação de submissão toma conta de mim.

- Se existe algum pedófilo nessa sala, você pode ter certeza que esse sou eu. Afinal, eu já devia ter uns quatrocentos anos quando a “consumi”.

- Você não está querendo dizer que tem quase quinhentos anos?!

- Quatrocentos e oitenta e sete em Outubro para ser mais exato.

Um sorriso diferente começa a brotar da sua face pálida, transformando sua fisionomia lentamente em algo que parecia não pertencer a este mundo.

- Deixe eu me apresentar, me chamo Miguel Ark Angelo. Mas o que importa a você nesse momento não é quem eu sou, mas ”o que” eu sou. – ele aproxima seu rosto do meu deixando que nossos narizes quase se tocarem –Os antigos nos chamavam de Cainitas. Entre nós somos conhecidos como a família, mas vocês, a presa, nos chamam de...

- Vampiros – eu interrompo


(continua na PARTE II...)

Vale a pena experimentar