As Idades da Razão

Em uma tarde destas chuvosas sem muito que fazer eu fui à locadora e aluguei alguns filmes. Assistindo a um filme recente da Sônia Braga percebi que ela não envelheceu bem. Não estou falando aqui da inevitável, natural e bem-vindas ruguinhas e outras tantas características física da ausência de botox, peelings e outras tantas coisas que tentam futilmente retardar a ação do tempo. Estou falando do conjunto... Sônia Braga envelheceu mal.

Por outro lado, Catherine Deneuve conseguiu envelhecer com graça e elegância, por dentro e por fora. E para não dizer que não falei de homens que envelhecem bem, cito Sean Connery e, coagido pela minha esposa , George Clooney . Keith Richards envelheceu mal, muito mal.... Da mesma banda, Charlie Watts envelheceu bem, apesar de já ter nascido com uns 120 anos e estar na casa dos 400.

Onde entram os vinhos nisso? Impossível não comparar vinhos e pessoas. Ambos nascem, crescem, evoluem, atingem um auge, decaem lentamente (ou vertiginosamente) e inevitavelmente morrem. Cada idade tem sua razão e sua beleza. Do frescor da infância a complexidade e sabedoria da maturidade esse é um caminho que nós, e os vinhos, trilhamos.

A ciência nos dá algumas explicações gerais sobre como e por que as pessoas envelhecem, e como isso pode ser retardado, mas felizmente a ciência não pode explicar tudo. Isso também é verdade quando falamos em vinho. Sabemos hoje algumas coisas que garantem a longevidade do vinho, como por exemplo, a estrutura de taninos/álcool/acidez/concentração de fruta. Sabemos da importância do bom armazenamento no envelhecimento dos vinhos. Mas no fundo, ninguém sabe exatamente o que se passa ali dentro daquela garrafa, por décadas esquecida no escuro de uma cave, esperando o momento de ser aberta.

O momento certo de abrir uma garrafa só você pode dizer. Uns guardam vinhos do porto com safras de anos especiais como o nascimento do filho, casamento, etc. Por serem vinhos fortificados tendem a durar mais. Uns guardam vinhos comprados em um passeio a alguma vinícola especial... Enfim... Como quase tudo no vinho é subjetivo vamos nos ater as regras básicas de guarda que são simples como temperatura constante, conservar ao abrigo de luz e odores. A posição horizontal é importante para o vinho entrar em contato com a rolha evitando que ela fique seca e permita entrar ar na garrafa oxidando o vinho.

Vinhos para os quais imaginávamos uma longa guarda podem se deteriorar em poucos anos, enquanto vinhos que teoricamente deveriam durar pouco podem evoluir muito com o passar dos anos adquirindo aromas e sabores complexos. E até um vinho, que certamente já passou há muito do seu auge, pode ser bebido com prazer, pois não é apenas um sobrevivente, é um vinho que envelheceu com graça e guarda uma ou muitas histórias.

Envelhecer graciosamente ainda é um mistério, tanto para nós quanto para os vinhos.

Saúde, e até a próxima!

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