Nosso preconceito com o Vinho Brasileiro

Seja franco: Você torce o nariz discretamente quando lhe oferecem uma taça de vinho brasileiro? Passa rapidamente pela prateleira das lojas e dos supermercados onde estão os rótulos nacionais e nem dá uma paradinha para olhar?

Uma vez ou outra compra uma garrafa mas não tira o olho daquele vinho argentino ou chileno mais barato que um amigo, mesmo de gosto duvidoso, indicou? Se você respondeu que sim a qualquer uma dessas questões, não há necessidade de se envergonhar nem de se vangloriar,mas é necessário dizer que você está deixando de descobrir muita coisa interessante e, de quebra, ficando de fora da evolução da indústria vinícola nacional.

Entre as causas do preconceito em relação ao vinho nacional, encontram-se os anos de produtos de qualidade inferior e a nossa necessidade pessoal, como brasileiros, de ser reconhecido como “cidadão do mundo globalizado”, consumindo produtos de outros países.

Na minha ultima visita a avaliação nacional, fiz questão de anotar algumas posições de ícones da nossa viticultura sobre o assunto :

“O brasileiro tem um valor de base de que o importado é sempre melhor. Em muitos casos – e em muitas faixas de preços –, precisamos ser mais bairristas, como fazem os argentinos e os chilenos, e consumirmos o produto nacional” - Jane Pizzato

“Temos que matar um leão de manhã e um tigre de noite para sobreviver neste mercado, temos desafios todos os dias. Você tem que fazer vinho bom e ao mesmo tempo cuidar de sua marca, divulgá-la, reforçá-la” - Fabio Miolo

Nesse sentido, se há um ponto comum entre todos os produtores, é a questão do marketing, independentemente da diferença de volume de producao entre eles. Todos os sobrenomes de famílias, que são nomes de empresas (Salton, Miolo, Valduga, Pizzato, Dal Pizzol etc), e as novas empresas, Dezem (do Paraná), Villa Francioni (de Santa Catarina) e ViniBrasil (em Pernambuco), entre outras, sabem que no país o preconceito com o produto nacional é tão pesado quanto a carga tributária. Contra ele, só as armas do marketing.

Uma tentativa ainda frustrada de fazer o vinho entrar na categoria dos alimentos (como já é realidade em outros países), por conta de seus benefícios comprovados para a saúde. Infelizmente, as autoridades brasileiras ainda não se convenceram de que as pessoas que bebem vinho fino raramente são alcoólatras de mesa.

Outra idéia importante é fazer uma ação conjunta para reforçar a imagem do vinho brasileiro que mais ressonância tem no mercado: o espumante. Consagrado aqui e no exterior, a qualidade dos espumantes brasileiros deixa orgulhosos os produtores e os consumidores, mas ainda falta muito e cabe a nós enófilos, donos de adega ajudarmos nessa tarefa divulgando e apresentando nossos bons vinhos nos eventos que participamos.

“O Brasil tem uma culinária rica e variada, vinda de múltiplas influências, isso facilita muito a harmonização com nossos vinhos tranquilos e com os espumantes” - Jane Pizzato

“Eu costumo dizer que para cada garrafa de 750 ml de vinho, nós pagamos de impostos o equivalente a 320 ml, por conta dos tributos em cascata que incidem tanto sobre os insumos do vinho quanto sobre o produto final” - Fabio Miolo

Ainda tem a luta injusta contra a enxurrada de vinhos estrangeiros de baixa qualidade com preços que nossos vinicultores jamais serao capazes de enfrentar com a carga de impostos que existe hoje. E mesmo que esse fenômeno seja autolimitante – o apreciador de vinhos pode até ser tentado a provar um vinho barato estrangeiro, mas ao perceber que o vinho não é bom, ele não o comprará mais –, em princípio, ele cria uma concorrência que o produto nacional ainda não tem cacife para enfrentar, principalmente ao levar-se em conta a decisão primária tendendo fortemente ao vinho importado.

“Nosso problema não são os vinhos importados que custam mais de 25 reais por garrafa, mas sim os vinhos que custam cinco reais a garrafa. Contra eles temos que fazer divulgação de nosso produto, pois o brasileiro, apesar de preconceituoso, não é trouxa. Ele percebe que esse barato sai caro” - Antonio Salton

“Eu estou otimista, o vinho que fazemos nesta região fria está tendo uma excelente resposta do mercado, isso me faz pensar que estamos no rumo certo, embora eu reconheça que temos algumas dificuldades no caminho” - Joao Paulo Freitas

Em meio a tudo isso tive o prazer de almoçar com o representante de um grande país produtor que faz questão de ter vinhos brasileiros em sua carta é o italiano Vincenzo Venitucci, sócio e da La Rita all’Osteria dei Venitucci, em São Paulo, que, sem nenhum rodeio e comum sorriso no rosto, afirma achar uma cafonice não provar vinhos brasileiros.

“Não entendo por que algumas pessoas são tão pávidas diante de um copo de vinho. Basta pegar, provar e dizer se gostou ou não. No mínimo você vai se divertir”- Vincenzo Venitucci


Cabe a nós e ao mercado seguir o conselho de Vicenzo. Se tiver ainda alguma dúvida sobre nossa qualidade, veja o vídeo abaixo com uma degustação as cegas e tire suas próprias conclusões.

7 comentários:

Cacá Azevedo disse...

O nosso não né cara pálida, o seu! O título da matéria dá a entender que voce tem preconceito também.

Eu amo vinho brasileiro. Bjs!

Marcela Gomes disse...

Eu vou ser sincera,as vezes nem passo perto, ainda acho os preços pouco convidativos. Mas confesso que no caso dos espumantes minha primeira opção são os nossos brazucas

Ana Silvieri disse...

Eu gosto dos vinhos nacionais e acho que estamos no caminho certo. Temos tecnologia, temos enologos, terras e bons frutos. Falta ainda melhorar os impostos mas vamos ser claros: Isso não acontece só com os vinhos...a discussão seria outra que se abrirmos aqui...sinceramente sentiríamos o amargor da política

Bruno disse...

Eu concordo com a Caca, voce pareceu bastante preconceituoso nesse seu artigo. Voce é ? rs

Chico Soares disse...

Pelo pouco que conheço do Zainer, preconceito com relação a vinho, acredito que ele não tenha. No meu caso eu realmente passo as vezes direto pela gondola de vinhos brasileiros mais por questões de custos que qualidade.

Paula Raskin disse...

Um post desse não é preconceito é iniciativa. Parabéns, adorei.

Anônimo disse...

Os vinhos brasileiros ainda estão em fase de amadurecimento e posicionamento no mercado mundial e principalmente nacional. Os nossos vinhos, por incrível que possa parecer, são mais valorizados fora do que aqui no Brasil. Enquanto esse posicionamento mais forte não acontece, recomendo a degustação dos vinhos Pizzato e Salton (Desejo e Talento).

Cesar Poppi
http://nossovinho.blogspot.com

Vale a pena experimentar