Série O Homem Rubinato

Estava o Juçanir numa pior. Já por fazer 6 meses desempregado, levando calote atrás de calote e já se tornando sócio preferencial de clubes seletos como SPC e Serasa onde já é íntimo e chamado carinhosamente de “Seu Juça” pelas incansáveis atendentes.

Num destes domingos, esta Juça folheando os classificados de emprego quando leu: “Procura-se quem conheça Rubinato”.

Não fazia idéia do que era isso, imaginou ser a destas tecnologias novas que surgem do dia pra noite, mas procurando no google viu que era uma bebida.

Mesmo com tão pouca informação, o desespero gera a audácia, telefonou e marcou uma entrevista. Foi recebido por um senhor muito velho de sotaque italiano que pelo traje e forma de falar demonstrava ser uma pessoa muito importante, praticamente um lorde.

O senhor explicou ter recebido de herança de seu pai, que havia recebido do avô, uma garrafa de Rubinato para ser bebida na noite do dia 31 na virada do século, mas devido a um engano da cozinheira o usara para temperar um pedaço de alcatra e ele estava perdido porque se lembrava apenas, vagamente ainda, que se chamava Rubinato.

O Juça, confesso, pode ser um cara ignorante e até oportunista, mas é ligeiro como o vento. Quando deduziu que esse tal de Rubinato era um vinho italiano, improvisou: “É duma raridade...”.

E se ajeitando na poltrona continuou: “É bem característico, italiano mesmo...tipo assim...da Itália, concentrado no que se propõe, com um caráter de uva bem nítido, muita personalidade, frutado”

Colocou-se a disposição para dar um curso básico sobre Rubinato, começando pelos fundamentos: O vinho no Egito em vinte lições, pagamento adiantado, claro.

Imediatamente foi em uma grande livraria, mas mudou de idéia. Preferia a Internet, gastava menos e dava pra ler no laptop da esposa. Encontrou muito sobre vinhos, nada sobre Rubinato.

Um dia o velho perguntou-lhe de forma tímida se não poderia fazer uma palestra no Rotary. Juça ficou constrangido porque, como sabe, o Rotary não paga nem o passe de metro e “ eu preciso pensar no Rubinato das crianças”.

A fama logo se espalhou. Já era apontado na ruas. “Aquele sardento lá, sabe quem é ? É o rubinólogo. “ Você sabia que o Ricasoli não engarrafa o Rubinato sem passar pelo rubinólogo. Nosso rubinólogo! “Viaja todo ano pra Itália e França com as despesas pagas”.

Se meteu a escrever em algumas revistas e folhetins de vinhos: “Rubinato e Bom senso com ou sem canja de galinha não faz mau a ninguém”.

Fundou uma confraria: Rubinatunos non Sensis.

Um belo dia chegou um convite pra participar de um júri internacional de degustação de vinhos. O pânico tomou seu corpo e seu ser. Pensou em não ir, mas a noticia já tinha vazado e no dia seguinte sua foto já estava em alguns jornais.

“Nosso Rubinólogo pode presidir júri internacional em Bourgogne”

Na saída de casa amigos e vizinhos com a camisa da seleção brasileira cantavam: “Ru-BI-NA-TUUUU ! UUUUU! UI UI UI ! UUUUUUU. E bebe, cheira engole e cai”

Em Bourgogne foi recebido pelo organizador que logo se desculpou por não ter sido possível encontrar uma única garrafa de Rubinato, razão pela qual faria parte do júri.

Aliviado, achou de bom alvitre expor alguma contrariedade: “Conheço bem Bourgogne, no entanto acredito estarem utilizando muita madeira. Farei o possível para não destoar.”

Imitando os outros jurados ao seu lado, pegou a ficha de degustação, cheirou, bebeu, sacudiu as taças, fechou os olhos usando mais um lado que o outro de uma narina, deu suspiros. No começo deu 83 pontos para todos, mas quando um jurado que estava a seu lado abriu um laptop, Juça fez o mesmo com o laptop que sua esposa havia lhe emprestado. Executou um programa de gerar números randômicos que sempre usava pra jogar na mega-sena, era também um dos únicos programas que ele fez na faculdade e deu certo. Os resultados do programa ele passava pra ficha de degustação.

Ao fim do evento recebeu o premio “Jurado com menor desvio padrão”, aquele que teve o menor erro médio quadrático e mais se aproximara das médias finais.

Na volta, foi recebido com festa, recebeu convites para livros, entrevistas em jornais, tv e revistas.

E assim foi Juça pelo mundo sem nunca ter provado um único gole do tal Rubinato e continua ele sempre a escrever sobre Rubinato. Às vezes alegre às vezes triste, dispersivo , conforme lhe vai o espírito.

6 comentários:

Anônimo disse...

Mas, olha, eu temperaria a alcatra com o Rubinato sem pestanejar! :)

E o Juça está bem longe de ser um parvo, né não? :))


beijocas

Andre Martin disse...

Hahaha

Esta história me lembrou "O Homem que falava Javanês"...

Esse tal Rubinato me lembrou, não sei porquê, Rubinho Barrichelo... Daí talvez se explica por que não se vê ou ouve falar muito do Rubinato nas mídias e nas prateleiras de troféus rsrs

Mas ele se deu bem da terra dos Gauleses... Ele não leu sobre o Rubinato, mas o Gauli leu! kkkkk Que venha o Galileu, também sou seu fã!

Hugo de Oliveira disse...

Gostei do seu blog...viu. Vou te linkar ao meu blog...para voltar aqui outras vezes;


abraços

Hugo

Eduardo Sanches disse...

Gauli leu e eu tambem. Se é Rubinato é do Brasil sil sil sil.

Zainer Araujo disse...

Acho que o Juça algumas vezes até se faz de bobo mas confesso que quando o vi pela primeira vez essa foi a impressão que eu tive.

Agora tenho que confessar e pedir desculpas a vocês e principalmente a Lima Barreto. Sim, essa estória é um plágio de quinta categoria do seu "Homem que falava Javanês". Mas afinal de contas...se for pra ter um referencial que seja um referencial digno né ?

Andre Martin disse...

Olá, Zainer! Mencionei seu blog no meu. É um convite pra participar de uma brincadeira. Obrigado! Abraço.

Vale a pena experimentar