Exercício de Elegância



Não estou falando de preço, marcas. Estou falando de coisas simples como pagar por uma refeição em um restaurante. A elegancia do pagar é discretamente deixar a mesa e liquidar a conta fora da vista de seus companheiros.

Inevitavelmente, há o outro lado da moeda a deselegancia que não sei porque é o que parece estar em moda as vezes. Pessoas que mal conseguem pagar os seus custos mensais de carro insistem em pagar lugares e presentes caros apenas para que os outros pensem que você é bem sucedido (não sei em que).

O vinho tem a sua própria dicotomia de ambos os lados. O elegante e o deselegante. Não só vemos isso todos os dias, mas, conscientemente ou não, todos nós praticamos também. Por exemplo:

Talvez seja uma coisa boba mas o gesto de pagar por uma refeição modesta em um restaurante é totalmente e absolutamente elegante. Quantas vezes você já viu uma mesa de quatro ou seis amigos analisar o quanto cada pessoa deve pagar ? Sem problemas, se for um almoço ou jantar extravagante, mas uma refeição simples?

Eu sei que eu vou parecer chato ou ate mesmo retrógrado em dizer isso, mas porque é que as mulheres tem que dividir a conta? Recentemente, minha esposa teve um almoço com dois amigos que nao viam-se há tempos. Eles foram para um restaurante a preços modestos. Minha mulher trouxe os vinhos com ela, então havia apenas uma carga em termos de conta de bar. Eu estou supondo que o valor total foi de R$150, se muito.

Quando ela voltou para casa, eu perguntei como foi o almoço. Ela disse que foi uma ocasião feliz. A comida e os vinhos eram bons, riram muito. "Por falar nisso," Eu perguntei, "quem pagou o almoço?" "Oh, dividimos" foi a resposta.

Isto, para mim, é deselegante. Eu sei que cada um do três poderia facilmente ter pago a refeição. E que na próxima vez que almoçamos juntos, um ou outro poderia dizer, "Oh, você pagou da última vez. Deixa comigo. "

Mas, aparentemente, não é assim que funciona. Eu não entendo. Por que não fazer um gesto bonito de generosidade, amizade, graça e boas-vindas

Um dos gestos mais bonitos no mundo vinho que está florescendo aqui no Brasil é o uso da garrafa magnum. Equivalente a duas garrafas, a magnum causa impacto.

Garrafas Magnums implicitamente quer dizer o quanto você gosta de um determinado vinho. Magnums fala de certa generosidade. E não menos importante, eles sugerem uma certa quantidade de premeditação. Afinal, você não encontra apenas bons vinhos em magnums. Você realmente tem de se preocupar com um vinho para comprá-lo em uma magnum.

Servir magnums por sí só já é um gesto elegante mas se for cheio de floreios estilísticos e ir à mesa de jantar com a garrafa escondida declarando: "Eu achei que vocês poderiam desfrutar de uma degustação as cegas deste vinho " é deselegante. Ninguem quer degustar vinhos as cegas em um jantar.

Agora, existem como sempre as diferenças culturais envolvidas aqui. Os britânicos que conheço parecem habitualmente servir às cegas na mesa de jantar. Por outro lado nunca vi um italiano, nem do bexiga, fazê-lo,nem fora de Bordeaux é uma prática comum na França. Ambas as culturas sabem que a digestão ocorre mal se acompanhada de humilhação.

Dizem que eu conheço vinho mas não deixo nunca de consultar um sommelier. Isso parece bastante simples e lógico para mim. Digo quanto aproximadamente eu quero gastar em um vinho. E em seguida digo algo como "Nao quero nada muito amadeirado" ou "eu gostaria de tentar algo realmente diferente, mesmo sujeito a erro." Então deixe o sommelier te surpreender.

Um bom sommelier realmente vai voltar à mesa para ver se sua escolha foi acertada. E se eles sentem que não, aposto que vão tentar compensar isso para você de alguma forma, seja trazendo um vinho diferente ou um copo ou dois de um vinho de sobremesa.

A elegancia é simples e verdadeira: Ela pode tornar a vida mais bela, mais graciosa, mais agradável. É um exercício constante que acredito que vale a pena.

Homens e Meninos

As cacas das uvas tintas fornecem os taninos que dao a complexidade aromática, estrutura, textura e aquela sensação de boca cheia e persistência.

Os taninos ditam a idade de um vinho.

No vinho novo eles dao aquela sensação de adstringência reconhecido pelo "travamento da lingua", semelhante quando se come banana verde. Isso porque os taninos ainda nao amansaram e causam essa sensação tátil devido a uma reação química com uma proteína da saliva que anula seu poder lubrificante. Por isso os vinhos que chamamos de novos "amarram" a boca como um caqui ou uma banana verde.

Vinhos jovens sao elaborados com poucos taninos visando um consumo imediato, sem intenção de guarda.

Vinhos velhos sao aqueles em que a evolução dos taninos gerou uma complexidade aromática.

Quando os taninos estão completamente liquidados o vinho esta morto. Podemos afirmar isso quando a cor rubi ficou alaranjado e opaco, sem brilho. Isso acontece porque o tanino age como um preservativo, assegurando a longevidade do vinho e dando tempo para que a polimerizacao dos fenois produza a complexidade que tanto buscamos nos bons vinhos.

Para os amantes do vinho o tanino e alma, para os leigos, o veneno. Quando alguém afirma que o vinho esta amargo, que prefere os brancos ou os doces, a acusação recai sobre o tanino. E como a sensibilidade e algo individual que melhora ou pelo menos atenua-se com tempo, fica difícil estabelecer uma regra geral, mas posso afirmar por experiência própria que pratos a base de carnes atenuam os taninos e massas ou peixes, exacerbam. Mulheres reagem mais ao tanino que os homens e nao me perguntem por que.

Você nao precisa consultar um especialista para avaliar sua percepção com taninos. Aqui vai uma brincadeira pra você fazer em casa com os amigos: Compre quatro garrafas de vinho do mesmo produtor, de cepas com diferentes dotações de taninos, em ordem crescente: Bonarda, Malbec, Syrah e Cabernet Sauvigno. Va provando em sucessivas refeições, cada uma delas com um prato de massa e outro de carne. A harmonia com as massas acontece de melhor forma no Bonarda e decai quando se avança para o Cabernet. Com a carne a curva faz o percurso inverso.

Taninos separam os homens dos menino. Eu também já fui menino e detestava vinhos tanicos. Nada contra o jardim da infância, desde que você nao fique por la a vida toda.

Vendo vinhos caros

Recentemente, fiz algo que raramente costumo fazer quando se trata de vinho: Vendi algumas garrafas da minha adega pessoal. Agora, para alguns bebedores de vinho, a compra e venda de vinho é normal. Um grande número de compradores de vinhos de Bordeaux participaram desta questão no curso dessa semana onde falamos apenas do marketing na área de vinhos.

Mas essa historia de compra e venda de vinho nunca foi o caminho escolhido por mim. Ao longo do tempo que eu carinhosamente e, ocasionalmente, consegui construir uma pequena coleção de vinhos, nunca me ocorreu vende-los. Muito pelo contrário: Sempre me ocorria a idéia de comprar.Vendê-los era impensável. Eu queria dividi-los com meu filho em datas especiais, não apenas uma pequena aventura para atirá-los de lado por uma fantasia nova.

Então por que eu estou agora vendendo vinho? Não é por causa do dinheiro, apesar de que é sempre bom ter um extra. Como todo mundo, eu sempre posso usar a venda para uma pequena mudança na reposição de outros rótulos.

Devo mencionar que os vinhos que vendi estavam entre as safras mais caras da minha adega, raridades que sinceramente eu mal podia dar ao luxo de comprar se fosse hoje, mas eu não consegui resistir. Eles estavam entre os melhores vinhos da minha adega.

Então, por que eu vendi? A resposta está em uma única palavra: surpresa.

Talvez seja um estágio nessa minha relação com o vinho, mas o que agora procuro no vinho, mais do que qualquer outra coisa, é o elemento surpresa. O romancista Henry James captura isso perfeitamente: "Existem dois tipos de gosto, o gosto pelas emoções da surpresa e o gosto pelas emoções do reconhecimento."

Hoje eu me encontro com um gosto quase urgente por emoções da surpresa. Vinhos caros raramente oferecem esse elemento de surpresa para mim.

Eu não estou dizendo que os vinhos caros, não são grandes. Ou que eles não são maravilhosos. Ou que não valem o dinheiro que cobram. Mas raramente causam a sensação real da surpresa. Você tem uma idéia de que vinhos caros são susceptíveis de proporcionar boas sensações. Eles podem ser emocionante? São intensamente agradável? Sem dúvida. Mas você está surpreso? Duvido muito.

Vinhos caros, quase por definição, são conhecidos, ditos, escritos e rescritos. Eles vêm de lugares famosos, famosos vinhedos, produtores famosos. Eles são santificados pela tradição e endossado por gerações de amantes do vinho. Eles repetem a sua grandeza através de muitos vintages. (Estou falando aqui, é claro, de verdadeiros clássicos, ao invés de um ou outro vinho na estratosfera dos preços, de pontos atribuídos por um ou outro crítico de vinho.)

Vinhos caros raramente podem causar surpresa. Mas os vinhos, a preços modestos são infinitamente surpreendentes. Por que isso? Em grande parte porque não temos expectativas sobre esses vinhos. Eles são totalmente novos para nós, ou que oferecem novos níveis de realização por não serem reconhecidos.

Vou te dar um exemplo. Quando eu estava na ABS, provei uma mistura de vinho tinto de Margaret River da Australia. Agora, eu fui para Margaret River e eu sei perfeitamente que é um lugar de grande potencial e cada vez maior realização. Ainda assim, quando eu provei o 2009 Cullen Vineyard Mangan (uma mistura com predominância do Malbec com alguns toques de Petit Verdot e Merlot) eu fui literalmente atropelado

Este vinho não era meramente uma surpresa, foi uma revelação. É um vinho extraordinário.O preço? $ 42 na Austrália. Eu garanto que 42 dólares não é barato. Mas para os padrões atuais de alto preço do vinho, $ 42 está longe de ser escandaloso, especialmente para um vinho de qualidade crescente.

Quem freqüenta minha casa deve saber, no entanto, que os vinhos que estou comprando hoje são muito menos caros do que isso. Por exemplo, eu recentemente peguei um caso de 2008 Domaine de Bruno Dufeu Bourgueil Grande Cuvée Mont, um deslumbrante Loire Valley Cabernet Franc trabalhada a partir de uma vinha de 50 anos de idade. Custo? 15 dólares. Este vinho oferece um elemento de surpresa que os vinhos 10 vezes mais caros não fornecem.

Duas semanas atrás eu comprei uma cava espanhola que surpreende a todos a quem eu servi. Torre Oria Brut é 100 por cento Macabeo, uma variedade de uva branca que eu nunca tinha tido a chance de provar em um vinho espumante. Ele gratifica a todos, mesmo fãs de Champagne com sua profundidade de sabor. Custo? $ 8,50 a garrafa. A surpresa é, como a propaganda de cartão de crédito coloca, nao tem preco.

Obviamente, um preço baixo não é suficiente. A verdadeira surpresa está em encontrar uma qualidade notável, em seguida, olhando para o preço baixo. É claro que nenhuma dessas surpresas acontece com vinhos caros, onde muitas vezes a única surpresa é: "Wow..verdade o que falam" Esta não é a surpresa que você está procurando.

Meu objetivo agora é ter uma adega cheia de surpresas. Ironicamente, o que significa vender alguns dos meus vinhos caros para que eu possa "pagar" o vinho de hoje.

O vinho na sua taca: A lenda do teor alcoolico

Primeiro desculpas pelos quase 1 mes fora do ar e segunda pela falta de acentos mas estou me debatendo com meu ipad. Depois de um pequeno acidente de carro ( na verdade esta mais para um incidente) posso finalmente voltar a minha rotina de escrever, tomar vinhos e curtir uns poucos e bons amigos, mesmo que virtualmente.

Hoje apos um churrasco e algumas garrafas do Crios da Suzana Balba uma conversa acabou gerando uma unanimidade que acredito seja tambem o conceito de muitos (dos 3 ou 4 leitores deste blog) sobre o teor alcoolico dos vinhos. Muita gente relaciona a qualidade do vinho com seu teor alcoolico elevado.

Sim, efetivamente o teor alcoolico pode defiir a qualidade de uma safra, afinal, quanto mais horas de insolacao, mais acucar e, por consewuencia, mais alcool. Mas as safras ruins podem ser chaptalizadas, ist quer dizer, podemos adicionar acucar para aumentar o teor alcoolico, safra boa ou safra ruim, o teor de alcool do vinho nem sempre vai representar sua qualidade.

Sempre tem que ter um "mas", mas...vamos entender o que o processo de chaptalizacao significa ai voce pode formar uma opniao ao inves de simplesmente aceitar ou nao essa interferencia.

O alccol obtido pela chaptalizacao nao prejudica a qualidade do vinho. O problema nao esta na qualidade do alcool, que muiros acreditam poder detectar na boca, mas no desequilibrio. Se o teor de acucar da uva estiver baixo, a acidez estar alta, porque nao aconteceu fotossintese suficiente para permitir a transformacao.

Os vinhos das regioes quentes e ensolarados como o nosso vale so Sao Francisco ou a California, Argentina, Australia e Chile, tem teor alcoolico mais elevado, mas isto nao significa que seja melhores. Pelo contrario, o alcool pode causar problemas. O vinho pode nao ter a concentracao de furtas suficiente para compensar o alcool, deixando o vinho "alcoolico". Esse motivo deixa, por exemplo, uvas como a Pinot Noir, muito dificeis de terem sucesso em paises muito quentes, vindo das regioes frias os melhores exemplares.

Embora o mundo parece preferir vinhos cada vez mais potentes, encorpadas, ou seja alcoolicos e concentrados, a virtude nao esta na forca, mas no equilibrio, no balanco.

Teor alcoolico, acidez, acucar residual e taninos complementam-se mutuamente, de modo que nenhum deles predomine no palato. O equilibrio faz-se uma caracteristica do vinho fortemente relacionada como sabor.

Agora falando direto ao ponto: O vinho que vai na sua taca.

Nao se pode escolher o vinho pelo teor alcoolico elevado. Voce ja deve ter ouvido do Barca Velha e do Romanee-Conti. Esses icones estao em torno de 12,5%.

Vinhos Argentinos e Chilenos co m12,5% podem ser suspeitos de virem de uvas de baixa qualidade (nao permitem a chaptalizacao nessesaises).

O alcool excessivo, acima de 15% pode ser um mau sinal. Existem raras excecoes e provsvelmente vao causar uma sensacao ruim na sua boca.

Em Bordeaux, Rhone e Bourgogne, maiores teores alcoolicos podem sim corresponder a boas safras.

O vinho ideal na minha opniao pode ser um europeu com um pouco mais de alcool, ou um americano com um pouco menos.

Espanha e Portugal estao trilhando este caminho.

Porto...isso eh uma outra historia..

Vinho: Tão sedutor quanto a mulher

Um vinho pode ser sedutor como uma mulher. Pernas aperentes , perfume inebriante e uma relutância intrigante para abrir seu "bouquet” são as qualidades que podem ser atribuídas tanto a uma "femme fatale" quanto a um grande vinho. Para não mencionar que um ou outro (ou ambos) tem sido a ruína de muitos grandes homens.

O vinho, assim como uma linda mulher, é muito mais interessante se voce não apressar as coisas para apreciar todos os seus atributos, prestando atenção e homenageando um por vez ou ambos juntos experimentando harmonizações diferentes. Sempre que você ver alguém rodando o seu vinho, inspecionando os lados em sua taça e metendo o nariz nele, o que você está vendo é nada mais nada menos que o equivalente as preliminares para os amantes do vinho.

Então, sabendo o quão importante essas preliminares são. Vou tentar mostrar os movimentos básicos e essenciais para obter o melhor desempenho a partir da taça de vinho ao seu lado.

O redemoinho ou o ato de “aerar” o vinho
Movimento: Coloque dois dedos na base da taça, um em cada lado do caule e, sem levantar a taça a partir de qualquer superfície, comece a girar em um movimento anti-horário. Você tem que alcançar um movimento que faz com que o vinho se levante e se mostre, lavando as laterais da taça. Você não precisa fazer isso por muito tempo

O ponto: Durante muito tempo pensou-se que o “girar” do vinho na taça encorajava o "abrir" seus aromas, presos até então na garrafa. No entanto, o redemoinho que o “girar “ causa, ao que parece, é pouco eficiente para este objetivo. Um vinho vai abrir melhor com o tempo ou um decantador.

Enquanto o redemoinho da sua taça pode não ajudar muito para mostrar os aromas de um vinho ou outro, isso pode ser eficaz na amplificação do aroma de alguns vinhos aromaticos como o Pinot Noir, Riesling e Viognier (para citar alguns), o “giro” é essencial e, revestindo as laterais da taça, voce pode aproximar mais o vinho do seu nariz e permitir que aromas mais sutis possam ser detectados.


Inspeção das pernas
O movimento: Segure a taça em uma superfície branca e macia, contra a luz, a fim de assistir o vinho descer pelas laterais voltando para dentro de si, deixando trilhas finas que são chamadas de "pernas" ou "lágrimas"

O ponto: Como se vê, as pernas são apenas suposições (Veja uma explicação na coluna do lado esquerdo). Um vinho com "boas pernas" ou "pernas longas" já foi associado a qualidade e também para indicar os níveis de açúcar presente no vinho. Como se constata no entanto, as pernas são apenas um efeito colateral visível da evaporação do álcool - quanto maior o álcool, mais grossa as pernas. Então, eu acho que se você estiver em uma degustação não leve as pernas tão sério mas não deixe de admira-las.


O Cheirar
Movimento: Você pode dizer que a seriedade de uma pessoa ao analisar um vinho esta asssociado ao tempo que o sujeito mantem seu nariz dentro da taça. Para obter todos os benefícios do seu nariz, você pode rodar o seu vinho e inclinar a taça em direção a suas narinas, e assim manter o vinho o mais próximo possível de seu "cheirador". Vá em frente e inspire profundamente e mantenha o vinho longe do seu nariz, quando você exalar.

O ponto: Os mais “elegantes” que só se aventuram em aspirar o ar no topo de sua taça de vinho estão perdendo todos os prazeres proporcionados por uma profunda e boa cheirada. Metade do sabor é o cheiro e às vezes metade do prazer de uma taça de vinho é o seu perfume. O nariz de um vinho pode ser tão essencial para o seu prazer quanto o seu sabor. O olfato é um sentido intensamente pessoal e poderoso em sua capacidade de desencadear memórias - do mesmo modo, em algum momento um aroma do vinho pode ser muito mais revelador sobre seu passado do que o o gosto que ele vai deixar em sua boca.

O que voce faria se fosse dono de uma vinicola ?

Final de mais um evento de vinho e cá estamos eu e alguns confrades heroicamente tomando o restante das 18 garrafas usadas na apresentação quando fatalmente chega aquele momento em alguem pergunta: "Se eu fosse o dono dessa vinícula ,eu poderia fazer algo melhor que isso ?"

Talvez pudéssemos. É sempre tentador olhar para o negócio de outra pessoa e concluir que você sabe mais que eles. Com isso, humildemente, gostaria de apresentar o seguinte: Aqui está o que eu faria se eu fosse dono de uma vinícola.

Eu diria a verdade. Isto pode parecer demasiado simplista. Mas eu estou aqui para testemunhar que é nada menos do que surpreendente ver o número de vezes que uma vinicola ofusca ou distorce sobre as suas práticas na fabricação do vinho ou suas razões para seguir um curso ou estilo particular..

Um bom exemplo é o nível de álcool. Várias vinicolas estão muitos relutantes em fornecer um nível de álcool preciso para cada um dos seus vinhos. Por outro lado muitas vinícolas oferecem tal informações em seus sites. Bravo !!!.

Mas uma enorme quantidade de vinícolas convenientemente arredondam o nível de álcool declarado de seus vinhos, seja no rótulo ou website. Eles alegam que a maioria dos consumidores não se importam (será?).

Dizem que estamos interessados em "equilíbrio" e que o vinho seria julgado injustamente se visto apenas pelo prisma do nível de álcool preciso. Tudo isso pode ser verdade, mas não vamos nos enganar: são suposições deles, não dos consumidores.

Não menos importante, um número desconhecido de produtores, especialmente aqui no Brasil , Chile e na Argentina, convenientemente não mencionam que eles atingiram o nível de álcool "inferior" por adição de água ao mosto de fermentação. "Zainer, nós fazemos vinhos com níveis mais baixos de álcool", um produtor brasileiro me disse isso , convenientemente evitando o fato de que o vinho veio a partir de uvas maduras que teria criado um vinho de teor álcoolico mais elevado se não fosse " ajustado."

O álcool é apenas uma área, no entanto gritante. Vinificação é o processamento de alimentos e muitos produtores têm resistencia em informar o tipo de processamento e os ingredientes usados, temendo que não iremos "entender". Eu chamo isso de "omissão de conveniência" porque não posso usar palavras como chaptalização, adição de água, para dizer que isso é usado para eliminar o execesso de água ou ajustar a acidez. "Onde é que tudo isso vai acabar, Zainer ? Vinho não é um produto qualquer" Reclama mais um produtor que furta o olhar apenas em ouvir meu nome. Minha resposta? Isso vai acabar quando dismiticarmos o vinho e torna-lo mais próximo de nós como um item alimenticio e não um item exclusivo de luxo.

Se eu fosse dono de uma vinicola eu iria aderir a um lema simples "Diga a verdade." Se eu estivesse usando um concentrador de vácuo ou spinning ou micro-oxigenação, eu diria. E se eu tivesse que criar um caso explicando por que fiz isso para deixar o meu vinho melhor, eu iria fazê-lo. Afinal, se eu tenho a vergonha de qualquer uma destas práticas, bem, então, eu não devo usá-las, certo?

Dizer a verdade pode parecer radical, ou até mesmo maluco com pretensões de mudar as regras do jogo. Mas a verdade é que dizer a verdade é a coisa mais rara no mundo do vinho. Um contrasenso se levarmos em conta que um dos lemas do vinho é o famoso ”In Vino Veritas”

Então meu amigo, declare no seu rótulo,na web que seu vinho não é feito com chips de carvalho ou serragem, cones ou concentradores de vácuo ou qualquer outra técnica que voce, como produtor, considera desaconselhável ou impróprios. Você não chaptaliza? Diga.

E se você optar por utilizar uma ou outra dessas técnicas mesmo que você normalmente não use mas que devido a uma safra inferior teve que usar,diga. Este é o "dizer a verdade", que sempre insisto nas apresentações fechadas. A viticultura é a agricultura,antes de tudo. Às vezes você tem que fazer coisas que realmente não quer..

Eu conheço um monte de viticultores que não usa irrigação, mas têm linhas de gotejamento em seus vinhedos (Eles foram instalados originalmente para as videiras jovens.) E você tivesse que irrigar em um ano de seca? Qual o problema ?

Encontrei recentemente um produtor biodinâmico que teve que usar um spray contra mofo persistente, não um spray "aprovado" pela ortodoxia biodinâmica. Era isso ou perder a safra. O que você faria? Eu faria exatamente o que ele fez e diria,como ele disse.

O ponto chave é diferenciar-se daqueles que querem manter uma imagem artesanal, mas não estão dispostos a pagar o seu preço.

Recentemente, tive uma conversa com um dono de vinícola que me perguntou o que eu achava de seu novo rótulo de vinho. Eu disse que o mais importante não era tanto o desenho do pintor famoso ou o ar de modernidade mas o desafio de re-pensar do próprio conceito do "rótulo". Acho que os rótulos dos vinhos modernos devem ser vistos como um portal. A grande maioria dos rótulos de vinhos de hoje não passam de pedaços de papel colados a uma garrafa de vidro, da mesma forma que há 100 anos.

"Rótulo de vinho como portal" revisando a própria finalidade do rótulo. Pense em redesenhá-lo como um convite para o cliente em potencial adquirir cada vez mais informações sobre o que está dentro da garrafaa.

Tente repensar a sua presença nessas novas midias, a partir do seu site para mídia social, reconhecendo que a etiqueta é um portal: Se passar por esse portal, o que nós clientes vamos encontrar?

Uma etiqueta moderna teria que abraçar o que é conhecido como códigos QR, que são como pequenas caixas-pretas. Você aponta seu i-phone ou smartphone na QR ou etiqueta e voilà, você é imediatamente ligado a um site específico para o vinho que você está considerando comprar.

Eu também sempre achei alguns rótulos, incompreensiveis. Desculpem-me os publicitários e estudiosos que se perderam pela internet e cairam aqui, mas por que você vai perder a oportunidade de acertar em cheio o cérebro de um consumidor em potencial? Dito isto, se tudo o que você vai colocar no seu rótulo é bobagem sobre como você é uma vinícola familiar ou como você tem "dias quentes e noites frias", ou alguma banalidade desse tipo, então provavelmente é melhor não oferecer um contra-rótulo e dar a nossa parte em desconto.

Minha amada imortal


Faz um longo tempo desde que eu escrevi para você. E eu sei que não está feliz porque tenho falado muito sobre a Itália e Portugal praticamente todos os meses. Mas acredite em mim, eu nunca parei de pensar em você. É claro, você foi notícia nos últimos tempos e esta passando por uma fase difícil além de todas as suas preocupações sobre os vinhos do Novo Mundo.

Você deve saber que sempre foi meu grande amor. E por favor não se esqueça de todos os ciclos e as muitas conversas, às vezes por meses seguidos. Não há quase nenhuma parte de voce que eu não tenha experimentado.

Então, por que eu corro para a Itália e Portugal? Vou lhe dizer por quê. Você está ficando mal-humorada. O mundo está mudando e você está insistindo que todos os outros estão errados.

Lembre-se sua birra que foi manchete em 2001, através do Ministério da Agricultura francês? "Até há poucos anos, o vinho estava conosco", você disse. "Fomos o centro, o ponto de referência incontornável. Hoje, os bárbaros estão às nossas portas: Austrália, Nova Zelândia, os Estados Unidos, Chile, Argentina, África do Sul"

Claro, o “bárbaro!" era para soar irônico. Mas você não tem que ser Sigmund Freud para saber que, sob a ironia existe um ressentimento fervendo.

Bem,sabemos que não é assim. Você já fez isso a consigo mesma. Veja suas denominações controladas, por exemplo. René Renou, presidente do Institut National des Appellations d'Origine, anunciou um plano para reformular o seu sistema de denominação controlada pela primeira vez desde sua criação em meados dos anos 1930.

Denominações controladas têm proliferado como pulgões em uma rosa. A idéia original era conservadora. Nomes famosos como Chambertin e Champagne estavam sendo usurpados por vinhos com rótulos falsos. Produtores dos originais estavam indo à falência, inundado por falsificações.

Então, agora, a maioria de seus viticultores estão limitados, Não importa se um Borgonha tinto pode legalmente conter Cabernet Sauvignon quando sua antiga tradição era exclusivamente Pinot Noir? Pode apostar que sim.

Como é que você se propõe a consertar essa bagunça? Menos liberdade, menos regulamentação, certo? Errado. Em vez disso você propôs ainda uma outra camada de regulação chamado de Appellation d'Origine Contrôlée d'Excellence, ou AOCE.

Os italianos fizeram isso, por sinal, com a sua designação alardeando o DOCG - Garantita - para diferenciar seus ícones da plebe dos DOC. Tem sido inútil. (Quando foi a última vez que um comprador perguntou: "Desculpe-me, mas é esta garrafa um italiano DOCG?")

Depois, há o Crise financeira que esta te assolando. Em apenas três anos, os preços do vinho Bordeaux caíram pela metade.

Minha querida França, mesmo que envelhecendo ainda permanece bela e disposta a olhar no espelho. Você ainda tem muito o que fazer? Claro que tem e sei que você faz. Não há ninguém como você.

Mas chegou a hora de você acordar de um devaneio de glórias do passado e reconhecer que o que você realmente tem para vender é a qualidade. Não apenas proclamar qualidade "Este é um vinho francês, monsieur" - mas a coisa tem que ser real. O tipo de gloria não proclamado pela regulamentação, mas pelo suor. E coragem.

Lembre-se, você costumava ser a maior comerciante do mundo do vinho. Você inventou Beaujolais Nouveau e tornou-o um evento. Você inventou Champagne e fez o vinho da celebração. Você inventou grandes castelos e o conceito de terroir. Você fez vinho ser fascinante, excitante, provocador. Você, e você sozinha, fez o vinho culturalmente essencial. E você vendeu tudo isso para o mundo, não apenas para si mesmo.

Minha querida França, eu te gosto muito. Você é perfeita.

Agora mude.

Vinho para um coração partido


Qualquer tipo de perda pode ser uma razão tão boa quanto qualquer outra para abrir aquela garrafa de vinho que voce guardava para uma vitoria . Principalmente se a perda refere-se a um amor.

A história está cheia de ex-amantes que revelam um apetite dionisíaco para o vinho como Antônio e Cleópatra para o sexo

Especulando por ai li que depois de terminar seu romance escandaloso com Eloise, Pedro Abelardo, um teólogo do século 11, professor brilhante, quase certamente afundou alguns frascos de hidromel para superar sua castração (reais e psicológicas em seu caso) antes de tomar as Ordens Sagradas - uma resolução bastante comum entre os jovens de coração partido, nos séculos antes da criação da Legião Estrangeira francesa que ofereceu um desvio alternativo para as dores de cotuvelo.

A ligação entre o claustro e a adega está bem estabelecida. Sabemos que os monges, muitas vezes, em vez de meditar sobre o amor perdido enriqueceu espiritualmente o mundo com seus livros e financeiramente a sociedade com a quantidade de vinhas plantadas.

A abadia de Cluny na França era um templo e um centro de produção de vinhos na Borgonha, mais recentemente, as terras pertencentes à di Abbazia Rosazzo em Friuli, Itália fez alguns dos melhores vinhos,, mas é pouco explorado ainda. E, claro, onde estaria o mundo do vinho espumante sem Domsigneurs Ruinart e Perignon de Champagne.

A partir de uma cela monástica, Oscar Wilde, após a sua desgraça pública na Grã-Bretanha e exílio na Europa, terminou a sua vida a base de absinto e sonhos esmagados no Café de Paris. Com sua reputação profissional arruinada e no capítulo final de seu relacionamento tempestuoso com Douglas "Bosie", Wilde procurou refúgio na fada verde:

Após o primeiro copo, você vê as coisas como você gostaria que fossem. Após o segundo, você vê as coisas como elas não são. Finalmente, você vê as coisas como elas realmente são, que é a coisa mais horrível do mundo.

Não uma, mas duas poções se apresentam no coração de Romeu e Julieta condenados no romance no qual deve ser a mais famosa admoestação literária para um porre de mistura de bebidas. Primeiro ela toma um sonífero "parecendo com a morte" - Porto Ruby barato tem o mesmo efeito. Acreditando que sua amante está morta, ele engole veneno real - "conduz uma bebida amarga ... desagradável". Lembro-me de minhas notas de uma degustação de vinhos tintos da Macedônia.

Tristão e Isolda, que sofrem "de um amor que deve transcender a própria vida", bebem de um cálice envenenado, mas equivocadamente absorvem a essência do amor puro, claramente um Viagra concentrado, que só serve para prolongar a agonia dos amantes (e do público) por mais dois atos.

Para um amante do vinho, esta essência do amor puro pode ser incorporada em um Sauternes muito velho ou algum vinho de sobremesa Tokaji, um elixir doce, mas equilibrado pela sua acidez - complexa, mas harmoniosa, ricamente com toques de nozes conferido pela idade, mas ainda com traços de frutas exuberante como a juventude de mel . Outros podem escolher um venerável Borgonha tinto, um Grand Cru 1990 talvez, que desperta tanto cerebero quanto sensualmente, inundando o intelecto e o palato, a combinação perfeita de personalidade .

Contra alguma eventual acusação de tentar incentivar algum leitor a abrir sua melhor garrafa pra afogar as mágoas, vou responder que o vinho é ativamente bom para o coração, seja quebrado ou inteiro. Há muito tempo sabemos que o vinho tinto dilui o sangue, evitando o acúmulo de colesterol que endurece as artérias que pode levar a problemas cardíacos. Agora a pesquisa está mostrando que o resveratrol, presente na pele das uvas de vinho tinto, conserva o corpo como o vinho (e o amor) confundindo a mente. Ele manipula genes para evitar mudanças relacionadas à idade em seu coração, mantendo-o robusto, saudável e, portanto, mais resistente contra as feridas da paixão frustrada.

Mas para fugir de um ponto comum, minha sugestão fica por conta dos vinhos Kosher da Galiléia. Estes são distintamente feito com romãs por isso mesmo mais rico em anti-oxidantes, neutralizando os radicais livres mais do que as uvas. Mas se me permite ir um pouco além da saúde e da ciência, enquanto que as uvas são o símbolo de Baco, a romã é fruto de Afrodite - e quem melhor para pedir um favor quando um coração está partido que a Deusa do amor ?

O lado negro do vinho


Depois de tanto tempo sem publicar no blog, acho que pode ser interessante abordar o que pode ser chamado de “O lado negro do vinho”.

Por exemplo, nos cursos de vinho para iniciantes geralmente é tudo bonito e mágico: Pode apostar! Isso faz sentido, afinal de contas, enfatizando o que poderia ser chamado de "buracos na estrada" seria no mínimo pouco animador, não é?

No entanto, há momentos em que os novatos devem ser informados, por isso vou tentar desmitificar mais esse ponto nesse mundo enogastronomico que cresce a cada dia.Claro, não há tal coisa como uma "verdade", principalmente quando falamos de vinho, mas acredito que algumas afirmações clamam por uma análise mais isenta.

Não olhe para os pontos nas revistas. Olhe para o degustador do vinho.
Se você usar pontuação na decisão de quais vinhos tomar, e eu acho que no começo é até interessante seguir as análises, então é melhor prestar atenção nas particularidades do palato de quem deu essa pontuação. É por isso que revistas como a famosa Wine Spectator sempre especifica o provador. (E é por isso que você deve evitar "painéis de degustação", que são na verdade ferramentas de marketing.) Notas não surgem do nada. Elas vêm de alguém e em um campo onde há um elevado grau de subjetivismo estético como a arte, música e o nosso vinho, é importante considerar quem está fazendo a avaliação.

As degustações em lojas de vinho., por maior e mais rica em rótulos que seja, são tendenciosas,por isso lamento informá-lo que se você investir sua confiança em tais credenciais, não importa qual, então você foi enganado. Muitas vezes as pessoas e lojas que adquirem tais credenciais são na verdade modelo de teste de compradores.

Isenção é a palavra chave aqui. Preste menos a atenção na pontuação e mais no degustador.

Nunca confunda “degustar vinho” com” beber vinho”.
Em seu livro "Os Problemas da Filosofia", Bertrand Russell fez uma famosa distinção entre o que ele chamou de "conhecimento por descrição" e "conhecimento direto". De nossa própria forma, nós os amantes do vinho lidamos com o desafio de que os filósofos chamam de epistemologia da natureza do conhecimento.

Com vinho, na verdade existem três categorias: "conhecimento por descrição" (ler notas de prova de degustações),"conhecimento direto" (o que nos é mostrado em uma degustação), e que poderia ser chamado "conhecimento pela exposição" (o que podemos aprender de verdade bebendo um vinho, de preferência com alimentos e com outros amantes do vinho e amigos ).

Hoje, estas distinções foram embaralhadas. As tão crescentes "Degustações virtuais" tem enganado alguns amantes do vinho fazendo pensar que eles "sabem" de um vinho por causa de notas de outras pessoas que estiveram na degustação seja em blogs, revistas e boletins informativos.

É fácil ver como esse tipo de fingimento do conhecimento é um disparate. O que é muito mais difícil de reconhecer é que, mesmo quando você realmente prova um vinho, seu conhecimento pode ser do tipo mais superficial. Isso acontece com todos e a todo momento, independente da milhagem.

Mas aqui está a questão: Se seu conhecimento de um vinho, uva, terroir ou país em questão é mínima então é comum para a maioria das pessoas olhar para os números do vinho,mas o problema real vem do que poderia ser chamado de "distorção do contexto."

Eu já dei algumas aulas e fiz várias degustações orientadas e estou aqui para testemunhar que eu (e qualquer outro professor e orientador) pode configurar uma série de vinhos que irá convencê-lo, sem um pingo de dúvida, que um vinho é melhor do que o outro. Grandes vinhos são geralmente criaturas de sutileza considerável e podem ser feitas para olhar, digamos, mais enfaticamente os vinhos menos favorecidos.

Aqui está o ponto:. Nunca confiar plenamente no "conhecimento direto", isto é, o que você perceber a partir de uma amostra em uma degustação. É algo que vale a pena, com certeza. Vá sempre ao maior número de degustações que puder, mas na maioria, é apenas um guia para o que você deve investigar mais e melhor, com calma, para alcançar o "conhecimento pela exposição."

Degustação de vinhos podem ser, e são, normalmente enganosas. Você acha que adquiriu profundidade só por causa da quantidade. Mas muitas vezes, o resultado é uma distorção. Isso acontece mesmo com os melhores degustadores profissionais, pessoas que são usadas para a degustação de vinhos em quantidade substancial e são treinadas a compensar tal distorção, lutam conscientemente contra esse efeito.

Como diria um monge mestre tibetano (em um filme do Bruce Lee que passou na Record antes da Sala Especial ;) ): "Eu não temo os 10.000 golpes que tive usar uma única vez; temo o golpe que tive que praticar 10.000 vezes antes de usa-lo."

Enofobia a italiana


Num primeiro momento parecia quase chocante. Eu estava conversando com um colega que é escritor de vinho de verdade, não um blogueiro qualquer como eu. De alguma forma a conversa se voltou para os vinhos italianos. Então ele disse algo que me congelou. "Eu tenho medo de vinhos italianos", confessou. "Não é que eu não goste de vinhos italianos", disse ele. "É que eles são tão complicados. Quando eu comecei a estudar sobre vinho, todo mundo me disse o quanto é difícil Borgonha, como dominar a região de Borgonha poderia ser a obra de uma vida mas eu vou te dizer uma coisa:.. A Borgonha é uma brisa em relação aos italianos . Borgonha é ordem, hierarquia.


"Os vinhos italianos parecem caóticos", continuou ele. "Eu odeio quando chega para mim a carta de vinhos em um restaurante italiano. Eu deveria saber todas essas coisas sobre o vinho, mas se é uma extensa lista de vinhos italianos, estou perdido. Olha, acabo pedindo algo como um Barolo, e todo mundo acha que eu sou um gênio. Mas, realmente, eu estou pedindo as cegas. É por isso que eu tenho medo de vinhos italianos. "


No começo eu fui surpreendido por essa confissão. Afinal, os escritores de vinho tendem a não dizer a seus colegas (principlamente blogueiros) sobre suas inadequações profissionais. Na verdade, eu percebi que estava segurando a minha respiração de tão impressionado que estava por esta admissão que foi dificil esconder. Mas então entendi o que ele quis dizer e que aquela conversa toda não era meramente uma confissão pessoal mas apenas estava compartilhando a insegurança que são comuns a quase todos nós . E quando eu digo "quase todos nós", eu me incluo mais enfaticamente.


Agora, eu não vou dizer aqui ou em qualquer outro lugar que eu não sei sobre vinhos italianos. Eu os conheço e muito bem, se assim posso dizer. Eu “bebi” um livro sobre vinhos italianos. Eu tenho apresentado mais palestras sobre vinhos italianos esse ano que em qualquer outro ano. E a minha adega esta bem recheada, realmente, com vinhos italianos. Enfim, eu não tenho medo.


Dito isto, deixe-me dizer o que aconteceu comigo algumas semanas atrás, durante o jantar depois de uma degustação na ABS. Fomos a uma pizzaria famoso principlamente por seus vinhos, quando eu vou nela ,sempre peço a eles para me servir uma taça de qualquer vinho que eles gostem. Invariavelmente, os vinhos são ótimos. E como sempre, eu raramente vou ter a chance de te-los em minha adega. Em alguns casos, eu nunca tinha sequer ouvido falar do vinho, em outros casos, é um produtor cujo nome é totalmente desconhecido por mim.


Por exemplo, nesta última visita, foi servido um soberbo e saboroso vinho branco seco: 2008 Pecorino Colline Pescaresi do Tiberio, o produtor. Eu não me importo em dizer, na verdade, eu me importo em dizer, mas a confissão do meu colega me deu coragem de dizer que eu nunca tinha ouvido falar da variedade de uva Pecorino, o distrito Pescaresi Colline ou o produtor Tiberio . Fora isso, eu sou um perito.


Bom, o vinho foi algo realmente deslumbrante, com certa mineralidade e aromas de ervas, como alecrim e sálvia entregue com uma textura incrivelmente densa. Não havia um rastro de carvalho, a propósito, e nenhuma necessidade tambem de te-lo. Foi algo do tipo "onde você esteve toda a minha vida?"

Claro, quando cheguei em casa corri para o computador para me tornar um "sabe-tudo” sobre Pecorino.


O segundo vinho que me deram foi outro branco seco, um 2008 Biancollella Frassitelli da Casa d'Ambra. "Quem, o quê?" Ouvi algo me dizendo que o sommelier anunciou que estava colocando na minha frente. " um vinho de Ischia", explicou pacientemente. "O produtor é a Casa d'Ambra. É cultivada em declives muito acentuados na quase 2.000 metros acima do nível do mar. " Aqui, novamente, eu nunca tinha ouvido falar da variedade de uva (soube depois que Biancollella é uma especialidade de Ischia). E a Casa d'Ambra era nova para mim também. Eu nunca estive em Ischia. . . O vinho não é tão pungente como o Pecorino, tinha uma delicadeza e uma sutileza elegante.


Com a pizza, veio um vinho tinto e, você adivinhou, eu estava novamente no meu estado agora familiar de frustração diante de outro vinho italiano. "É um Damiano Ciolli Silene Cesanese Olevano Romano, da Lazio," disse. A única coisa que eu entendi foi "Lácio", que também é conhecido como Lazio. É a região onde está localizado Roma. Além disso, eu era ignorante em tudo que foi dito. Este vinho tinto, a partir da casta Cesanese, desconhecido ate entao por mim , foi lindo: suave, delicado, repleto de aromas e sabores de ervas, bem como um toque terroso atraente, e concebido para ser consumido jovem. Foi absolutamente delicioso, muito longe dos tintos que hoje sobrecarregam sua boca com fruta intensa, madeira e álcool escaldante. O produtor, Damiano Ciolli, assumiu a vinícola da família, que está localizado na aldeia de Olevano Romano, cerca de 35 quilômetros a leste de Roma, em 2001. Silene, eu aprendi, é o nome de um estilo de engarrafamento que usa uma breve estada em carvalho frances para envelhecimento.


Essa experiencia toda desse jantar, tratava-se, estou certo, exatamente o tipo do coisa que o meu colega temia. Ele teme o vinho ou as informações que ele não sabe ?


Você, também, tem medo de vinhos italianos , suas complicações, as variedades de virar a cabeça e sentir-se em meio ao desconhecimento absoluto? São dos italianos a culpa por fazer tudo tão incompreensível? Ou será que temos uma responsabilidade como estudantes e amantes do vinho, decifra-los?

Um olhar pessoal sobre o mercado de vinho

Estou pensando aqui comigo seriamente enquanto escrevo olhando para algumas revistas de vinho aqui no wine bar do hotel que estou hospedado. Sao edicoes antigas de revistas americanas e outras atuais que comecei a folhear ate que me deparei com um artigo absolutamente encantador sobre o vinho no mais improvável dos lugares: Valor Economico - grandes escritores, pensadores e jornalistas em geral de alto nível mas com poucos artigos sobre o vinho que realmente chame a atencao.

Parece quase que bizarro na Europa quando se trata de "corrigir" os problemas com a indústria do vinho. Como aponta o autor, a UE tem-se mostrado bastante perspicaz quando se trata de desenvolver, manter e cultivar o crescimento dos mercados europeus mas eu fico tentando entender e decifrar por que os franceses insistem em melhorar a sua sorte quando se trata da indústria mundial de vinho, mas acontece que eles não estão sozinhos, como os luxemburgueses (se é que eles são chamados assim), o Português, e os alemães, todos parecem ter a intenção de manter os níveis ultrajantes de subvenção estatal para as suas indústrias de vinho.

Ok, nao vou falar sobre o novo imposto para o vinho brasileiro. Prometo.

O jornalista do artigo sugere que talvez o problema é que não dizem respeito ao vinho como uma mercadoria, mas como se tivesse uma alma. A implicação é que aquelas coisas que não são apenas produzidos, mas são criados, de alguma forma ocupam um lugar diferente em nossos corações. Acho que uma analogia pode ser que não queremos que a economia de mercado decida, por exemplo, o que tem que ser um arte e nao.

Eu acredito no mercado mas é incrivelmente difícil para mim entender como algumas pessoas (incluindo muitos leitores deste blog) acham que levantando, mudando ou alterando as restrições e regulações podem competir no mercado mundial. De alguma forma todo vinho bom vai embora. Como se permitindo viticultores adicionar ácido para os seus vinhos ou usar uma porcentagem maior de Merlot, de repente fazer com que esses vitivinicultores que estão a fazer um vinho fantástico (que todo mundo quer comprar agora) mudou completamente as suas práticas para a produção de merda que tem gosto de que foi batido para fora de um engenhoca de Star Trek. Essas pessoas têm muito mais integridade do que isso. Sao melhores que isso e merecem mais respeito.

Ainda nao falei e nem vou falar das leis fiscais sobre o vinho brasileiro. Prometo. Isso tudo ocorre na Europa e nao aqui.

Mas eu não espero realmente convencer ninguém sobre o meu ponto de vista. Eu decidi que os argumentos sobre terroir e gosots, esse problema se resume a uma questão de fé. Os estados membros da UE pensa sobre as regulamentações de vinho como os nossos congressistas pensam sobre impostos mais baixos. Ninguém quer fazer nenhuma alteração até que a dor da falta de ação torna-se mais forte do que a crença de que eles têm o monopólio da verdade.

Em breve...

Em um curso de vinho em algum lugar não muito distante...

As forças leais aos enochatos de plantão estão se reunindo para integrar a tirania imposta pelo Lorde das Trevas Ramsay Estressado e sua banda de chefs célebres lançados nas Tvs a cabo ao redor da galaxia: Darth Rhodes, o Grand Mofo Harriott e Jabba the Anquier.

Uma geração de sommeliers caiu sob o seu controle em restaurantes de todo o país. Privados da honra de seus antepassados, eles foram transformados em clones de programas matinais americanos.

É agora o tempo para o retorno do Juça...não mais como um enófilo mas como um Sommelier...

Ananias CasaGrande: Detetive - O caso da loira

Era uma tarde tranquila, e eu estava ocupado organizando meus seriados do Jack Bauer e filmes do 007 e Indiana Jones quando a vi de pé na minha porta. Seu cabelo era longo e loiro, ela usava um vestido de seda azul que brilhava e estava tão apertado que chegou a cortar a minha circulação sanguinea. Ela segurava sensualmente uma garrafa de Veuve Clicquot e duas taças.

"Desculpe-me intrometer detetive", disse ela, "mas sua secretária está dormindo."

"Sim", eu disse: "ela sofre de insonia."

Nós nos olhamos por um momento até que ela finalmente se inclinou em minha direção quase que avançando sobre mim com seu decote.

"Você esta bem equipada", disse eu, olhando para a garrafa - ok...nao era bem a garrafa. "Eu tenho um certo fascínio com as viúvas."

Ela se ajeito na cadeira ao melhor estilo Instinto Fatal e disse: "Eu tenho um problema."

"Só um?" Eu perguntei. "Eu acho difícil de acreditar."

Ela tentou esconder o seu sorriso e em seguida, tirou a rolha da garrafa de espumante.

"Oh," ela sussurrou. "Eu fui um pouco prematura ...".

Eu enchi as taças. "O que posso fazer por você, senhorita ...?"

"Van Dimirra ... Maria Van Dimirrrra", disse ela, fazendo beicinho que eu não quero me arriscar a descrever. Bebi o Champagne e esperei. Finalmente ela disse: "Eu tenho em minha posse uma garrafa muito rara de um vinho francês. É muito valioso. Há certos investidores que gostariam de te-lo em suas mãos . "Ela me olhou. "Diga-me, Sr. Casagrande, você possui uma arma?"

"Sim".

"Você atiraria com ela?" Maria perguntou

"Eu não martelo pregos com ela."

Ela riu e serviu-se de mais Champanhe, em seguida, ficou séria. "Francamente, estou com medo. Eu sei que estou sendo seguida. Eu quero que o senhor garanta a segurança desta garrafa. "Ela colocou uma chave sobre a mesa. "Eu coloquei o vinho em um armário na rodoviaria do Tiete."

Essa foi sua primeira jogada ruim. Ela era boa e quase me convenceu, mas a rodoviaria do Tiete... Algo não estava certo .

Uma hora depois eu estava na estação rodoviária. Me certifiquei que não havia sido seguido, e fui até o armário. Era uma caixa grande, e a madeira era velha e descolorida. Era mais pesado do que eu esperava. Tinha o peso de duas garrafas magnum, pelo menos. Abri com meu canivete e fiquei surpreso, chocado mesmo. A garrafa pode valer realmente uma pequena fortuna.

Três dias se passaram ...

... E nenhuma palavra da senhorita Van Dimirra. Eu passei a noite em uma degustação da ABS e estava precisando urgentemente de um limpador de linguas. Havia uma garrafa de conhaque no meu escritório, e assim que eu abri a porta, as luzes se acenderam. Maria Van Dimirra estava lá, olhar melancólico, e ao lado dela um cara extremamente magro de terno branco com uma arma. Sentado atrás da minha mesa estava um rosto conhecido, Botelho, conhecido por todos como o Somellier Gordo.

"Olá, Botelho", disse eu. "Deu uma festa e não me convidou?

"Oh Casagrande", Maria disse: "Sinto muito, mas eles fizeram ..."

"Cale a boca!" O homem magricela gritou.

"Civilidade, Porpeta, sempre civilidade", Botelho avisou. "Mas vamos divagar. O assunto em questão é a minha garrafa. Onde ela está? "

"Sua garrafa?" Eu perguntei.

"Ela disse o contrário?" Botelho olhou para Maria. Um riso sacudiu todo o corpo. Ele virou para mim. "Na realidade, ela fugiu com a minha garrafa."

Maria sorriu timidamente.

"Agora, detetive", Botelho disse, "nós já procuramos no seu flat, sem sucesso."

"Você está sem vinho e sua mussarella vai estragar se não come-la logo", acrescentou o magricela.

"E parece que a garrafa nao está no seu escritório também", disse Botelho.

"O que você quer dizer? Esta ali mesmo debaixo da minha mesa ", disse ceticamente.

Ele rolou para trás como se fosse uma peça de churrasco grego e olhou para baixo. "De fato, ele fala serio", disse ele, voltando-se para o magricela. "Como você poderia ignorar isso Porpeta?"

"Eu pensei que você tinha dito que cuidaria da secretária, chefe. ", disse o magricela.

"Querido filho , eu sou o gênio, você é o capanga. Masterminds não procuram, mandam procurar ! "

O capanga magrela correu e ergueu a caixa sobre a mesa e apontando sua arma para mim disse: "Você faz isso. Eu quero ficar de olho em você. "

Abri a caixa e Botelho teve seu rosto iluminado. "Finalmente, eu tenho você", disse ele, erguendo uma garrafa grande de fora da caixa. "Detetive, você não tem idéia do valor desse vinho".

"Try me pal", eu disse.

"Esta no nível de uma garrafa de vinho do Château d'Yquem 1915, engarrafado durante o auge da Primeira Guerra Mundial, quando os alemães ocuparam Bordeaux, e assinado pelo próprio Kaiser Wilhelm. Isto vale o resgate de um rei! "

"Sem valor algum, voce quer dizer," provoquei.

Intrigado, o Somellier Gordo perguntou, "O que você quer dizer?"

"Em primeiro lugar, os alemães nunca ocuparam Bordeaux durante a Primeira Guerra Mundial e d'Yquem nem sequer tinha uma garrafa de vinho em 1915. "

"Você está mentindo", disse ele.

"Por que eu mentiria?"

Botelho me observou em silêncio por um tempo, então disse com um sorriso triste, "Conhecendo você como eu conheço, eu não acredito."

Ele jogou a caixa sobre a mesa. Pegou a garrafa, olhou para Maria, em seguida, atirou-a para seu capanga. Reflexivamente, ele se esforçou para pegar a garrafa.
Aproveitei o momento para levar meu punho ao seu queixo, cambalenado para trás, o campanga acabou quebrando a garrafa sobre a mesa.

Botelho gargalhando estericamente provou um pouco do vinho que havia sido derramado sobre a mesa . Lançou um olhar de expectativa. Dei de ombros e fui experimentar tambem. Tentamos sentir os aromas, em seguida bebemos.

"Ineressante", concordamos, "mas extremamente exagerado na madeira"

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Nota do Autor: Nao seria justo deixar de escrever uma historia de detetive sem ter uma loira sensual e ladra.

O vinho alem das sensações e das criticas

O que você achou da primeira vez que ouviu Mozart? Talvez, assim como eu, você teve uma mãe costumava escutar música clássica em toda a casa no domingo de manhã e sorrir quando conscientemente me contorcia no sofá ao invés de sentar e parar por um minuto para ouvir essas coisas. Para os ouvidos de uma crianca de oito anos de idade, ela era chata, complicada e inacessível: Eu não tinha o contexto para apreciá-lá. Talvez, você cresceu e comecou a ouvir Mozart, talvez ate apreciá-lo porque você aprendeu mais sobre como escutar a sua música. Você ganhou uma compreensão de seu contexto.

A maioria dos bebedores de vinho, não importa o seu nível de conhecimento e sofisticação, estão em um caminho semelhante de evolução e compreensão. Cada gole cujos sabores e aromas sentimos, cada rótulo e informacao que lemos, inconscientemente marca em nossa memória uma nova linha em uma lista de vinho que nós selecionamos como nosso gosto pessoal seja para a refeição ou o simples prazer de degusta-lo.A cada nova taça, criamos um novo volume em nossa própria biblioteca de experiências que vai determinar como iremos vivenciar o próximo. Quanto mais vinho degustamos e quanto mais aprendemos, melhor o contexto que temos para avaliar. Aparentemente, os críticos de vinhos e profissionais do vinho existem para auxiliar na educação dos amantes do vinho, tornando o processo de formar um consumidor melhor vinho mais fácil, mais rápido e agradável.

No entanto, infelizmente, grande parte dos profissionais do vinho, juntamente com legiões de seguidores devotados, opera na negação da importância que tal contexto desempenha na avaliação de vinhos. Esses críticos - e os amantes do vinho que segui-los - sugerem que o vinho deve ser (e só pode ser) avaliadas em seus próprios termos e de maneira individual. Eles sugerem que a única coisa que realmente importa quando se tenta determinar se um vinho é "bom ou não" é a combinação de aroma, textura, aroma, acidez, estrutura tânica e complexidade. Para essas pessoas a nota de prova e pontuação numérica representam um trabalho bem feito para o crítico.

Indignado? Que bom, mas infelizmente tem isso no mundo do vinho...e muito.

Apesar da miopia de tal posição, muitos acham difícil avaliar tecnicamente um vinho sob o ponto de vista de uma analise sensorial. Concordo, em parte. A análise sensorial é a base de uma boa crítica de vinhos mas negar o que esta por trás disso acredito que seja ingenuidade ou ignorancia. A compreensão, a avaliação, e, eu diria, o pleno gozo do vinho depende de muitas camadas de contexto, necessarias para formar um quadro mais completo de um vinho.

Os sentidos

Os analistas sensoriais começam analisando o vinho no copou. Fazem o liquido girar, apreciam a cor, viscosidade e brilho na taça. Cheiram, inalando profundamente para fazer avaliações dos aromas. Bebem com atencao, sentindo a textura do vinho na sua língua e os sabores rodando nos cantos e recantos do seu paladar. Eles, então, engolem (ou cospem, mais provável), e avaliam cuidadosamente os aromas persistentes e o desdobramento dos sabores na boca. Esta é a raiz de toda a apreciação do vinho, mas não é a videira cheia.

A tipicidade

Apenas essa analise não basta. O conhecimento da variedade das uvas utilizadas na fabricação do vinho, e onde as uvas foram cultivadas,
permitem ao provador avaliar melhor o vinho. Em particular, esse entendimento fornece uma camada de contexto para a análise sensorial
que nos permite avaliar se os sabores do vinho são típicos da varietal, e se expressa o lugar que foi cultivado , o terroir.

O fator humano

Além da garrafa e da uva, além da geografia, todo o vinho é irrevogavelmente incorporado em um contexto humano: Alguém cultivavou o solo e podou as videiras. Provavelmente, mais do que uma pessoa. Todos os vinhos têm uma história humana por trás. São historias das pessoas que fizeram esse vinho que vai ser avaliado e tantos outros vinhos feitos pelas mesmas mãos. Um entendimento completo do vinho em sua boca deve incluir também esta história. É claro que o consumidor de vinho como a maioria de nos não sabe nada sobre quem fez o vinho além do nome (irreconhecível as vezes ou até mesmo impronunciável) no rótulo. Dificilmente vamos aprender a história de duzentos anos de elaboração do vinho que a família, ou a história pessoal do produtor, que começou como uma mão no campo, colhendo uvas, mas quem se propõe a criticar um vinho deve, no mínimo, conhecer o contexto desse vinho. Uma avaliação de vinho sem a história de quem e de onde veio o vinho é apenas um monte de adjetivos pouco significativos e um desses números que todo mundo ama ou, como eu, odeia.

Cultura

Frase clichê: vinho é cultura. E como não poderia ser? É a bebida dos reis e dos faraós, o salário dos soldados romanos, o sacramento ao longo dos tempos. Na maioria dos lugares ao redor do mundo e com uma história de mais de 400 anos, a identidade do vinho e a identidade do lugar que ele nasce estão intimamente ligados ao ponto da singularidade. Os nomes (para o novato) de vinho na França, Itália e Alemanha são os vinhos e as cidades, e quando você coloca o vinho na taça, você está tomando uma evolução da cultura de um lugar específico e um horário específico. Já se perguntou porque Pinot Noir da Califórnia e Pinot Noir de Beaune, em Borgonha possuem um sabor tão diferentes entre si? A resposta, uma vez que você vai além do "terroir", tem a ver com o contexto cultural, que se manifestam concretamente nas regras de vinificação de cada lugar, bem como subjetivamente nas tradições reunidas pelo bodegueiro em cada região. diferenças estilísticas entre os vinhos podem ser apenas um produto de decisões de vinificação, mas muitas vezes eles são muito mais profundos do que isso. Muscadet e ostras. Chianti e ensopado de borrego. Rioja e tapas. Mais do que apenas boas idéias, os "tradicionais" pares não eram simplesmente invenções do epicures experimental, foram produzidos por um determinado lugar e tempo.

Antes que o mundo do vinho fosse globalizado, e antes das regiões vinícolas da Califórnia, América do Sul, da Austrália foram um reflexo nos olhos de alguém, a maioria das pessoas bebiam o vinho de sua aldeia ou região local. Não é nenhuma surpresa, então, que muitas vezes esses vinhos evoluiram como um complemento perfeito para pratos locais e paladares locais. Para dizer que o vinho deve ser
entendido neste contexto, seria exagerar mas como é possível ignorá-lo? Mais importante, como pode críticos de vinho, e mesmo os
amantes do vinho, negar a importância de entender de onde e de quando um vinho vem no tecido da cultura mundial ?

Memória emotiva

Mesmo quem aprecia vinhos mais casualmente, geralmente tem uma experiência do vinho "perfeito". Para muitos, essa experiência é a porta de entrada para uma apreciação mais profunda do vinho. Você sabe do que estou falando. Esse simples piquenique na grama durante a sua lua de mel sob um céu azul perfeito. Aquela garrafa de vinho que você pegou para o primeiro jantar em sua casa.

A camada final de contexto para o vinho que bebemos engloba a nossa própria psicologia, emoções e memória. Os vinhos mais saborosos que já consumimos são sempre nos melhores momentos. Esta é a razão dos críticos preferirem a avaliação de vinhos às cegas. No entanto, quando os sacos saem das garrafas de vinho, e tudo é revelado, podemos lutar uma batalha perdida tentando ignorar as histórias que nós conhecemos e amamos sobre vinhos. Essas histórias, afinal, fazem o vinho ter significado, essas narrativas da circunstância e do prazer que captura tudo que é bom sobre o vinho e tudo o que faz com que seja mais do que apenas uma bebida. Os analistas sensoriais podem se contentar em contar a história de um vinho com algumas frutas, uma arquitetura de adjetivos, um acabamento de comprimento variável e um número colocado em um pedestal.

Minhas histórias do vinho são apenas uma frase em uma tapeçaria muito maior do contexto, significado e prazer "uma nota de rodapé em uma narrativa contextual das personagens, terras, culturas, história da alimentação e do espírito.

Serie: O vinho na sua taça Decantação

A decantação provoca dois bons efeitos que são inquestionaveis: Separa-se a borra que é depositada no fundo da garrafa e que pode deixar o vinho turvo e dar um gosto desagradável e também deixa o ritual de servir o vinho muito mais bonito.

A pergunta que fica é: A decantação realmente melhora o vinho ? Por quanto tempo ?

O mais dito e aceito sobre isso é que a decantação amacia os taninos, mas isso não tem respaldo científico (Essa é a hora que os enochatos começam a resmungar ou simplesmente páram de ler).

Claro que a aeração durante a vinificação altera a estrutura dos taninos, por isso o vinho é colocado em barricas porosas, mas a química do vinho é lenta e esse processo todo pode levar meses e não pode ser sentido em algumas poucas horas.

A decantação não afeta os taninos, mas como você elimina componentes indesejáveis, o vinho adquire um gosto diferente e dá a impressão que os taninos ficaram mais macios.

Vamos deixar de lado o esnobismo e entender o que acontece no seu decanter ou taça: Durante a decantação é uma aeração quevai acelerar a evaporação dos sulfitos e aromas desagradáveis, mas a decantação tambem vai provocar uma oxidação que vai atingir exatamente os componentes do vinho que te dão prazer. Um vinho oxidado fica chato, mas como a oxidação é uma reação muito mais lenta que a varredura dos odores, basta você decantar o vinho com uma antecipação insuficiente para acarretar a oxidação.

Seria simples assim se o vinho com seus milhares de componentes não gostasse de debochar de toda a lógica que tentamos impor. O tempo de resposta para a oxidação pode variar de acordo com a temperatura, concentração de fruta,pH e outros tantos fatores que mudam conforme a idade do vinho. Então meu prezado leitor e minha querida leitora o tempo de decantação de um vinho pode ser pouco para alguns e execessivo para outros.

Decantação é como um empurrão, acelera os mais fortes e derruba os mais fracos.

Toda essa explicação é oportuna porque nos eventos que apresento e degustações e cursos que oriento eu sugiro sempre decantar o vinho por uma hora e meia. Mas ontem em evento decantei um vinho portugues de 1991 e cheguei a conclusão junto com outros dois confrades que ele foi decantado muito cedo para seu grau de envelhecimento.

Fica aqui então uma dica de bom senso: Abra a garrafa uma hora antes e prove um pouquinho. Se estiver bom, deixe como está e só decante na hora de servir. Caso apresente gostos e aromas desagradáveis, decante antecipadamente.

A correta decantação de um vinho nada mais é que a aplicação sensata do principio que faz torcer o nariz dos "entendidos": Vinho bom é aquele que você gosta, e se estiver gostanto, não invente e nem complique,porque ele pode não te dar o mesmo prazer.

Beba a revolução


Dizem que as abelhas e os cães podem sentir o medo. No mundo do vinho, aqueles com bons “narizes”, podem senti-lo também. Fundamentos que costumavam ser tão firmes sob nossos pés estão começando a mudar. Como os líderes de alguns cultos apocalípticos prevendo o apocalipse, extasiado, em verdade vos digo: Olhe atentamente! Os sinais de uma revolução no mundo do vinho estão à nossa volta!

Nos últimos meses, eu tive uma boa experiência com a uva Chenin Blanc produzida em Portugal e um bom Cabernet Sauvignon da China. A entrada desses vinhos no cenário internacional e timidamente ainda no nosso mercado brasileiro é interessante o suficiente para fazer coçar nossas papilas gustativas de tanta curiosidade. Seu significado real, no entanto, acredito que tenha a ver com o motivo de alguém se preocupar em começar a fazer vinho em países como China e Índia. Tanto na China quanto na Índia, o consumo de vinho está crescendo confortavelmente dobrando os dígitos percentuais em um ano. A adição de uma fração de seus bilhões de consumidores para o mercado mundial do vinho será como o cair de um caminhão de lixo na marginal Tiete expressa em dia de chuva em uma volta de feriado prolongado. Exageros a parte, o mundo certamente vai precisar de mais vinho.

Se a França continuar com a sua política sombria sem precedentes para os baixos níveis de consumo de vinho. Uma vez que o líder mundial no consumo de vinho, os franceses estão a beira dos cerca de cinquenta por cento menor que o consumo em 1960. Isto em parte levou o país quase à beira de uma guerra civil entre os vinicultores menores (que são literalmente incapazes de alimentar as suas famílias), o governo (que não possui boas soluções para o problema), os corretores de vinho nacional (que têm que baixar os preços que eles pagam para as uvas, a fim de ganhar a vida), e os proprietários dos ricos château de Bordeaux (que atualmente estão recebendo somas alucinantes para algumas safras). Bombas, coquetéis molotov, sabotagem, incêndios e destruição de propriedade são cada vez mais comuns em todo o país.

Os compradores desses vinhos a preços astronomicamente altos que a França pratica formam geralmente o bloco de colecionadores, especialistas e conhecedores que têm sido historicamente uma forma previsível de consumidor final não são mais tão previsíveis e confiáveis quanto antes. Durante muito tempo eles estavam satisfeitos com suas revistas de vinho e seus fóruns on-line, fieis a seus críticos e dispostos a desembolsar grandes somas para os melhores vinhos de Bordeaux e qualquer outra parte do mundo. Nenhum deles é completamente verdadeiro eu acho quando se trata de degustar e apreciar o vinho. Temos também as revistas femininas que estão preocupadas com a manutenção das leitoras de blogs e outros meios de comunicação que começam a desviar seus melhores clientes. Vários dos principais fóruns on-line para os amantes do vinho parecem estar se dissolvendo em facções que gastam mais tempo de chamar o nome do que celebrando sua comunidade compartilhada. Sérios esforços para oferecer uma alternativa democrática à hegemonia imposta pelos críticos de vinho estão ganhando força. E para o espanto dos franceses, algumas pessoas, simplesmente se recusam a pagar os preços exorbitantes para safras como a de 2005 em Bordeaux.

Há certamente um outro grupo de consumidores. Sao escritores, críticos e donos de restaurantes que representam o núcleo da indústria de vinho. No entanto, a cada ano, cada vez mais a "velha guarda" é substituída por consumidores mais jovens que podem ter os mesmos meios financeiros ou nível de paixão, mas têm diferentes expectativas e atitudes com relação ao vinho. Hoje, um executivo de trinta e quatro anos de idade, está comprando os mesmos vinhos de alta qualidade como um outro amante de sessenta e quatro anos de idade, mas a maneira que eles pensam sobre o vinho, as informações que eles usaram para formar suas opiniões e os gatilhos que dispararam suas decisões de compra são muito diferentes.

Além de grandes mudanças demográficas, existem as centenas de outros pequenos tremores estão de passagem pelo mundo do vinho com uma freqüência crescente. Os locais e as formas que o vinho é feito estão mudando rapidamente. Os crescentes movimentos biodinâmicos e orgânicos mostram uma mudança para um tipo diferente de viticultura que reforça a sua sustentabilidade e qualidade. Preocupações de como lidar com as realidades do aumento das temperaturas em quase toda parte, um bom vinho está ficando mais fácil de fazer em lugares como Bordeux, e mais difícil de fazer em lugares como o vale do Napa.

A mudança está acontecendo. A diferença entre o “mais uma série de mudanças evolutivas do homem ” e uma “ revolução” é que, na minha opnião, uma revolução so é sustentada pelas vozes das pessoas . Se isso for verdade, então que estes poucos parágrafos possa servir como uma chamada para levantar a sua voz e participar de dessa revolução, ao invés de ser apenas um observador das mudanças.

Ignore as revistas ! Leia um blog de vinho! Beba o que quiser! Compre por recomendação de alguém que você confia, e não na pontuação de um crítico! Experimente novas variedades, novas denominações, novos países! Trate o vinho como parte da vida cotidiana, não como um luxo colecionável!

Brinde a revolução!

Criado um novo design para a garrafa de vinho

Enquanto muitos estão comemorando (até mesmo bajulando) o projeto da nova garrafa de vinho pelo chef Martín Berasategui, eu na verdade estou lamentando o fato de que ele resolva um problema que não precisa ser resolvido. Este novo frasco, que de fato achei bastante inteligente,confesso, apresenta um recuo acentuado em direção ao fundo da garrafa que (teoricamente) evita que qualquer sedimento que estava no fundo da garrafa seja despejado no vinho.

Entretanto a eficácia do design no mundo real provavelmente não será tão util quanto se imagina, principalmente quando acumular muito sedimento no ombro de uma garrafa que foi armazenada na horizontal, e raramente teve tempo para depositar no fundo antes de ser servido para alguém. Além disso, muitos sedimentos são tão finos que, depois de empurrados, entram em suspensão no vinho.

Mas isso tudo não é motivo para sugerir que precisávamos desta nova garrafa tanto quanto precisamos de mais uma nova edição do Big Brother. Eu estou chateado com o fato de que as pessoas parecem pensar que os sedimentos do vinho seja algo que precisa ser eliminado.

Estou aqui para dizer que o sedimento é uma coisa boa. Na verdade, não é apenas uma coisa boa, é uma grande coisa!

Eu amo o sedimento. Eu um raro prazer quando tiro uma rolha de uma garrafa para encontrar o fundo da mesma incrustada com cristais, ou pingando como uma lama barrenta e roxa. É emocionante ver o meu vinho derramado em um vidro nublado com uma névoa fina de partículas em suspensão.

Sedimento é um sinal de muitas coisas boas. Em primeiro lugar, é um sinal provável de que o vinho não foi filtrado. Vinhos não filtrados possuem, na minha opnião, um gosto mais honesto e mais interessante. Claro, eles não são inerentemente melhores, mas dada a escolha, eu sempre prefiro ter meus vinhos não filtrados.

Sedimento, juntamente com os cristais de ácido tartárico, também deve ser comemorado e saboreado como um significante e maravilhoso processo de envelhecimento. Estes bits robusto, como gosto de chamá-los usando um jargão da minha área, são tão naturais quanto o vinho em si, e não tenho nenhum problema de consumi-los, e você também não deveria.

Vinho, quando bem feito, é um produto natural e deve ser apreciado como tal. Eu não gosto de meu suco de laranja pasteurizado ao esquecimento, e meu suco de abacaxi filtrado para uma clareza cristalina e as vezes até sem espuma. E eu não preciso de nenhum frasco fedendo fantasia para manter o meu vinho longe dos poucos processos naturais que o fez, muito obrigado.

A matéria completa pode ser lida no The Guardian

Pequenas Epifanias

Durante o jantar na noite de ano novo, um velho e querido amigo, me perguntou quando foi que eu me tornei um amante de vinho. Ele então começou a me dizer, não em tantas palavras, que quando nos conhecemos na faculdade, eu era a última pessoa que ele esperava se transformar em um amante do vinho, mesmo eu sempre ter tomado vinho.

Tivemos umas boas risadas lembrando de alguns momentos e continuamos bebendo, mas sua pergunta me fez pensar sobre como foi que eu, ou qualquer outra pessoa, pode ir de um simples bebedor a um discipulo de Baco.

Tenho certeza que eu não tive um daqueles momentos em que algumas pessoas descrevem, onde ao tomar um gole de um copo, acontece algo do tipo "Uau, então é isso que significa degustar um vinho! " É claro que houve dezenas de pequenas epifanias ao longo do tempo, como a primeira vez que eu realmente senti aroma de chocolate em um vinho, ou quando eu bebi o meu primeiro Sauternes, mas quanto mais eu tento traçar uma linha para trás através de todas as garrafas, mais eu sinto que estou tentando achar uma agulha no palheiro..

A verdade é que eu sempre amei vinho. E como foi legal experimentar champanhe na ABS . A preocupação com sabores de frutas não mudou muito, mesmo através dos cursos e degustações em vinicolas, eu descobri as alegrias das garrafas de um rosé Português que chutou a bunda de cada Zinfandel branco que já tive de provar em degustações que participava quando morava nos EUA.

Essas memórias do vinho são relativamente fáceis de recuperar, mas a transição do gosto boémio de um estudante universitário para o que você quiser chamar de meu senso de vinho atual (meu paladar? Minhas preferências? Minha paixão?) É nebuloso, um labirinto de ajustes que tropeça através de uma paisagem progressivamente em mudanca em torno de mim.

O processo de se chegar a um ponto em que estamos cientes de nossas preferências, é uma viagem por uma estrada cultural, social e psicológica . Há uma certa dose de compreensão para ser adquirida através de uma análise de fatores que moldam a capacidade crítica de uma pessoa em relação à comida ou vinho. Tenho um conhecido, por exemplo, que teoriza que as pessoas têm um conjunto básico de sabores que são estabelecidos no início da vida - uma espécie de "terroir" pessoal - que é altamente geográfico e com base na própria cultura regional de alimentos, o solo, e até mesmo química da água. Embora ache muito interessante , acredito que há algo em nossa relação com o vinho que é literal e figurativamente além da ciência.

Nas ondas do que explorar os cantos e recantos de uma boca cheia de vinho, interações químicas que ocorrem são tão complexos que nós estamos apenas começando a desvendar-los. De alguma forma o gosto e o aroma de uma só vez, inseparavelmente envolvem múltiplos sentidos em nossos corpos e cérebros que trabalham juntos para criar uma experiência que é uma tapeçaria de sensaç;oes físicas, o sabor, o prazer, a nostalgia, a intuição e, finalmente, a imaginação. A linha entre o que percebemos a partir de um vinho e que nós projetamos para ele não é algo linear, mas uma transição suave entre a química de nossos corpos e as obras desconhecidas de nossas próprias mentes e, se você é tão inclinado a algo mais transcedental, nossos espíritos.

Eu acho que jamais seremos capaz de apontar para um momento específico que caimos no mundo do vinho, porque eu ainda estou caindo. Espero que nunca haverá um ponto onde possa dizer, definitivamente, qual o meu gosto para o vinho, porque eu acho que será sempre um ponto onde eu tenho muito o que aprender e provar. Existem alguns mistérios na vida que não precisam de uma solução, pois eles apenas precisam ser reconhecidos e celebrados. A paixão duradoura, a unidade que tem mantido a humanidade labutando nas vinhas e nas adegas por milênios é a relação distintiva e individual que se renova cada vez que cada um de nós enche um copo.

Esta é a paixão (o humor, mistério e história), que eu quero continuar a escrever nesse ano de 2011 sobre vinhos,. Espero que vocês se juntem a mim nestas diversas situações em torno do vinho .

Feliz 2011

Vale a pena experimentar