Amigos e vinhos, mulheres à parte



O filme Sideways – entre umas e outras, estrelado por Paul Giamatti e Thomas Haden Church me parece que foi um dos primeiros filmes que tem o vinho como um dos principais elementos e fez um enorme sucesso, ao meu ver, principalmente porque foi lançado no inicio dessa febre toda sobre vinhos. No cinema a história realmente "não me pegou" e nem tentei assisti-lo novamente mesmo o DVD custando R$9,99 nas Americanas. No entanto fiquei supreso com o livro que deu origem a ele: Amigos e vinhos, mulheres à parte, do escritor americano Rex Pickett que acabei por ler nesta última semana.

De leitura fácil e um ritmo interessante que me fez entender porque acabou indo para o cinema. Nele, Miles vê essa sua viagem pelo Vale do Napa com seu amigo Jack – até pouco tempo um solteirão incorrigível – não só como uma despedida de solteiro, mas também como o fim da relação de amizade que eles mantiveram por tantos anos, pois são amigos desde os tempos da faculdade. Após o casamento, Jack terá outros afazeres, assumirá responsabilidades, e terá de se afastar dos amigos, se quiser ter sucesso na vida de casado. É o que pensa Miles.

Jack vê a viagem com outros olhos. Para ele, aquela é a sua última chance de conquistar mulheres e aproveitar seus últimos dias sem aliança na mão esquerda. Além de ser uma ótima chance para ajudar o amigo a conseguir uma garota, coisa que Miles não consegue há tempos.

A vontade do “escritor frustrado” é deixar as mulheres à parte. Mas nem bem chegam em Santa Inez e Jack já inicia sua “caçada”.

Ele fica encantado ao ver Maya, garçonete do restaurante que Miles freqüenta quando visita Santa Inez. Ela é uma linda mulher (morena, no livro; loura, no filme), inteligente, divertida, e que entende muito de vinhos. Jack tenta aproximar mais ainda seu amigo da bela garçonete, pois Miles nunca passou do “oi, tudo bem?” e algumas palavras trocadas, sem maiores intenções.

Mas Miles ainda não se recuperou do divórcio com Victoria, mulher com quem foi casado por oito anos e de quem se separou há dois. O que ele menos quer no momento é se envolver com alguém. Suas preocupações são outras: seu livro se encontra nas mãos de uma pequena e respeitada editora, podendo ser aprovado e publicado. E ainda tem em mente a esperança de reconquistar sua ex-esposa.

Ou seja: temos um homem em frangalhos, mas com uma réstia de esperança. Deprimido com o fracasso do casamento – mas ainda pensando em retomá-lo; com a recusa das editoras por seu livro – mas aguardando a resposta de mais uma editora; e quase que ansioso pela morte da mãe, para que possa finalmente herdar o dinheiro deixado por seu pai, e assim se livrar das dívidas.

Apesar disso tudo, Miles tem um bom senso de humor, e o livro não é piegas ou melancólico por conta de suas muitas tiradas cômicas e/ou irônicas. Existem momentos no livro que realmente me fizeram rir a ponto de párar a leitura.

Nem quando as coisas pioram – durante a estadia em Santa Inez, Miles fica sabendo que Victoria casou-se novamente e que seu livro fora recusado mais uma vez – ele perde o bom humor, mesmo sendo ácido e agudamente irônico.

Enquanto isso, Jack se envolve em muitas confusões por causa de mulheres, e vai acumulando uma série de contusões, todas elas se tornam hilárias aos olhos de Miles. Jack pensa até em adiar o casamento, pois conhece Terra (Stephanie; morena no filme, loura no livro), uma sensual garçonete que, segundo ele, transa como ninguém.

O romance de Rex Pickett, cômico e dramático ao mesmo tempo, conta a história de dois homens, suas dúvidas, suas convicções, seus sonhos e seus destinos, que provam que nunca é tarde para amadurecer. Além de ter o vinho como tema constante da narrativa, e responsáveis pelos momentos de maior inspiração do escritor (não sei se embalado por eles ou não).

“O vinho tinha três atos distintos, como qualquer história bem escrita. O primeiro ato revelou uma fruta acre, quase perfumada, diferente de qualquer Pinot Noir que eu já tivesse provado. Então, mais ou menos no meio, pude detectar trufas pretas e pétalas de rosa, harmonizadas, coisa quase impraticável. E depois, no terceiro ato, ele continuava chamando carinhosamente enquanto descia, como voz ecoando plangente por um túnel, e nós lamentando sua ausência.” (págs. 264-265).

Se ainda não assistiu ao filme, não perca tempo; leia o livro. Caso já tenha visto o filme prepare-se para se surpreender com o livro.

Salut !!!

2 comentários:

Anônimo disse...

Não vi o filme, portanto, acredito em você e dar um jeito de ler o livro.
E não tem porque ficar maluco - a vida é bela! :)

beijinhos

Zainer Araujo disse...

nada me melhor que um dia após o outro com uma boa noite de sono no meio. Vou reeditar

Vale a pena experimentar