Ananias Casagrade: Detetive Muito Chardonnay pode matar!

O ventilador de teto do bar fazia um barulho constante e monotono. Eu estava esperando por um cliente enquanto pedia um copo de Zinfandel. Pipa tem um bar fuleiro e velho no centro da cidade que agora é considerado retro-decadente e, portanto, um bar da moda. Vai entender. Enfim, Pipa ainda contava com uma fiel freguesia.

Quando meu cliente chegou na porta, Pipa acenou-lhe apontando pra mim com um saca-rolhas. Seu nome era Valdiney Cuper e ele era dono de uma vinícola nas divisas com o Uruguay. "Obrigado por me receber", disse Cuper sinalizando para um Petit Verdot e cautelosamente esquadrinhando o bar. Sua bebida chegou e ele bebeu rapidamente pedindo outro em seguida.

"O que posso fazer por você, Sr. Cuper? Eu perguntei.

"É o en ...", ele gaguejou, seus olhos enchendo de lagrimas, escondeu o rosto nas mãos.

"Calma Valdisney", disse.

"Mu ..." ele murmurou, antes de perdê-lo novamente.

"Sua mulher?" Eu finalmente perguntei.

"O quê?" ele perguntou . "Minha mulher não! Meu enólogo. Ele está me traindo, o bastardo".

Essa era nova pra mim. Todos sabiam que sua esposa, Avagardi , era uma combinação perigosa: inteligente e sedutora, uma mulher equipada com o tipo de curvas que exigia direção hidráulica e muita habilidade. Ao longo dos anos, ela tinha descoberto e investido em enólogos mais jovens do que a denominação de origem do vale dos vinhedos.

"O que faz você pensar", disse eu, tentando contornar a questão da mulher ", que o seu enólogo o trai ?"

"Suas mãos, bem, elas sempre aparecem manchadas de vermelho", ele respondeu com ceticismo.

Dei de ombros, sem entender.

"Eu só faço Chardonnay !" resmungou sob sua respiração.

Levei um tempo para acalmar o pobre coitado, quando ele finalmente me deu o nome e endereço do enólogo. Eu sabia que o cara: Jorge Cluny era o tipo inquieto, casca de ferida. Na manhã seguinte eu estava estacionado em frente a vinícola de Valdisney e segui o enólogo até a praça da cidade, onde estacionou e pegou um taxi. Mudou de táxis três vezes, o que não é tarefa fácil se você não está em um filme de Scorcese . Finalmente, o táxi parou do lado de fora de um antigo armazém onde fui a seu encalço.

"Quem está aí?" Jorge pergunta para as sombras, em seguida, liga uma luz florescente que se esforça em acender. Ele empunhava um pequeno barril no comprimento dos braços.

"O quê? Você vai me matar com um baril ?" Eu perguntei, levantando meus braços para cima. "Eu sou Ananias Casagrande, o detetive ." Olhei ao redor e vi tanques e barris de aço inox de todos os tamanhos exalando cheiro de vinho . "Está fazendo um pouco de vinho aqui, Jorge?"

"Não", ele disse hesitante, colocando o braço para baixo. "Isso, você sabe, é o armazem de um amigo. Estou apenas fazendo um favor."

"Certo," eu disse, andando até ele: "Olha, Jorge, o seu chefe está de olho em você. Não adianta esconder o jogo."

Ele olhou para mim por muito tempo, então respirou aliviado como se tirasse um tanque de suas costas. "O que eu vou fazer?" ele se perguntou: e então virou para mim. "Durante 12 anos o único vinho que eu fiz foi Chardonnay para o Senhor Valdisney . Você sabe o que é fazer a mesma coisa ano após ano?"

"Bem, eu nunca fui casado..."

Sua voz elevou-se nervosamente, disse: "É chato, horrível. Faz o envelhecimento em carvalho frances ou americano, outras vezes no tanque inoxidável, depois uma fermentação maloláctica. Mexe as borras até não aguentar mais. Uso leveduras selvagens, que filtra até o ar do centro de São Paulo . E você sabe, no final do dia, ainda é apenas mais um Chardonnay. "

"Jorge, eu sinto por você, disse ," mas eu tenho que apresentar um relatório ao seu chefe. "

"Não, não ,não", disse ele se ajoelhando, um olhar vermelho em seus olhos. "Gosto dos meus vinhos e você sabe que estou certo, você sabe que eu tenho que continuar. É minha busca! Minha missão"

"OoooookiDoki", disse eu, lentamente me afastando. "Sua missão, com certeza."

Ele me agarrou pelo braço e arrastou-me freneticamente em direção a uma pilha de barris. Mostrou que estava colocando amostras de um Pinot Noir, em seguida, um Merlot.. Eles não eram ruins. Sua voz tornou-se confiante e ele continuou a desenhar no ar o assemblage que estava criando: a Grenache, um Cinsault, três Cabernets diferentes e um Malbec.

Tentando me enrolar, eu disse: "Já tentou a Touriga Nacional ou algo assim:" dando-lhe o meu melhor sorriso.

De repente, ele estava todo cheio de tiques e seus olhos ficaram grandes e assustadores, como uma criança cujos tênis estavam em chamas. "... Eu tenho um barril de 30 litros nas costas", disse ele, me abraçando. "Só tenho essa ultrajante mistura de Aglianico e Nero d 'Avola que eu montei até agora. Esse barril não vale um galão deSangue de Boi!"

Até então, ele estava andando de um lado para outro com um tom distante em sua voz. " O que eu realmente quero fazer é Tannat. Então, talvez, Folle Blanche. Espere. Não! Brancos estão fora... ".

Sua voz sumiu quando ele sussurrou para si mesmo algo incompreensível e se afastou e saindo pela porta.

Entrei no carro e voltei pra São Paulo rapidamente.

Muito Chardonnay pode matar

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