M

Em uma época sem internet conheci Elizabeth McTarry ou “ M” como eu costumava chamá-la. A pequena inglesa de cabelos vermelhos e ares de realeza conseguiu me carregar para uma viagem à Europa por quase um ano. Era divertido porque se as festas não eram móveis como as do Papa, eram muito baratas. Nas “pontes”, fins de semana emendados com feriados pegávamos nosso bravo Peugeot 202 e nos perdíamos pelas estradas e paisagens européias.

Não precisava fazer reservas, bastava chegar à cidade e procurar um quarto barato. Em Berna uma mulher, com óculos que a deixava com o rosto de uma vespa, nos atendeu no “Bureau Touristique” e sugeriu que pegássemos um hotel maravilhoso por apenas 5 dólares. Apesar da insistência da M, resolvi ficar no hotel indicado.

Antes de irmos ao hotel decidimos provar uma Fondue que até então nem eu nem ela sabíamos o que era, mas o garçom se recusou a servir sob alegação que o dia estava muito quente para comer um prato tão forte. Argumentamos que nós comemos feijoada em pleno calor brasileiro, mas o boçal do suíço não só não sabia como era o calor do Brasil, como não fazia a menor idéia do que era uma feijoada. Tivemos que nos contentar com um mero Bundenerfleisch com vinho suíço. Ela, duas taças. Eu uma garrafa mais alguns martinis.

Saímos tortos do restaurante. Eu por beber demais e ela por tentar me segurar. Chegamos ao hotel indicado por volta da meia-noite. Acabei adormecendo por baixo de um travesseiro macio e refrescante.

A paz durou pouco. Exatamente um minuto.

Um alto-falante começou a dar berros em alemão, faróis percorriam nosso quarto. Não estivéssemos na Suíça, porque ninguém bombardeia os cúmplices, diríamos estar sob ataque aéreo. O barulho de trem deu a dica, o hotel ficava do lado da estação. O ruído era ensurdecedor, mas era só esperar o trem partir. Só que depois veio outro e mais outro. Um a cada minuto. Nunca vi tanto trem na minha vida - estes miseráveis devem estar inundando a Europa toda com relógios cuco - pensei.

M estava irritadíssima. Primeiro com meu desempenho etílico na noite anterior e depois com o ruído trem.

M, falei rindo e com a voz ainda mole como o resto do corpo, não se preocupe. São só 7 da manhã. SETE! Meu número predileto! Sabia que temos um herói chamado Super Sete? Ou seria uma marca de roupa de fantasia... Não lembro! Recepcionista, aqui é o Super Sete! Por favor, assim que esse hotel chegar à Zurique pode nos avisar para desembarcamos?

Obrigada super sete, respondeu M tirando o telefone da minha mão, mas você está mais para um zero a esquerda. Não, dois zeros a esquerda. Você tinha que escutar aquela mulher com cara de vespa?

Visualizei o número na minha cabeça: Zero Zero Sete... Na hora imaginei uma versão infantil da propaganda de sapatos sete cinco dois da Vulcabras . Ao invés do Maluf colocaria algum personagem do Vila Sésamo dando depoimento. De preferência algum narigudo. Ainda bem que viria a fazer matemática, seria um péssimo publicitário. A vida é providencial em alguns casos.

Elizabet Mctarry hoje é Mrs Fleming, casada com um escritor inglês. Ela ainda preserva seu apelido assinando com um majestoso selo de cera: “M”.

De repente uma carta me surpreende. Mrs Fleming me convida para o lançamento do livro de seu marido em Londres e oferece sua casa para me hospedar. O evento seria poucos dias depois das festividades de ano-novo.

Resolvo fazer as malas e começar por Paris. Penso em um rápido roteiro mental que faz meu espírito vibrar com a possibilidade de uma visita ao velho mundo e um reencontro com “M”, uma boa amiga.

Ambos, encontros inusitados.

N.A : Espero que isso dê em algo no mínimo interessante :/

10 comentários:

Anônimo disse...

Olha, se continuar como este, vai ser ótimo! :)
Você é muito bom! Muito, mesmo!

beijinhos

Andrew disse...

BONDerlei, M....super 7, 007 da vulcabras....eita que tá com cara que vai vir 007 por ai.

ops...escrevi muito ? rs

Andre Martin disse...

Ahá! Dali veio a inspiração do Mr.Fleming!!! rsr

"Saímos tortos do restaurante. Eu por beber demais e ela por tentar me segurar." Isto é uma PÉROLA! Adorei!

Chico Soares disse...

Boa sacada. Deve vir coisa interessante mesmo...vou aguardar

Ana disse...

Tá meio nebuloso apesar da historia ser lega. Nao entendi o simbolo do texto. Qual a relacao ?

Anônimo disse...

Bacana

Zainer Araujo disse...

Obrigado a todos pelos comentários !

Um abraço!!

Andre Martin disse...

Também não relacionei a figura com o texto...
Pra mim é a visualização de um sistema binário: 11, 00, 10... faltou o 01, mas como é um só, eu dou desconto... rsrs
Se imagem sem legenda não vale nada mesmo, está valendo meu palpite como sistema binário parcial!...
Até integral prova em contrário, naturalmente. :-p

Zainer Araujo disse...

A imagem é a letra M em Braile

Andre Martin disse...

Ah! Claro! Só um cego para (não) ver isto!!! hehehe

Sinceramente, não me ocorreu... É que ultimamente ando meio analfabeto em braile! rss Preciso me aculturar mais (ou esperar que fotos tenham mais legendas! huahuahua)

Vale a pena experimentar