Série Homem Rubinato: O primeiro cliente a gente nunca esquece.


Juça que havia já se tornado uma celebridade no mundo dos vinhos (essa foto faz parte de um dos seus disputados kits de treinamento em vinho vendidos apenas nos eventos em que participa para evitar pirataria das informações em blogs de vinhos) resolveu expandir seus conhecimentos e comprou um dicionário inglês - português e um livro que encontrou em um sebo no centro da cidade chamado “Build a Cellar for dummies” .

Pouco tempo depois já se apresentava como expert na construção, manutenção e administração de adegas complexas atuando em clientes no Japão, China e Indonésia e com rápidas passagens pelos caminhos das Índias, Londres e Albuquerque.

Pouco menos tempo depois já apareceu seu primeiro cliente. Morando em um luxuoso apartamento em Alphaville, caixas de vinho se amontoavam no quarto da empregada que dormia em um colchonete sobre elas.

Estou desesperado senhor Juça, confessou o cliente, esta promiscuidade adega-empregada me obriga a só comprar vinhos em caixas de madeira, que são mais caros, a Genoveva não consegue mais limpar o rodapé por causa da dor nas costas e, o mais grave, já comemos dois “Coq au Lafite”.

É...muito grave, sentenciou o expert, e tem mais: O vinho nãp pode ser guardado em caixas porque elas permitem o aparecimento de cupins que comem as rolhas e os defensivos aplicados na madeira dão ao vinho um gosto desagradável, as vezes chega a ser fatal.

Se a madeira é tratada com anti-cupim, como podem aparecer cupins? Perguntou o cliente. Esta não estava no livro e Juça improvisou: É que o cupim brasileiro é bicho ruim e tira de letra esses defensivos franceses que eles passam nas caixas que é especifico pra cupim europeu.

O apartamento era realmente grande com muitas paredes sem janelas, de modo que o Juça bolou uns painéis corrediços, a 40 centímetros da parede, instalou um “breezaire” para manter a temperatura, prateleiras de ferro arredondado pra facilitar a circulação do ar e adicionou um software para localizar as garrafas.

No mês seguinte, o cliente ligou, a adega ficou ótima, mas sobraram muitas garrafas. Vamos falar com o síndico e fazer uma adega no hall dos elevadores, sugeriu Juça. Não precisa, o síndico sou eu, respondeu alegre o cliente.

Mas ainda sobraram garrafas porque o cliente era compulsivo e sempre que arranja lugar pra todas, comprava mais.

Juça ofereceu uma nova idéia. Fez um minucioso levantamento dos restaurantes que permitiam aos clientes guardar vinhos, estabeleceu um programa de jantares, despesas reembolsáveis – claro – e em cada um deles negociou o aluguel de um escaninho para o cliente. Aproveitou também para levar a esposa pra jantar nos melhores restaurantes da cidade. A secretária também aproveitou umas e outras, embora neste caso ele tivesse de arcar com as despesas do Motel.

Mas o cliente voltou a ligar. A Receita Federal estava levando os usuários de adegas em restaurantes e cruzando o valor dos vinhos com a declaração e a explicação de que os onze Petrus 1961 só tinham valor sentimental porque a data de validade estava vencida, não havia convencido o Leão.

Juça propôs fazer uma adega no sítio, o cliente não tinha sítio, tinha apartamento em Ubatuba, que foi vetado porque na praia dá muito mofo e sempre falta luz. Venderam o apartamento de Ubatuba e compraram um sítio em Vinhedo, porque Juça achava que com este nome fechava uma cabala positiva.

Fizeram a adega dentro das melhores praticas do ITIL, num local amplo, com um potente climatizador e levaram todos os vinhos que estavam espalhados pelos restaurantes pra lá. A coleta dos vinhos redeu mais uma rodada de jantares para Juça e a esposa. A secretaria não, porque não podia beber por estar grávida.

O cliente ligou (Relaxem... ele vai ligar até o fim da história). O vizinho do sítio foi assaltado e os ladrões levaram toda sua coleção de wiskies. Juça argumentou que ninguém roubava vinhos e o cliente concordou, mas temia que os ladrões irritados pela falta de wiskies quebrassem os vinhos por vingança.

Juça , eficiente e expert, prontamente mandou colocar uma porta de aço com fechadura reforçada com leitura de íris e digital. Criou uma ante-sala com uma falsa adega e colocaram cerveja, wisky e cachaças para os ladrões.

Acho bom colocar uns vinhos também, porque como vinho está na moda é possível que os ladrões também queiram algumas garrafas. Sugeriu sensatamente nosso expert.

Novamente, ligou o cliente.

Os ladrões haviam entrado, arrombaram a porta de aço da adega com um maçarico, quebraram uma garrafa e escreveram com o vinho na parede: Cadê os “dólar” mano? Na próxima a gente quebra tudo.

Ainda bem, ponderou Juça, que só quebraram uma garrafa.

É, só uma. Mouton 1945. Magnum, aquiesceu o cliente.

Juça decidiu substituir a fechadura por um comando por voz, de modo que a porta ficou lisa como uma parede e foi disfarçada com uma daquelas fotos ampliadas com paisagem das montanhas suíças que todo mundo usa pra disfarçar portas.

O cliente levantou uma dúvida. Os ladrões poderiam ouvir o motor do climatizador atrás da parede de aço. Juça sorriu: Eu já havia pensado nessa possibilidade. Vamos colocar um interruptor na porta da adega falsa. Quando ela estiver aberta, o condicionador não funciona.

E adivinhem... O cliente ligou. Os ladrões entraram e só roubaram a adega falsa, mas deixaram a porta aberta e sem refrigeração. Os vinhos foram pro brejo. “Acho que agora o senhor não tem mais idéias, não “seu” Juça” ?

Engano seu meu amigo. Idéias eu as tenho e muitas, mas vamos ao que interessa: Será que você ainda tem vinhos?

4 comentários:

Hugo de Oliveira disse...

Lembro do tempo que trabalhei em uma loja...jamais esqueço o meu primeiro o meu cliente...rsrrsrs


abraços


HUGO

Chico Soares disse...

O cara é bom, o que não eh bom é o cliente

Andre Martin disse...

Hahaha. O "aproveitamento" da secretária foi ótimo! ... apesar de custoso.

"A vingança dos vinhos da vizinhaça". Excelente! rsss

Adegas com práticas de ITIL... KKKKKK

Afinal, o cliente pagava por idéia, ou era "time material mode"?

Acho que caberiam melhor travessões ao invés de parêntesis para o "Relaxem... ele vai ligar até o fim da história". E não é que a profecia (ou praga?) se cumpriu??

Zainer Araujo disse...

Pois é...preciso me atentar a estas regras. Qto a consultoria do Juça...pelo que eu conheço acredito que era por ideia ;)

Vale a pena experimentar