Eu, o Blog, o Vinho e o Juça

Acho que tudo na vida tem que ter humor e bom senso. Duas faces do mesmo prisma, no meu caso espero fazer uma crítica à ridícula pretensão daqueles que fingem que a degustação é uma ciência exata, se faz pela argumentação sensata, quando argumentos há, ou pela ridicularizarão irônica, quando não há argumentos.

Desde que comecei a fazer os cursos de vinhos da ABS em São Paulo há cerca de 10 anos atrás, sempre achei que a degustação, não é uma ciência exata, aliás, nem sequer é ciência.

Aqueles que como eu tentam escrever constantemente em um blog algo para ser engraçado, mas no fundo tentar criticar posturas duras e afetadas estão sempre ouvindo aquela velha frase , hino nacional da mediocridade, "perde o amigo, mas não perde a piada." Efetivamente prefiro ter amigos que sobrevivem às piadas, mas o corolário desta colocação é que também temos de devolver nosso humor contra nós mesmos para não incorrer em um pecado mortal. Faço isto em vários textos, inclusive em um que causou uma saia justa aqui em casa como quando escrevi sobre uma paixão arrebatadora em uma degustação de Vega-Sicília.

Confirmo que em se tratando de vinho sempre usei minha proverbial ignorância associada a um treinamento analítico de matemático consultor de TI, ou seja, aquele que nada sabe, mas sabe onde estão aqueles que sabem.

Contesto a influência de Parker nos vinhos concentrados, a untuosidade das lágrimas, os enlatados cursos de vinhos feitos em poucas horas com seus aromas de enganação, a função das adegas em restaurantes, as rolhas e outros dogmas.

Aproveito para me divertir com alguns instrutores profissionais de vinho vestindo um colant púrpura de super-herói e tento contribuir para acabar com esta bobagem de achar que se pode somar notas para diferentes aspectos do vinho e obter uma nota conclusiva fora dos circuitos profissionais.

Não leve as degustações a sério demais porque o sentido mais importante na degustação de vinhos não é nem o gosto, nem o olfato, mas a visão, fato que o INRA - Institut National de Recherches Agronomiques comprovou numa pesquisa feita na Faculdade de Enologia de Bordeaux com 57 alunos num intervalo de 15 dias. O mesmo vinho em duas garrafas diferentes sendo uma de Gran Cru Classe e outra de “ Vin de Table”. 50 alunos deram nota baixa para o vinho na garrafa comum e mais alta para o que estava na garrafa de Gran Cru Classe. Apenas 6 reconheceram ser o mesmo vinho.
Mesmo o vinho provado não ter passado por barrica a maioria dos estudantes identificaram a presença de carvalho no Gran Cru, mas não no Vin de Table.
Outra experiência surpreendente provou que a cor influi na percepção de aromas e sabores. Vinho tinto é associado com frutas vermelhas e vinhos brancos com frutas claras ou flores. Quando os vinhos foram servidos em taças pretas, 30% dos alunos se enganaram na identificação e confundiram o branco com o tinto. Servido o mesmo vinho branco duas vezes, mas numa das taças tingido com um corante, os estudantes identificaram no falso tinto os aromas habituais do vinho tinto. Os pesquisadores concluíram que a terminologia associada ao vinho tinto descreve a cor e não os aromas.

Isso mostra que a nossa percepção do vinho é uma construção ou sugestão de nosso cérebro. A primeira mensagem firme recebida, grande vinho, vinho ordinário, cor, através da visão e da informação prevalece sobre as tênues informações do paladar e do nariz.

E é com esta pequena postagem que aproveito para dizer que na próxima semana inauguro a série: “Homem Rubinato” onde meu amigo Juçanir, dividirá conosco seus inventos, eventos e talentos no mundo do vinho. Alguns poderão achá-lo oportunista, espertalhão ou até mesmo um enochato afetado, mas peço que perdoem certas falhas que são tão inerentes a nós humanos e, acredito nos fazem tão interessantes e comuns, divertidos e rabugentos.

4 comentários:

Anônimo disse...

Bom, qualquer que fosse a cor, para mim não poderia ser muito seco. E se fosse meio doce e quando eu sentisse o sabor me lembrasse de coisas boas... esse é o melhor! :)

bjs

PreDatado disse...

Este seu blog deveria ser lido por muito desses super-heróis de collant purpura. Talvez aprendessem algo.

Andre Martin disse...



Uhu! Você publicou um grande e excelente post! Obrigado!

Fizeram uma pesquisa semelhante de olhos vendados e copos neutros, com várias marcas de guaranás e de colas (pepsi e coca)...

E cá entre nós, justiça seja feita, esse tal Juça, é o cara! kkkk

Zainer Araujo disse...

Não sei se o pessoal de collant purpura passeiam por aqui. Acho que eles preferem tomar coca-cola a deixar de serem levados a sério. Por outro lado eu, ou o Juça, se conseguirmos arrancar algum riso já está de bom tamanho podendo o brinde ser até com refrigerante de cola, eu particularmente prefiro Pepsi, ou vinho docinho. O importante é ter motivo pra brindar.

Vale a pena experimentar