Série Encontros Inusitados: Beethoven


Até onde pesquisei e estudei sobre a história do vinho, especialmente o do Porto que tanto aprecio e admiro, e do pouco que li sobre a vida de Ludwig Von Beethoven, nunca soube que esses dois monstros sagrados da humanidade tenham se cruzado um dia, nem Beethoven compôs uma Sonata para esse vinho, nem o vinho do Porto esquentou o coração do gênio da música. Como nada disso é empecilho para me atrever a criar um encontro inusitado lá fui eu tentar imaginar uma situação pitoresca entre esses dois personagens que tanto aprecio e quase sempre me acompanham quando sento a noite pra papear comigo mesmo.

Há algumas semanas com minha esposa e filhas, fomos a um concerto na sala São Paulo. No programa daquela noite, duas obras de Beethoven, o concerto para piano e orquestra n° 5 Imperador e a Sinfonia n° 5, a famosa Sinfonia do Destino. Nunca imaginei ver e sentir o meu vinho do Porto com tanta vibração, vou tentar explicar: O concerto para piano e orquestra n° 5 em mi bemol maior, o Imperador opus 73, composto em 1809, exige um virtuosismo superior do pianista, que faz grandes variações sobre o tema, e em segundos deve ir de romântico para guerreiro e sem perder o rebolado (ops! A classe). O primeiro movimento, Allegro, é vigoroso como um Porto Ruby, jovem de até três anos, tal qual como nasce um Vintage. Esse Porto é rico em cor, pode ser chamado de retinto ou encarnado, seus segredos constituem-se em ter o álcool bem casado, ou seja, a aguardente harmonizada ao vinho na elaboração do mesmo, bem integrada, não agredindo as narinas na olfação e uma grande explosão de frutas maduras, destacando-se a framboesa. Sua prova é envolvente, a boca fica plena de fruta vigorosa e a permanência desses aromas e sabores à boca é persistente, bem longa.
O mesmo ocorre com esse movimento, cadente, repetitivo, brilhante, sonoro ao extremo, no qual a alma toma o lugar das papilas gustativas, fazendo permanecer, por longo tempo, o compasso na memória.

O segundo movimento é romântico, lírico, um poema de amor. É límpido e envolvente como um Porto Colheita com mais de 50 anos. Tem aromas de uma boa passagem pela madeira e as frutas secas formam sua maior essência. Perfuma o ambiente tal qual essa melodia que até as paredes se calam para ouvi-Ia.

No final um Rondó, Allegro ma non troppo, convida a um bom Porto LBV, do mesmo ano de um grande Vintage, com muita força, raça e plenitude na boca, envolvente, fazendo lembrar um caldo de framboesas bem maduras.

O que dizer da 5° Sinfonia, chamada a do Destino, cuja sonoridade de suas quatro primeiras notas realmente faz criar na mente e na alma a sensação do destino batendo a nossa porta.

O povo português pode e deve orgulhar-se de ser o único entre todos na terra a ter uma identidade líquida, o vinho do Porto, que mais do que vinho é a alma portuguesa na forma líquida.

Só um Porto se compara à 5° Sinfonia de Beethoven, o Vintage. Tão raro quanto esta grande obra, o Vintage é um capricho da Natureza.

Enfim, feliz daquele que pode provar, simultaneamente, essas duas obras mestras do Homus Sapientes, o som de Beethoven e o vinho do Porto.

*Isso é bom !

7 comentários:

Anônimo disse...

Isso foi uma delícia!! :)

bjs

Roberto Andion disse...

.........como ficaria uma cronica abordando a nossa "cachaça" tão identificada com nosso povo e o "Carnaval", vou pedir-lhe licença para continuar elocubrando o tema, e necessito ajuda.....Boa noite Roberto Andion
roberto-andion@uol.com.br

PreDatado disse...

Pois o texto está delicioso. Vou brindar com um vintage. É um verdadeiro hino à alegria.

Zainer Araujo disse...

Senhora e PreDatado, um brinde ! Obrigado!

Roberto, vamos pensar juntos ! Tem alguns textos que escrevi há algum tempo atrás para um jornal e que alguns continuam disponiveis no site http://www.vinhosevinhos.com/ler_artigo.asp?id_artigo=177&id_categoria=9

Abraços !

Andre Martin disse...

Ahá! Você mudou a foto do blog! Achei melhor que a outra, e depois lhe digo depois, por chat. Por que depois? Ora, porque sou um chat(o).

Também lhe passarei uma dica de como colocar o endereço web acima como link clicável dentro do comentário.

Aliás, fui ler o Deu samba no vinho! e fiquei frustradíssimo porque você menciona mas não transcreve o samba-enredo homenagem ao vinho... Tudo bem que a gente pode correr atrás e pesquisar na internet para achar, mas já que o texto estava abordando ali, bem que já podia fazer o serviço completo pra gente! Senão, vai que a letra desaparece tal qual o Champanhe Mônaco!... rsrsrs

Zainer Araujo disse...

André, tem razão meu amigo. Vou ser mais cuidadoso e de chato você não tem nada porque tambem acho que nos detalhes pequenos é que a gente vê as diferenças (ou não..dependendo do tamanho - essa foi In-Fame)

Vou procurar a letra do samba e postar no blog.

Abraços

Unknown disse...

Sem querer, a procura de outra coisa, cai nessa página e como nada é por acaso fui brindada por esse texto bem saboroso e melodioso. Apesar de já ter sido escrito o ano passado me senti tentada a escrever. Nesse reveillon estarei em Porto e certamente irei me lembrar de suas palavras. Parabéns! Agora vou ler os demais.

Daisy Jardim

Vale a pena experimentar