Série Encontros Inusitados

Ao tomar meu lugar no restaurante onde participaria de uma degustação às cegas não pude deixar de notar um inglês de perfil aquilino, alto, magro que sentara ao meu lado que sem preâmbulos me disse: Preciso de sua ajuda, não entendo absolutamente nada de vinhos apesar de de ter acurada percepção olfativa. Nunca estive em uma prova de vinhos antes.

Éramos em cinco. Depois de recebidas as fichas de avaliação começamos o ritual em profundo silêncio e concentração.

Após as provas, vieram as considerações, uma a uma:

O primeiro, um francês, afirmou que o primeiro vinho era um Malbec da região de Cotes-du-Rhône da safra de 1997 com mais concentração tânica que o normal. O segundo ele considerou ser um Cabernet Sauvignon da região do Languedoc da safra de 1999 com talvez um corte de Shiraz, o terceiro vinho um assemblage de Vannières 1995. O quarto vinho era sem dúvida um Cabernet Franc e o quinto um Bordeaux com aromas de mofo.

O segundo, A. Doyle, concordou que quinto vinho era um Bordeaux de baixa qualidade e que derveria ser evitado. Quanto ao assemblage, discordava, era Domainde d´Ott e não um Vannières. O primeiro vinho seria um Ventoux de safra medíocre e o segundo um Hermitage explêndido de 98.

O terceiro, outro francês, decepcionou a todos dizendo que eram apenas tintos simples de mesa.

Paramos para um típico "coffie brequê" , quando na volta meu colega inglês tomou a palavra e disse:

" O primeiro vinho vinho de maciez admirável, boa concentração de tâninos de qualidade, aromas mentolados com toques de ervas é um Merlot. O Segundo é um assemblage com prováveis 65% de Shiraz em sua composição adicionados aos 15% de Crenache, 10% de Carignan e 10% de Cabernet Sauvignon. O terceiro vinho é experimental da uva Syraz feito sob microvinificação sem aromas definidos ainda, bastante jovem. Finalmente o quarto vinho é um Carbert Sauvignon de 1990, Cinsault, muito bem elaborado e de ótimo acabamento. O quinto vinho é realmente um Bordeaux ordinário.

Com exceção do Bordeaux todos são de Languedoc, Village Saint-Efigênia, produzidos por M Blackwood, nosso companheiro aqui presente."

Entusiasmados, aplaudimos de pé.

Dando uma carona pra ele em meu carro, depois de meus incansáveis apelos ele explicou: Quando percebi que Blackwood era um produtor, aproveitei o intervalo e acessei via o site da vinícola. Como ele só tinha quatro vinhos eu deduzi que um dos vinhos não era dele e como ninguem é estúpido de levar um vinho melhor que os seus, só podia ser o Bordeaux que os outros degustadores haviam identificado ao notar o aroma de mofo. Depois disto, usando as fichas técnicas, foi fácil identificar os quatro pelos aromas, que como você sabe é minha especialidade.

Você disse que pelas unhas, pelos dedos, pela roupa e pelo sotaque, consegue identificar uma pessoa, mas Blackwood é um homem de mãos finas, sotaque parisiense, ruivo e alto, bem típico do norte da frança. Como é que você descobriu que ele era um produtor ?

" Elementar meu caro Zainer, ele era o único que parecia não entender de vinho"

E assim me despedi dele, deixando-o em frente a sua casa no 221 da Baker Street, nunca mais vi meu amigo Sherlock Holmes.

2 comentários:

Anônimo disse...

kkkkkkkkkkkkkkkk

Adorei!!!!

Se continuar com essa série viro fã de carteirinha de vinho!

beijinhos

PreDatado disse...

Um post fabuloso escrito com um refinado sentido de humor. Seja a história criada por si, seja ela um retrato verdadeiro, não há muita gente nesta blogosfera que o escreva deste jeito. Alia-se um evidente conhecimento da matéria que me fará seguir assiduamente o seu blog.

Vale a pena experimentar