O misterio de se envelhecer graciosamente

Semana de apagar velinhas em um fim de semana sozinho e chuvoso,fui à locadora e aluguei alguns filmes. Assistindo a um filme recente da Sônia Braga percebi que ela não envelheceu bem. Não estou falando aqui da inevitável, natural e bem-vindas ruguinhas e outras tantas características física da ausência de botox, peelings e outras tantas coisas que tentam futilmente retardar a ação do tempo. Estou falando do conjunto... Sônia Braga envelheceu mal.

Por outro lado, Catherine Deneuve conseguiu envelhecer com graça e elegância, por dentro e por fora. E para não dizer que não falei de homens que envelhecem bem, cito Sean Connery. Keith Richards envelheceu mal, muito mal.... Da mesma banda, Charlie Watts envelheceu bem, apesar de já ter nascido com uns 120 anos e estar na casa dos 400.

Onde entram os vinhos nisso? Impossível não comparar vinhos e pessoas. Ambos nascem, crescem, evoluem, atingem um auge, decaem lentamente (ou vertiginosamente) e inevitavelmente morrem. Cada idade tem sua razão e sua beleza. Do frescor da infância a complexidade e sabedoria da maturidade esse é um caminho que nós, e os vinhos, trilhamos.

A ciência nos dá algumas explicações gerais sobre como e por que as pessoas envelhecem, e como isso pode ser retardado, mas felizmente a ciência não pode explicar tudo. Isso também é verdade quando falamos em vinho. Sabemos hoje algumas coisas que garantem a longevidade do vinho, como por exemplo, a estrutura de taninos/álcool/acidez/concentração de fruta. Sabemos da importância do bom armazenamento no envelhecimento dos vinhos. Mas no fundo, ninguém sabe exatamente o que se passa ali dentro daquela garrafa, por décadas esquecida no escuro de uma cave, esperando o momento de ser aberta.

O momento certo de abrir uma garrafa só você pode dizer. Uns guardam vinhos do porto com safras de anos especiais como o nascimento do filho, casamento, etc. Por serem vinhos fortificados tendem a durar mais. Uns guardam vinhos comprados em um passeio a alguma vinícola especial... Enfim... Como quase tudo no vinho é subjetivo vamos nos ater as regras básicas de guarda que são simples como temperatura constante, conservar ao abrigo de luz e odores. A posição horizontal é importante para o vinho entrar em contato com a rolha evitando que ela fique seca e permita entrar ar na garrafa oxidando o vinho.

Vinhos para os quais imaginávamos uma longa guarda podem se deteriorar em poucos anos, enquanto vinhos que teoricamente deveriam durar pouco podem evoluir muito com o passar dos anos adquirindo aromas e sabores complexos. E até um vinho, que certamente já passou há muito do seu auge, pode ser bebido com prazer, pois não é apenas um sobrevivente, é um vinho que envelheceu com graça e guarda uma ou muitas histórias.

Envelhecer graciosamente ainda é um mistério, tanto para nós quanto para os vinhos.

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