Série Encontros Inusitados: Santô


As crianças têm amigos invisíveis. Sentem prazer em "possuir" uma amizade exclusiva e não compartilhá-la com ninguém. Nem com os pais. Também tenho meus amigos invisíveis, meus encontros inusitados. Às vezes, degusto vinhos com Holmes (Sherlock) e fumo charutos com Winston (Churchill).

Na última semana, troquei todos eles pela companhia do genial Alberto Santos-Dumont, ou Santô, como dizem os franceses.

"Prefiro os balões. O vôo é mais tranqüilo", confidenciou-me Alberto. E aproveitou para contar sobre seu primeiro passeio aéreo, ao lado do balonista Alexis Machuron, aos 24 anos. Assim que ele ouviu os sinos do Ângelus lá embaixo, anunciando o meio-dia, disse ao seu guia: "Está no horário do almoço". Para surpresa do francês, o brasileiro retirou da mala ovos cozidos, rosbife, frango, queijos, fruta, sorvete, doces. "Deve ser um hábito brasileiro andar com a refeição na mala. Hábito estranho" teria pensado o balonista, antes de se render ao prazer gastronômico. "A melhor parte foi o champagne. Os flocos de neve se formavam nas taças", disse Alberto. Para encerrar o banquete aéreo: licor e café brasileiro.

Eu sabia que, além de inventor genial, Santos-Dumont era um gourmet sofisticado. Em seu apartamento, no Elysée Palace Hotel, ele promovia, para deleite de seus comensais, "jantares aéreos". As cadeiras tinham três metros de altura e, para se sentar, era preciso utilizar uma escada portátil. Durante o banquete, uma pequena aeronave fazia evoluções no teto. "A idéia surgiu de seu primeiro vôo?", perguntei. "A sensibilidade nas alturas é mais refinada. Quis usar esse conceito na gastronomia", respondeu Alberto, para em seguida falar sobre a Baladeuse, o primeiro carro aéreo portátil do mundo. Com ele, o inventor podia sair da frente de seu apartamento e voar até seus restaurantes preferidos. Ele gostava de comemorar suas conquistas aeronáuticas cercado por pratos deliciosos, excelentes vinhos e ótimas companhias. Os maîtres conheciam seu prato favorito: Linguado.

Em nossos encontros em um café ao redor do Elysée Palace Hotel, Alberto estava elegante. O terno escuro sempre impecável. As golas altas e a gravata vermelha. O chapéu Panamá e o relógio de pulso Cartier. "Eu tinha problemas para conferir o tempo de vôo. Desenhei esse instrumento e meu amigo Louis o construiu", disse ele, que ditou a moda em Paris no início do século XX. Reservado, nunca gesticulava. Quase nunca. Certa vez, ele me falou sobre o dia em que contornou a Torre Eiffel com o dirigível nº 6 e venceu o prêmio Deutsch. Gesticulou tanto que notei, em seu braço, uma pulseira com um pingente. "Uma medalha de São Benedito para proteção contra acidentes. Presente da Princesa Isabel" revelou o inventor. Contou-me em detalhes como conheceu a condessa d´Eu, filha de Dom Pedro II exilada na França após a queda da monarquia no Brasil. Em uma experiência com o dirigível nº 5, um vento inesperado e o fim do combustível o forçaram a uma aterrissagem sobre um castanheiro do parque do Barão de Rothschild. "Estou com sede", disse a um jardineiro que surgiu em seu socorro. Minutos depois, os serviçais do aristocrata surgiram com um balde de gelo e uma garrafa de champagne. Enquanto ele se "recuperava" do acidente, algumas pessoas chegaram até a árvore com uma cesta de piquenique. Era um almoço oferecido pela Princesa Isabel, que morava na propriedade ao lado. "Fui agradecer a gentileza", revelou sorridente.

Em nosso último encontro, conversamos sobre nossa infância. "Uma vez ganhei um concurso de pipas. A minha tinha o formato de um morcego e era a maior delas, mas não chegou a voar", contei. "Eu gostava de fazer pequenos balões de papel nas festas juninas", disse Santos, com o olhar distante. Conferiu o horário pelo relógio de pulso. "Preciso ir, tenho um jantar com Aída, la première aerochauffeuse du monde. Você sabia que é para cá, Paris, que as almas das pessoas boas vão quando morrem?", despediu-se, subindo no Demoiselle. Sorri de contentamento após aquela revelação. "Au Revoir, mon ami Santô", despedi acenando. Era em uma Cidade-Luz que eu gostaria de passar a eternidade, talvez não necessariamente Paris.

Com esse pensamento deixei Paris e Santô para trás, decidido a percorrer a pé o Caminho de Santiago de Compostela. Com mochila nas costas e cajado na mão, resolvi trocar os prazeres da boa vida pelo estoicismo dos cristãos medievais.

* O desenho do livro "Santos-Dumont", do cartunista Ruy Jobim Neto, mostra uma das inusitadas cenas do aeronauta que gostava de tomar café e estacionar seus balões no meio das avenidas parisienses.

Um ano de Vinho e Bom Senso


Como a maioria dos tecnólogos, matemáticos e interessados em Cosmologia, deixei a religião de lado para procurar, nas estrelas, respostas às crises existenciais e as dúvidas mais pertinentes a filosofia do que a Freud.

Em um momento meu espírito voou em outras direções. Na Índia, quase foi devorado por Kali, a deusa da morte. Partiu a tempo de participar da Hajj, a peregrinação anual a Meca. Por pouco não foi pisoteado pela multidão de muçulmanos. Conseguiu se esquivar e encontrou por lá o Cardeal Richelieu: "Se Deus tivesse proibido o vinho, por que o teria feito tão saboroso?", disse, com sorriso irônico.

Meu espírito procurou outros ares. Na China, enquanto descansava em um Templo Shaolin, foi intimado a comparecer em uma sessão espírita. E sabatinado sobre os mistérios do Além, não suportou o interrogatório e desmaiou. Ao despertar, encontrou-se diante do Dalai Lama. "Não procure fora. A Verdade está em seu coração", disse.

Naquela noite, consegui resgatar meu espírito de um redemoinho de emoções, certezas, dúvidas... Juntos, sorvemos uma garrafa de vinho. O bispo francês Jacques-Bénigne Bossuet escreveu: "O vinho tem o poder de encher a alma de toda a verdade, de todo o saber e filosofia".

Na segunda taça, senti-me iluminado e resolvi seguir o exemplo de meus antepassados. Na Idade Média, religiosos costumavam abrir a Bíblia aleatoriamente, acreditando que Deus os guiaria até a mensagem adequada para aquele momento de suas vidas. Encontrei o primeiro milagre de Jesus Cristo. Em uma festa de casamento, Ele transformou seis talhas de água em seiscentos litros (!) do "Veja-Sicilia" da época. Imaginei as pessoas felizes, dançando, cantando. Vinho era festa. Era alegria. Fechei os olhos e recordei a Festa da Uva e do Vinho em Vinhedo que fui com meu pai e meus amigos Carlos Cortezi e Carlos Sacoda, lembrei também de mestres e amigos como André e Miriam Martin e tantos outros. A Verdade estava em meu coração. Mas também estava no vinho, como observou o romano Plínio: In Vino Veritas.

Abri novamente a Bíblia em busca de outra confirmação: "Depois tomou em suas mãos o cálice (de vinho) e lhes disse: 'Tomai todos e bebei: este é o cálice do meu sangue, o sangue da nova e eterna aliança (...)'". Não precisava de mais argumentos. Como o filho pródigo, eu retornava à casa do Pai, com uma taça de vinho na mão e uma certeza: "O vinho é a prova constante de que Deus nos ama e deseja ver-nos felizes".
Dias atrás encontrei a seguinte citação do Papa Bento "Se o pão é o símbolo do que o homem precisa, por seu lado o vinho é o símbolo da superabundância da qual também temos necessidade. Ele é sinal de alegria, da transfiguração da criação. Tira-nos da tristeza e do cansaço do dia-a-dia e faz do estar juntos uma festa. Alegra os sentidos e a alma, solta a língua, abre o coração e transpõe as barreiras que limitam nossa existência".

Abracei meu espírito e chamei-o para tomar um vinho. Desarrolhamos uma garrafa.

Havíamos transposto várias barreiras. Abrimos nosso coração e encontramos Deus.

Contemplando as estrelas, fizemos os brindes: A Deus, à família e aos bons amigos e leitores.

Saúde !!!

Os 10 mais: Você nunca vai ver no rotulo de trás de uma garrafa de vinho


10. A quantidade de cervejas que o enólogo tomou pra fazer o vinho

9. O que fazer se um problema na rolha estragou o vinho

8. Um tributo à esposa

7. Um discurso político (porque não cabe)

6. Um sugestão para compatibilizar o vinho com o fígado de boi e cebola refogados em um molho balsâmico

5. O nome da pessoa que elaborou o rótulo de trás da garrafa

4. Lista de ingredientes, fora as uvas, usados no vinho (Você provavelmente não iria querer saber)

3. Um pedido de desculpas pelo alto teor alcoólico do vinho

2. Preço sugerido do vinho

1. A descrição dos benefícios do vinho para a saúde

M

Em uma época sem internet conheci Elizabeth McTarry ou “ M” como eu costumava chamá-la. A pequena inglesa de cabelos vermelhos e ares de realeza conseguiu me carregar para uma viagem à Europa por quase um ano. Era divertido porque se as festas não eram móveis como as do Papa, eram muito baratas. Nas “pontes”, fins de semana emendados com feriados pegávamos nosso bravo Peugeot 202 e nos perdíamos pelas estradas e paisagens européias.

Não precisava fazer reservas, bastava chegar à cidade e procurar um quarto barato. Em Berna uma mulher, com óculos que a deixava com o rosto de uma vespa, nos atendeu no “Bureau Touristique” e sugeriu que pegássemos um hotel maravilhoso por apenas 5 dólares. Apesar da insistência da M, resolvi ficar no hotel indicado.

Antes de irmos ao hotel decidimos provar uma Fondue que até então nem eu nem ela sabíamos o que era, mas o garçom se recusou a servir sob alegação que o dia estava muito quente para comer um prato tão forte. Argumentamos que nós comemos feijoada em pleno calor brasileiro, mas o boçal do suíço não só não sabia como era o calor do Brasil, como não fazia a menor idéia do que era uma feijoada. Tivemos que nos contentar com um mero Bundenerfleisch com vinho suíço. Ela, duas taças. Eu uma garrafa mais alguns martinis.

Saímos tortos do restaurante. Eu por beber demais e ela por tentar me segurar. Chegamos ao hotel indicado por volta da meia-noite. Acabei adormecendo por baixo de um travesseiro macio e refrescante.

A paz durou pouco. Exatamente um minuto.

Um alto-falante começou a dar berros em alemão, faróis percorriam nosso quarto. Não estivéssemos na Suíça, porque ninguém bombardeia os cúmplices, diríamos estar sob ataque aéreo. O barulho de trem deu a dica, o hotel ficava do lado da estação. O ruído era ensurdecedor, mas era só esperar o trem partir. Só que depois veio outro e mais outro. Um a cada minuto. Nunca vi tanto trem na minha vida - estes miseráveis devem estar inundando a Europa toda com relógios cuco - pensei.

M estava irritadíssima. Primeiro com meu desempenho etílico na noite anterior e depois com o ruído trem.

M, falei rindo e com a voz ainda mole como o resto do corpo, não se preocupe. São só 7 da manhã. SETE! Meu número predileto! Sabia que temos um herói chamado Super Sete? Ou seria uma marca de roupa de fantasia... Não lembro! Recepcionista, aqui é o Super Sete! Por favor, assim que esse hotel chegar à Zurique pode nos avisar para desembarcamos?

Obrigada super sete, respondeu M tirando o telefone da minha mão, mas você está mais para um zero a esquerda. Não, dois zeros a esquerda. Você tinha que escutar aquela mulher com cara de vespa?

Visualizei o número na minha cabeça: Zero Zero Sete... Na hora imaginei uma versão infantil da propaganda de sapatos sete cinco dois da Vulcabras . Ao invés do Maluf colocaria algum personagem do Vila Sésamo dando depoimento. De preferência algum narigudo. Ainda bem que viria a fazer matemática, seria um péssimo publicitário. A vida é providencial em alguns casos.

Elizabet Mctarry hoje é Mrs Fleming, casada com um escritor inglês. Ela ainda preserva seu apelido assinando com um majestoso selo de cera: “M”.

De repente uma carta me surpreende. Mrs Fleming me convida para o lançamento do livro de seu marido em Londres e oferece sua casa para me hospedar. O evento seria poucos dias depois das festividades de ano-novo.

Resolvo fazer as malas e começar por Paris. Penso em um rápido roteiro mental que faz meu espírito vibrar com a possibilidade de uma visita ao velho mundo e um reencontro com “M”, uma boa amiga.

Ambos, encontros inusitados.

N.A : Espero que isso dê em algo no mínimo interessante :/

O "'As" de James


Eu viria a contar essa história anos depois para minha amiga inglesa, Elizabeth McTarry, ou “M” como eu a apelidei. Ela se divertia e pedia para contar a mesma história várias vezes sempre que me via. Nunca achei graça, muito pelo contrario. Sempre achei a história de James triste.

Era uma noite fria em São Paulo em uma época em que ir para o interior do estado de trem ainda mantinha certo romantismo e um clima “noir”. No trem, apesar de não permitido, o jogo de cartas acontecia em um vagão clandestino usado como cassino o que era um convite a pessoas de todo tipo de estampa. Das mais finas as mais vulgares.

Na cabine, eu e um distinto senhor elegantemente trajado, de idade avançada o que não impedia a qualquer um notar seu ar de “bom vivant” e seu semblante aquilino demonstrando que ainda era uma espécie de “macho alfa”. Ambos lutávamos contra o cansaço procurando o sono pela janela, olhando a imensidão da noite até que o tédio nos venceu e como se pensasse alto ele começou uma conversa.

Filho eu passei essa vida toda lendo os rostos das pessoas. Sabia quando mentiam, sabia quando blefavam pelo simples movimento dos olhos e se não se importa, eu vejo que você está sem um Ás seja qual for o jogo que está jogando nessa vida. Deduzo que pelo que está lendo gosta de vinhos e agora confirmo pelo seu sorriso então desculpe a invasão, mas se tiver uma garrafa com você ficaria feliz de compartilhar-la e em troca posso te dar alguns conselhos.

Li uma vez que “Conselhos nada mais são que uma forma de nostalgia”. Isto para quem os dá, mas nem sempre é agradável para quem os ouve. Ainda havia muitos kilometros de trilho e aceitei a proposta.

Mortalmente silenciosa, a noite pareceu cair sobre o semblante daquele senhor.

Bonderlei .

Desculpe senhor, é um vinho do porto...

Sim eu sei. Bonderlei, James Bonderlei é o meu nome. Coisas de mãe, ela era apaixonada por meu pai Vanderlei que era condutor de bondinhos. Quanto ao vinho, nunca foi minha bebida preferida, no entanto a simbologia é perfeita para este momento e acredito que o vinho também o será.

Antes que eu pudesse me apresentar ele começou: Nessa vida, você tem que saber jogar. Saber quando esperar, simplesmente parar por um tempo, saber quando disparar em direção a algo. Se você ganhar uma rodada, espere. Não pense na vitória e muito menos na derrota. Não existem vitórias ou derrotas antes do jogo acabar. Não as contabilize, pois são apenas formas de treinamento. Você terá tempo de sobra pra contá-las realmente quando o jogo acabar porque somente assim você saberá se foi ou não vitorioso.

O segredo de sobrevivência desse jogo é que a cada rodada há um ganhador e um perdedor e o melhor que pode fazer é esperar pela melhor mão de cartas. Às vezes você terá um Ás , mas mesmo assim terá que contar apenas com você e não com a sorte mostrada.

Com um olhar cansado desapareceu naquela escuridão deixando pra trás seu corpo e suas últimas palavras, seu último Ás sob a manga.

Os 10 mais: Encontros inusitados do vinho no cinema

Quando se trata de filmes, nossos vilões geralmente usam algum tipo de substância ilegal, e nossos heróis raramente bebem, porque eles são heróis, ou são anti-heróis e quando bebem, tomam uísque, uísque, uísque, licor ou alguma outra bebida destilada. Fiquei surpreso com a quantidade de comentários e e-mails. Corri pro youtube pra caçar essas cenas e inclui-las na postagem pra ficar mais divertido. Alguns filmes eu nem conhecia ou sabia que tinha vinho em cena.

Obrigado a todos e aqui vai a seleção dos 10 mais citados por vocês nos comentários e nas mensagens via e-mail:

10. O Poderoso Chefão




9. Esse mundo é um hospício


8. Casablanca


7. Surpresas do Coração


6. Caminhando nas Nuvens


5. Estomago (Esse tinha que ser o número 1!!! Fantástico)


4. A Festa de Babette


3. Um bom ano


2. Mondovino


1. Sideways

Quando o cinema encontra o vinho


Acredito que além de vinho quase todos gostam de cinema. Se você se lembrar de uma cena de algum filme onde o vinho seja coadjuvante ou ator principal que tenha ou não tocado você de alguma maneira, compartilhe conosco comentando ou passando e-mail para zainer@yahoo.com. Mesmo que o filme que você escolher já tiver sido citado não tem problema, pode comentar e dizer o que você acha.

Série Homem Rubinato: O primeiro cliente a gente nunca esquece.


Juça que havia já se tornado uma celebridade no mundo dos vinhos (essa foto faz parte de um dos seus disputados kits de treinamento em vinho vendidos apenas nos eventos em que participa para evitar pirataria das informações em blogs de vinhos) resolveu expandir seus conhecimentos e comprou um dicionário inglês - português e um livro que encontrou em um sebo no centro da cidade chamado “Build a Cellar for dummies” .

Pouco tempo depois já se apresentava como expert na construção, manutenção e administração de adegas complexas atuando em clientes no Japão, China e Indonésia e com rápidas passagens pelos caminhos das Índias, Londres e Albuquerque.

Pouco menos tempo depois já apareceu seu primeiro cliente. Morando em um luxuoso apartamento em Alphaville, caixas de vinho se amontoavam no quarto da empregada que dormia em um colchonete sobre elas.

Estou desesperado senhor Juça, confessou o cliente, esta promiscuidade adega-empregada me obriga a só comprar vinhos em caixas de madeira, que são mais caros, a Genoveva não consegue mais limpar o rodapé por causa da dor nas costas e, o mais grave, já comemos dois “Coq au Lafite”.

É...muito grave, sentenciou o expert, e tem mais: O vinho nãp pode ser guardado em caixas porque elas permitem o aparecimento de cupins que comem as rolhas e os defensivos aplicados na madeira dão ao vinho um gosto desagradável, as vezes chega a ser fatal.

Se a madeira é tratada com anti-cupim, como podem aparecer cupins? Perguntou o cliente. Esta não estava no livro e Juça improvisou: É que o cupim brasileiro é bicho ruim e tira de letra esses defensivos franceses que eles passam nas caixas que é especifico pra cupim europeu.

O apartamento era realmente grande com muitas paredes sem janelas, de modo que o Juça bolou uns painéis corrediços, a 40 centímetros da parede, instalou um “breezaire” para manter a temperatura, prateleiras de ferro arredondado pra facilitar a circulação do ar e adicionou um software para localizar as garrafas.

No mês seguinte, o cliente ligou, a adega ficou ótima, mas sobraram muitas garrafas. Vamos falar com o síndico e fazer uma adega no hall dos elevadores, sugeriu Juça. Não precisa, o síndico sou eu, respondeu alegre o cliente.

Mas ainda sobraram garrafas porque o cliente era compulsivo e sempre que arranja lugar pra todas, comprava mais.

Juça ofereceu uma nova idéia. Fez um minucioso levantamento dos restaurantes que permitiam aos clientes guardar vinhos, estabeleceu um programa de jantares, despesas reembolsáveis – claro – e em cada um deles negociou o aluguel de um escaninho para o cliente. Aproveitou também para levar a esposa pra jantar nos melhores restaurantes da cidade. A secretária também aproveitou umas e outras, embora neste caso ele tivesse de arcar com as despesas do Motel.

Mas o cliente voltou a ligar. A Receita Federal estava levando os usuários de adegas em restaurantes e cruzando o valor dos vinhos com a declaração e a explicação de que os onze Petrus 1961 só tinham valor sentimental porque a data de validade estava vencida, não havia convencido o Leão.

Juça propôs fazer uma adega no sítio, o cliente não tinha sítio, tinha apartamento em Ubatuba, que foi vetado porque na praia dá muito mofo e sempre falta luz. Venderam o apartamento de Ubatuba e compraram um sítio em Vinhedo, porque Juça achava que com este nome fechava uma cabala positiva.

Fizeram a adega dentro das melhores praticas do ITIL, num local amplo, com um potente climatizador e levaram todos os vinhos que estavam espalhados pelos restaurantes pra lá. A coleta dos vinhos redeu mais uma rodada de jantares para Juça e a esposa. A secretaria não, porque não podia beber por estar grávida.

O cliente ligou (Relaxem... ele vai ligar até o fim da história). O vizinho do sítio foi assaltado e os ladrões levaram toda sua coleção de wiskies. Juça argumentou que ninguém roubava vinhos e o cliente concordou, mas temia que os ladrões irritados pela falta de wiskies quebrassem os vinhos por vingança.

Juça , eficiente e expert, prontamente mandou colocar uma porta de aço com fechadura reforçada com leitura de íris e digital. Criou uma ante-sala com uma falsa adega e colocaram cerveja, wisky e cachaças para os ladrões.

Acho bom colocar uns vinhos também, porque como vinho está na moda é possível que os ladrões também queiram algumas garrafas. Sugeriu sensatamente nosso expert.

Novamente, ligou o cliente.

Os ladrões haviam entrado, arrombaram a porta de aço da adega com um maçarico, quebraram uma garrafa e escreveram com o vinho na parede: Cadê os “dólar” mano? Na próxima a gente quebra tudo.

Ainda bem, ponderou Juça, que só quebraram uma garrafa.

É, só uma. Mouton 1945. Magnum, aquiesceu o cliente.

Juça decidiu substituir a fechadura por um comando por voz, de modo que a porta ficou lisa como uma parede e foi disfarçada com uma daquelas fotos ampliadas com paisagem das montanhas suíças que todo mundo usa pra disfarçar portas.

O cliente levantou uma dúvida. Os ladrões poderiam ouvir o motor do climatizador atrás da parede de aço. Juça sorriu: Eu já havia pensado nessa possibilidade. Vamos colocar um interruptor na porta da adega falsa. Quando ela estiver aberta, o condicionador não funciona.

E adivinhem... O cliente ligou. Os ladrões entraram e só roubaram a adega falsa, mas deixaram a porta aberta e sem refrigeração. Os vinhos foram pro brejo. “Acho que agora o senhor não tem mais idéias, não “seu” Juça” ?

Engano seu meu amigo. Idéias eu as tenho e muitas, mas vamos ao que interessa: Será que você ainda tem vinhos?

Os 10 mais: Situações e o vinho


O vinho é citado na Bíblia e foi bebido por Jesus Cristo na última ceia, quando, ao ofertá-lo aos apóstolos, o Senhor disse que ele simbolizava seu sangue. Na mitologia grega foi um presente de Dionísius, o Deus das festas e da alegria, para que o homem tivesse uma bebida adequada para comemorar. Sem dúvida, os efeitos inebriante e euforizante do álcool associado ao prazer, foi um dos grandes fatores de popularização da bebida tanto nos tempos antigos como no mundo moderno e por isso os dez mais dessa semana destaca vinho indicado para algumas situações.

Os 10 mais: Situações e seus vinhos

10. Comemorar um casamento gay
- Definitivamente um assemblage como um Shiraz-Cabernet australiano com toques de fruto carnudo da shiraz e a estrutura do cabernet, assim como o amor legalmente sancionado

9. Comemorar um casamento hetero
- Agora aqui cabe um espumante brut nacional que deve ser bebido ainda jovem se bem que teoricamente foi feito pra envelhecer.

8. Levar um fora da garota ou um pé na bunda da esposa.
- Banyuls e Porto Tawny são perfeitos, auto-indulgentes. Eles suportam bem sobremesas de chocolate e mais, aguentam firme até mesmo um litro de Haagen-Dazs.

7. Dar um fora em uma garota ou um pé na bunda da esposa.
- Qualquer vinho alcoolico com um amargor final cairá bem. Um Amarone italiano é provavelmente o mais indicado. Mas esqueça a taça Ridel, nete caso o ideal é um copo de vidro de requeijão.

6. Sentar com a esposa para rever o orçamento doméstico.
- Vinho de garrafão pra você não lembrar da grana que gasta com vinhos caros e a " patroa" esquecer de inclui-los na lista de corte.

5. Conhecer a familia de sua namorada pela primeira vez.
- Experimente um vinho de corpo médio que agrada a quase todos os paladares, sem muita madeira, tanino ou alcool. Eu chamo isso de vinho curinga que pode ser usado pra acompanhar massas e carnes. Um Merlot da Valduga.

4. Sair de casa pra morar sozinho(a)
- Agora você pode ir pra regiões mais desconhecidas do grande público como o sul da africa, Nova Zelandia que produz vinhos fantasticos. Sua familia vai ser agradavelmente surpreendida com a forma palatável. Tanto do vinho quanto da noticia da sua saida de casa.

3. Jantar na sua casa com o cunhado prestes a pedir dinheiro emprestado.
Suco de uva Tang mas se o cunhado for legal pode subir o nível pra uma Tubaina.

2. Relaxar após um dia arduo de trabalho.
Escolha um vinho que você possa saborear devagar como um Riesling Alsaciano que tem baixo teor de alcool e é rico em sabor. Assim você não desmaia no sofa antes do jogo, novela ou da sua série de ação favorita

1. Seduzir uma mulher.
Use Pinot Noir, uma das uvas mais romanticas que existe. É tão dificil cultiva-la mas quando consegue se produzir um bom vinho ele é sedutor e sublime. Minha dica vai para o Pinot Noir produzido Kim Crawford da Nova Zelandia.

Você e o vinho



Essa semana estou com a cabeça voltada para outros assuntos e não consigo me concentrar pra escrever algo interessante. Nem com o Juça eu consegui conversar para saber qual sua mais nova idéia.

De qualquer forma não quero deixar o blog sem postagens e muito menos gastar meu tempo ou o de vocês com superficialidades. Por isso pensei em pedir a ajuda de todos que acompanham e enriquecem com seus e-mails e comentários esse blog, convidando-os a compartilhar suas histórias ao redor vinho. Como foi seu primeiro contato com o vinho ? O que ele despertou ou desperta ?

Um forte abraço e obrigado!

Série O Homem Rubinato: Técnicas de Vinho-linguistica

Estava eu a tomar meu Porto de todo noite em companhia de um bom livro quando aparece, do nada, o Juça.

Oi Juça! Que mandas?

Estou preparando minha primeira palestra de Técnicas Vinholinguisticas Juça, me explicou que o vinholinguista é uma nova profissão que não só ensina técnicas nas palestras, mas também cuida do seu vinho. Monta sua adega, harmoniza com pratos.

Mas isso ai não é o que um sommelier faz ?

Não. O sommelier, explicou o Juça, apenas orienta. O Vinholinguista participa do seu prazer.

Mas Juça, você não entende nada de vinhos.

Verdade, mas eu assisti a 4 palestras sobre os 5 melhores vinhos do Chile.

E você acha que porque degustou 5 vinhos chilenos já é um conhecedor?

Você não entendeu... O professor era sempre o mesmo, o titulo da palestra também era sempre o mesmo. O que mudava eram os vinhos. Então tecnicamente eu provei os 20 melhores vinhos do Chile.

Juça, o melhor vinho do Chile pode mudar a cada nova palestra. É um conceito muito subjetivo, não é o bastante pra você entender de vinho.

De vinho...vinho mesmo...eu não entendo nada mas aprendi que com um bom recurso multimídia, musiquinha, clips e um sotaque inglês pra falar Blueberries, currants você não precisa entender de vinho pra fazer palestra. Mas eu vim aqui pra treinar e já que está tomando um Porto, podemos começar: Todos juntos....pensamento na taça..Limpe os dedos da taça...a taça...Segure a taça...a taça....pelas hastes...segure as taças...

Todo mundo de pé e balançando...

Let´s Go Pessoaaaaaaal! Levanta a taça, bota o nariz, enfia esse nariz sem medo, inspire, feche os olhos, aspire – Sem desanimar!!!!Inspire, aspire, gira horário...agora anti-horário..Igual na ABS...olha os aromas...é flor, é pau, é pedra!

ANIMALLLLLLLLLLL!!!! Ta empireumático já isso aqui !!!!

Junto comigo, rola a língua pra frente, rola a língua pra trás!!

Meu Porto já era, mas pra manter o astral e preservar o amigo eu pergunto:

Juça, agora você quer que eu engula ou cuspa?

Minhas Revelações sobre Vinhos


No inicio desta semana A Senhora fez uma brincadeira para que cada um de nós mostrássemos nossa lista dos 10 "cartões vermelhos". Achei muito interessante e resolvi criar algumas listas com os 10 mais sobre diversos assuntos relacionados ao vinho e aqui vai minha primeira lista.

Nós aprendemos sobre nós mesmos e nosso mundo através de pequenas revelações. Eu tive a compreensão de um pouco destas revelações ao longo dos anos em que dizem respeito à minha vida com o vinho. Logo ao lado estão as 10 mais importantes revelações que tive sobre o mundo do vinho.

10. IPHOFER JULIUS ECHTER BERG – TROCKEN RIESLING QUALITÄSTWEIN AP 1996
Este foi o primeiro vinho que falou comigo e meu paladar e me chamou a atenção para observá-lo melhor.

9. Me pagam pra orientar degustações.
Dá pra acreditar?

8. Regiões produtoras de vinho são os melhores lugares para viver
Diga o que quiser sobre o oceano, vistas de montanha, as cidades grandes do mundo e ilhas desertas.

7. Austríaca Ice Wine
Esta é uma revelação recente pra mim. Foi como uma luta violenta com um vestido de veludo na Scarlett Johansson.

6. Não há relação entre o que está no exterior e interior da garrafa
Se você acha que a aparência do frasco tem alguma coisa a dizer sobre o suco de dentro, então eu quero as suas informações de contato porque você é um cliente em potencial para meu novo projeto: A venda das pontes de Madson. Brincadeiras a parte, as embalagens de vinho são muitas vezes um exercício de disfarçar o que está dentro da garrafa.

5. Não leve o vinho tão a sério
Porque quem o vende também não o leva. Quem o produz também não te leva a sério. Eu não te levo a sério. Provavelmente a única pessoa que te leva a sério é você mesmo, então porque não se junta a nós e dê umas boas risadas.

4. Espumante na praia é melhor que cerveja e caipirinha.
Me considerei sonhador, indulgente, hedonista, metido , mas até hoje eu não consigo pensar em nada melhor do que o zumbido de um dia de verão na varanda ou o barulho do mar e a minha própria garrafa de Espumante Brut

3. Críticos, revistas e sommeliers não sabem nada sobre meu paladar
"Este tem 95 pontos? Este ganhou concursos!" E daí ?

2. Porto Dona Maria Antonia Vintage Private Reserva:
Esse vinho é bom, muito bom. O ano era 2005 eu tinha começado a levar meu relacionamento a sério com minha esposa e a introduzi no mundo dos vinhos com este excelente Porto. Não deu outra, hoje é minha boa companheira nas descobertas e revelou-se mais exigente que eu me deixando sempre em dúvida se o vinho que escolhi está bom ou não ou se acompanha bem o prato.

1. Vinho é sempre interessante mesmo que seja só para acompanhar.
Esta é a revelação mais importante que me abateu sobre o vinho. Essa sempre foi a verdade e eu suspeito que sempre será. Parece que essas pessoas que são atraídas para o vinho de uma forma ou de outra são pessoas dispostas a explorar todos os tipos de idéias interessantes, tendem a pensar mais profundamente, tendem a querer conversar mais a sério e levar as piadas menos a sério, tendem a colocar grande ênfase no viver bem. Veja como exemplo você agora que acabou por ler essa lista.

Se você tem uma sugestão para uma lista dos 10 mais ou quer compartilhar a sua, seja bem vindo e obrigado por compartilhar!

Série Homem Rubinato: Na adega com Juça

Tem Pinot Noir? Queria um que não fosse muito caro, nada de safra famosa, mas também não precisa ser de uma safra que faça a gente passar vergonha em algum restaurante dos Jardins. Safra 1998. É que o rótulo foi pintado por um artista plástico famoso. Tem algum pintado pelo Chico Anísio ou pelo Didí? Um tinto e um branco, por favor. Dois mil? Eu consigo fazer consórcio? Dá pra alugar? É que vai ter um jantar lá em casa e a adega ta meio vazia. Vou servir no churrasco só pra ver a cara do metido do marido da minha prima. Tem que ter fiador? Tem meia garrafa? Um cabernet e uma Tubaina de garrafa para as crianças. Me dá umas dez garrafas mas assim...de safras sortidas. Quer que embrulhe ou vai beber aqui mesmo?

Vale a pena experimentar